Imagen da cerimónia protagonizada pelo Presidente da República de Angola, João Lourenço, depondo em memória e homenagem uma coroa de flores junto ao busto de Agostinho Neto na praça dos Heróis Africanos, em Havana, Cuba, no início da visita de estado que levou a cabo naquele país irmão.
Imagen da cerimónia protagonizada pelo Presidente da República de Angola, João Lourenço, depondo em memória e homenagem uma coroa de flores junto ao busto de Agostinho Neto na praça dos Heróis Africanos, em Havana, Cuba, no início da visita de estado que levou a cabo naquele país irmão.
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Bajo la mirada silenciosa de Agostinho Neto…

SOB O OLHAR SILENCIOSO DE AGOSTINHO NETO…

A visita de estado que o terceiro Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, acaba de fazer à irmã Cuba, deu praticamente início de forma inspirada e inspiradora, com a simbólica deposição duma coroa de rubras flores junto ao busto do Presidente-Fundador da República Popular de Angola, António Agostinho Neto, numa breve cerimónia realizada na Praça dos Heróis Africanos, em Havana.

Quis o Presidente João Lourenço começar por honrar a memória e o passado de Angola, de África, de Cuba Revolucionária e de toda a libertária cultura transatlântica comum, rendendo em solo cubano essa justa homenagem a alguém que esteve nos arcos da heroica ponte de irmandade África-Cuba, alguém que foi um dos mais corajosos arquitectos-combatentes da luta de libertação no continente-berço contra o colonialismo e o “apartheid”…

Sob o olhar silencioso de António Agostinho Neto decorreu assim essa visita de estado de dois dias, com a responsabilidade da memória animada por gerações e gerações de africanos e afrodescendentes vitoriosos sobre a escravatura, o colonialismo e o “apartheid”, de africanos por isso mesmo tão ávidos de vencer os desafios do presente e do futuro…

A Operação Carlota nesse sentido, é um rio inesgotável de fluxos e refluxos, de torrentes caudalosas e intrépidas e de remansos recolhidos nas perenes alvoradas dos tempos…

Sob o olhar silencioso de António Agostinho Neto, houve assim uma autêntica e intemporal prova de vida entre povos irmãos, prova de vida que transcendeu o momento e a emoção, algo que se distende desde o passado e nos obriga indelevelmente a assumir com humildade e solidariedade internacionalista, a água tumultuosa deste presente e do futuro iluminado pelas mais vitalmente justas aspirações!

 

01- Sob o olhar silencioso de Neto, o terceiro Presidente angolano quis sublinhar tudo o que foi vencido, mas também a responsabilidade de no presente se colocar África no lugar de sustentável respeito que o continente-berço da humanidade merece, entre as nações, os estados e os povos… uma sensibilidade que Cuba transmite por todos os seus sensíveis poros, pelos poros dum povo que de geração em geração assume corajosamente pátria, apenas por que pátria, com os olhos dos oprimidos de todo o mundo, é humanidade!

… Pátria é humanidade de há 60 anos, por que de há 60 anos que essa pátria mesmo sob o efeito do mais perverso dos bloqueios, deixou de ser utopia e aqui em África sabemos quanto, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, Cuba, essa mesma pátria, tem vindo a contribuir para se lutar pelas mais nobres causas da humanidade, pelas causas mais sólidas dos direitos humanos fundamentais que antes historicamente sempre foram, em nome da “civilização”, inibidos, subvertidos e vilipendiados!

 

02- Houve um tempo que essa luta teve de se levar a cabo de armas na mão, por que houve alguns que não quiseram conferir aos africanos esses fundamentais direitos de, por suas próprias mãos, dirigirem com sabedoria e honestidade seus estados, suas nações, seus povos e poderem livre e democraticamente optar pelo seu destino!

Se os impérios coloniais tinham os seus dias contados com o final da IIª Guerra Mundial, nem por isso acabaram as renitências, as ambiguidades, as hipocrisias, os cinismos, as ingerências opressivas, as manipulações e a velada ou aberta guerra psicológica neocolonial, pois a Conferência de Berlim abria e continua ainda a abrir, espaços a reinterpretações e reinterpretações e novas reinterpretações, ao sabor agora dum império de hegemonia unipolar que nem seu desajuste humano e desrespeito para com a Mãe Terra, alguma vez pretende reconhecer!…

 

03- As reinterpretações contemporâneas, geradas no ventre duma inquinada globalização propiciada pelo capitalismo financeiro transnacional e neoliberal, um capitalismo voraz e capaz de providenciar assimilações para melhor manipular, iludir, alienar e dividir, são alguns dos maiores riscos decorrentes em África.

Esse comprovado diagnóstico de práticas de conspiração, indicia que o poder que quer continuar como dominante, pretende ainda mão-de-obra barata ou escrava e matérias-primas para sustentar as suas indústrias inscritas nos parâmetros da revolução industrial e agora da nova revolução tecnológica inerente ao seu bárbaro carácter lesa-humanidade!

Pretende também que os estados africanos continuem dependentes de monoculturas, de indústrias extractivas, de asfixia económica e financeira própria duma ultraperiferia que África jamais escolheu ser por opção independente, soberana e democrática!

Ainda em nome da marca de “civilização”, quanta barbárie tem sido projectada como impacto dilacerante e transversal sobre o continente-berço!

 

04- Um “soft power” engenhosamente estimulado para criar jogos transversais subversivos nas sociedades africanas, promove velada ou aberta guerra psicológica e agentes de seu interesse e conveniência nas disputas para alcançar e manter o frágil poder de estado em África, algo que continua a estar na ordem do dia!

Mesmo em relação a esta visita de estado, alguns alinharam publicamente nesse tipo de correntes, ementas e enredos, produzindo as mais diversas mensagens comunicacionais ditas “independentes”, quiçá em nome de direitos humanos de ocasião que manipulam para fazer por desconhecer os direitos humanos fundamentais, os inalienáveis direitos humanos à autodeterminação, à independência, ao exercício de soberania e ao próprio poder em democracia representativa (que jamais foi reconhecida pelo e com o “apartheid”)!

Quantos não continuam pois a passar mensagens em órgãos de comunicação pública de Luanda, que recorrendo ao populismo e a manipulações sustentadas por máfias, alegadamente em nome do povo angolano procuram ainda subverter com seus argumentos as decisões do estado que começou a assumir inequivocamente a luta contra a corrupção e procura saídas salutares para suas opções de vida social?…

 

05- Em cima da visita de estado do Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço a Cuba, as relações de irmandade entre os dois povos, angolano e cubano, estão por esses meios a ser postos em causa nas relações estado a estado em função das decisões que estão a ser tomadas em especial no âmbito da saúde!

Os que assim fazem perderam-se mesmo num exercício que, de tantas reinterpretadas alienações e ilusões, deixaram de facto de considerar que o estado é apenas o fiel depositário dos interesses e das legítimas aspirações do povo e, recusando-se a respeitá-lo como tal por via de argumentações de conveniência, pretendem esconder que deixaram de há 33 anos a esta parte de o ter defendido com rigor, com probidade, com honestidade, com dignidade, com sabedoria, com vital segurança…

 

06- Assim esta visita de estado do terceiro Presidente angolano a Cuba irmã de África, a Cuba irmã de Angola, uma visita assumida como uma autêntica prova de vida transatlântica sob o olhar silencioso de Neto, vem pôr em causa o hiato que foi sendo produzido paulatinamente em todas as transversalidades da sociedade angolana de há mais de 33 anos a esta parte, quando o estado deixou paulatinamente de merecer o respeito que outros interesses e conveniências quiseram subverter com as tão ambíguas quão assimiláveis cumplicidades locais, “em crescendo”…

Se o fim do “apartheid”, precisamente na altura do colapso do socialismo na Europa do Leste e URSS, foi um sinal para o poder dominante ideologicamente adormecer os africanos (os angolanos incluídos) e tornar possível o choque neoliberal que provocou a “Iª Guerra Mundial Africana”, na sequência aliás dos impactos previamente criados sobre a região dos Grandes Lagos e sobretudo sobre o Ruanda, a terapia neoliberal que se lhe seguiu, tirando partido do desastre e do torpor colectivos, motivou em Angola o desrespeito pelo estado de tal forma que a corrupção tornou-se cancerígena a ele, contagiando em doses cada vez mais intensas a sociedade, algo que continua a ser sustentado por via de meios em relação aos quais é urgente saber como foram realmente financiados, montados e o que neste momento de facto representam!

Este já começa a ser um fenómeno que se vai aproximando do que aconteceu no Brasil com as motivações subjacentes à eleição cavernícola de Bolsonaro e quando previamente foi afastada Dilma e conduzido à prisão Lula!…

 

07- A riqueza derivada de processos endémicos de corrupção em torno do poder chegou a ser a outra face da mesma moeda de ideologias injectadas por pseudorrevolucionários, práticos de “coloridas primaveras” a sul do Equador, que tiveram o condão de pretensamente atacar o poder de forma oportunista e seguindo cartilhas de guerra psicológica ao sabor de Gene Sharp, de George Soros e de outros “filósofos” projectores das manipulações ao serviço do poder global arrogantemente dominante!

Em relação a uns e a outros, os justos não se podem equivocar, por que essa moeda, com essas duas faces, jamais os puderam comprar, enganar, corromper, ou subverter!

Por essa altura defendi o poder angolano em função dos direitos fundamentais, mas nem por isso me deixei enganar, ou enredar pelos equívocos!

Há quem, no âmbito do poder dominante e nesses termos, queira entre os africanos reinterpretar por via de sucessivas práticas de conspiração, a Conferência de Berlim em pleno século XXI e África até já começou a ser vulnerável e sangrentamente redesenhada em função dessas correntes avassaladas!…

 

08- Esta consciência crítica contundente da minha parte, não inibe pois que mesmo nessas conjunturas tão adversas de choque e terapia neoliberal e suas transversalidades minando o poder e a sociedade, disseminando alienação, caos, terrorismo, confusão, ou desagregação, deixasse de em Angola ser dever patriótico, em nome dos direitos fundamentais a que me refiro e não dos “direitos humanos” produzidos por deliberadas correntes de guerra psicológica, defender o estado angolano de planos subversivos ainda maiores, que se pudessem tornar ainda mais nocivos para esse estado, para a identidade nacional e para o povo angolano enquanto dilecto alvo e vítima da devassa dum deliberado caminho neocolonial!

Defender o poder dum jovem estado de pouco mais de 40 anos nessas condições, obriga à sublimação da consciência crítica, mas não inibe a capacidade de se aprender com os próprios erros e saber apontá-los com pedagogia, tendo em conta as decisões erróneas sob a aparência de legítimas ou mesmo de legais, algo que foi consumado a partir de sucessivas transversalidades induzidas a ponto de se tornar opção contra a natureza do próprio estado, que acabou por ser cada vez mais alienado de si próprio em proveito de arrojadas máfias carregadas de ambição!

Não inibe também e portanto a permanente necessidade pedagógica de voltar-se a respeitar o estado angolano à altura dos direitos fundamentais que lhe assistem enquanto fiel depositários dos interesses e aspirações do povo angolano e a capacidade para o revitalizar, relativizando para não cai em mais armadilhas, quer de inconsistentes alienações e ilusões, quer de propositadas e oportunistas ingerências, manipulações ou mesmo de injectadas radicalizações.

 

09- Sob o olhar silencioso e substantivo de Neto, conforme ao cerimonial crucial em solo cubano, o terceiro Presidente de Angola lança a pedra dum saudável reencontro com a história, autêntica prova de vida para angolanos e para a irmandade entre angolanos e cubanos, a começar pelo respeito que se deve às imprescindíveis relações estado a estado!

Na saúde, os mercenários do mercado neoliberal além de atentarem contra a vida do seu próprio povo ao negarem a saúde como um direito humano universal por que estão condicionados pelo lucro fácil e à mais hedionda avidez capitalista, agora usam canais de comunicação que antes de tudo o mais é dever do estado angolano avaliar como foram implementados, tal como tantas clínicas e farmácias privadas e seu arsenal de equipamentos e medicamentos!

O fenómeno do desvio de medicamentos do estado angolano, foi dos primeiros fenómenos nocivos vividos pela Angola independente, praticamente logo em cima do 11 de Novembro de 1975…

Em Angola basta de saúde mercenária ao serviço exclusivo do mercado e os seus mentores devem ser postos imediata e claramente em cheque, devendo-se fazer toda a luz sobre este candente assunto!

A história obriga a que se saiba estar à altura desse tão digno, quão lúcido, quão responsável, quão patriótico desafio, por que sem dúvida, para todos os justos por que incorruptíveis, lúcida e convictamente, pátria é mesmo humanidade!

Luanda, 4 de julio de 2019.


(Imagen de portada: Imagen da cerimónia protagonizada pelo Presidente da República de Angola, João Lourenço, depondo em memória e homenagem uma coroa de flores junto ao busto de Agostinho Neto na praça dos Heróis Africanos, em Havana, Cuba, no início da visita de estado que levou a cabo naquele país irmão)

 

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