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Malí se convirtió, armas en mano, en la vanguardia de la lucha de liberación en África. Martinho Júnior

MALI CONSTITUIU-SE, DE ARMAS NA MÃO, EM VANGUARDA DA LUTA DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA

“Mas a luta atual, ainda mais que a anterior, são as massas que a travarão, os povos que a travarão (aplausos); o povo terá um papel muito mais importante do que então; nesta luta, indivíduos e líderes contam e contarão menos do que no passado.

Esta epopéia que nos espera, é a massa faminta de índios, camponeses sem terra, trabalhadores explorados que a escreverá; são as massas progressistas, os intelectuais honestos e brilhantes que abundam em nossas dolorosas terras da América Latina. Luta de massas e ideias. Epopeia cujos protagonistas serão os nossos povos que o imperialismo maltratou e desprezou, os nossos povos que até agora ignorou, mas que começam a fazê-lo perder o sono. O capital monopolista ianque nos via como um rebanho indefeso e dócil; mas começa a se assustar com esse rebanho, esse rebanho gigante de duzentos milhões de latino-americanos no qual já vê seus coveiros (aplausos).

Nunca fizemos caso, ou muito pouco, dessa humanidade trabalhadora, desses explorados, desumanizados, miseráveis, conduzidos ao porrete e ao chicote. Desde os primórdios da independência, seu destino é o mesmo: sejam índios, gaúchos, mestiços, zambos, quadradões ou brancos sem bens e renda, toda aquela massa humana que forjou uma «pátria» da qual nunca gozou, que foi ceifada aos milhões, que foi despedaçada, que arrebatou a independência das metrópoles em benefício da burguesia, que se manteve no momento da divisão, esta massa continua a ocupar o degrau mais baixo em termos de serviços sociais, continua a morrer de fome, de doenças curáveis, de descuido, porque os bens elementares nunca foram para eles: um pão, uma cama de hospital, o remédio que salva, a mão amiga”… –

Declaração de Havana: a resposta de Cuba em 4 de fevereiro de 1962 à sua expulsão da OEA em Punta del Este! – https://haitiliberte.com/declaration-de-la-havane-reponse-de-cuba-le-4-fevrier-1962-a-son-expulsion-de-loea-a-punta-del-este/.

 

SOBRE A CONFLUÊNCIA DESESTABILIZADORA QUE RECAI EM CHEIO SOBRE O SAHEL.

Nos dias de hoje são múltiplas e ainda intensas as confluências que de forma interconectada concorrem para a colonização do Sahel; de entre elas há a realçar:

a) As ingerências, manipulações e manobras sociopolíticas e económicas que actuam em função de amarras coloniais que continuam a persistir século XXI adentro;

b) A expansão caótica, de há 12 anos a esta parte, dos resultados da destruição da Jamairia Líbia;

c) A injecção corrente do “diktat” neocolonial segundo o modelo do hegemon aplicado desde a inauguração do Africom em 2008.

Essas confluências estão todas implicadas nos processos de neocolonização de África, minando a segurança comum em fronteiras traçadas pelas potências coloniais na Conferência de Berlim!

a) Em relação às ingerências, manipulações e manobras sociopolíticas e económicas que actuam em função de amarras coloniais destacam-se:

  • A continuidade da colonização do Sahara por conluio entre as monarquias espanhola e marroquina, visando explorar as riquezas naturais do país determinando impunemente o saque e subjuga a mão-de-obra saharaoui, mantida no último escalão da estratificação colonial;
  • A continuação da existência da moeda colonial Franco CFA, que amarra as economias da vasta região da África Ocidental e Sahel ao espectro da “FrançAfrique” desde a disseminação das redes Foccard, (que assimilaram o que de mais humanamente retrógrado resultou da derrocada colonial na Argélia).

Essa é, por si, uma situação âncora que amarra a região e o Mali ao passado colonial que não deixou de estar presente e se manifestou de forma armada pela via da Operação Barkane!

b) Em relação à expansão caótica, de há 12 anos a esta parte, dos resultados da destruição da Jamairia Líbia:

As opções derivadas da agressão que provocaram o colapso da Jamairia Líbia e o assassinato do seu líder Kadafi, impactaram o processo sociocultural, provocando rupturas no frágil equilíbrio entre nómadas e sedentários particularmente ao longo do rio Níger (abarcando o Mali, o Burkina Faso e a Nigéria) e no que diz respeito ao Mali:

  • Provocaram o retorno dos touaregs que proclamaram na asa norte do território a Azawad, o que foi imediatamente aproveitado pelo artificioso radicalismo islâmico emanado desde as correntes que compõem os Irmãos Muçulmanos, elas mesmo financiadas por interesses filtrados pelas inteligências “ocidentais” desde a Arábia Saudita, do Israel sionista e de outras monarquias arábicas, entre as quais se destaca a do Qatar (implicada na destruição da Jamairia);
  • Provocaram ainda o florescimento do contrabando e de tráficos por todo o Sahel fugindo ao controlo dos frágeis governos centrais instalados, ou seja, criando rupturas económicas “informais” em cadeia, que contribuíram para desestabilizar ainda mais os ténues relacionamentos humanos, afectando cada vez mais comunidades;
  • Determinaram que os únicos empreendimentos capazes de consolidada sustentação fossem os ligados às desenfreadas explorações mineiras neocoloniais, como a da Areva no Níger (exploração do urânio que alimenta a indústria nuclear francesa e europeia).

c) Em relação à injecção corrente do “diktat” neocolonial segundo o modelo do hegemon aplicado desde a inauguração do Africom em 2008:

  • Provocaram a instalação da tendência retrógrada conjugada do fluxo de vassalos neocoloniais no Magrebe, na África Ocidental e no Sahel, colectando os interesses representados pelas coroas espanhola e marroquina, assim pela “FrançAfrique” com todos os expedientes colocados à disposição do “guarda-chuva” Africom;
  • Estimularam as amarras económicas dos vassalos, de forma a que o saque continuasse a fluir na direcção da Ásia Ocidental tomada pelo hegemon;
  • Estimularam tacitamente as redes jihadistas (radicais islâmicos), de forma a instalar as forças militares da antiga potência colonial (“FrançAfrique”) como uma forma não de combater o caos e o terrorismo, antes de gerir o pântano da conveniência neocolonial;
  • Procuraram isolar a Argélia, tentando impedir que ela viesse a influenciar ou ocupar de certo modo o lugar deixado no vazio da Jamairia Líbia em relação ao Sahel;
  • Destruíram qualquer veleidade no sentido da criação duma moeda africana e torpedearam sobremodo as possibilidades de desenvolvimento sustentável de África.

Os factores de insegurança multiplicaram-se de tal ordem que impedem o exercício conducente à autodeterminação, à independência e à soberania, com o dedo apontado à potência (neo) colonial no momento extraordinariamente dialético da mudança de paradigma!

 

SOBRE A RESISTÊNCIA DO MALI

O Mali sentiu à uma todo o peso da devastação da barbárie só possível por via do impacto neocolonial e procurou, no padrão típico da “democracia representativa”, equacionar a defesa do frágil estado com capital em Bamako.

O neocolonialismo todavia é tão opressivo que a cada sufrágio eleitoral emergia um fantoche saído de sensibilidades políticas tentacularmente vassalas, elas próprias filtradas pelos processos de ingerência e manipulação “ocidental” sustentados pela capacidade financeira das corporações mineiras e por subtis sistemas inspiradas nas redes Foccard.

Com a presença dos factores radicais de desestabilização por seu turno assentes nas redes islâmicas artificiosas da Al Qaeda e do Estado Islâmico, até a presença militar da “FrançAfrique” se adequou tacitamente, não como uma capacidade para vencer esse tipo de obstáculos, mas para gerir os contenciosos aptos aos desequilíbrios.

Tudo isso se tem vindo a traduzir em cada vez mais perdas para as deliberadamente fragilizadas forças armadas da região, entre as quais as do Mali…

Paulatinamente nessas forças armadas, os oficiais foram-se apercebendo da raiz dos problemas da insegurança, do histórico das diversas correntes que compõem (algumas delas tacitamente) o jogo neocolonial, da antropologia do caos no Magrebe, na África Ocidental e no Sahel e tiveram a coragem de assumir o volte-face perante essa situação: há que lançar os parâmetros duma nova luta de libertação em África, de certo modo reforçando a luta do povo saharauí em benefício dos seus próprios povos, com os quais há que se identificarem resolutamente numa estreita aliança cívico-militar!

Em cenários da região como os do Mali, do Burkina Faso e da Guiné (Conacry), foram-se estabelecendo condições objectivas e subjectivas para, a partir das cinzas desencadeadas pelo caos e o terrorismo, se começarem a emergir alianças cívico-militares que podem vir a corresponder não só às exigências das resistências, mas capazes de libertação do neocolonialismo, o que se vem conjugando com os facdtores externos de amplo espectro que estão a conduzir a humanidade para a mudança de paradigma, com a emergência do multilateralismo e sua panóplia de opções capazes de lógica com sentido de vida!

O Mali é uma manifestação da esperança no multilateralismo e suas opções e por isso está em ruptura com tudo o que diga respeito ao neocolonialismo, inclusive com o padrão de “democracia representativa” que choca com as possibilidades da aliança cívico-militar imprescindível para a libertação do neocolonialismo!

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Más explotación y ganancias para las mineras: las promesas de EEUU a África – https://misionverdad.com/traducciones/mas-explotacion-y-ganancias-para-las-mineras-las-promesas-de-eeuu-africa.

 

UMA ÁFRICA TOLHIDA PELA CONFUSÃO.

África não amadureceu para a premente necessidade de vigência de legítimas alianças cívico-militares patrióticas e capazes de libertarem os povos do neocolonialismo e da hegemonia unipolar!

Em alguns casos os estados africanos estão mais amarrados ao colonialismo e neocolonialismo que livres e capazes de Não-Alinhamento ao nível das emergências multilaterais, ou seja, longe de corresponderem à mudança de paradigma (basta dar uma olhada para o quadro de abstenções a cada votação na Assembleia-Geral da ONU, em que se deveria, a propósito da Ucrânia, condenar desde logo todas as “opções ocidentais” que advêm do domínio hegemónico desde 1945, em reforço da base de acção colonial que foi criada com a Conferência de Berlim nos finais do século XIX!)

Por essa razão a evolução da situação no Mali, no Burkina Faso e na Guiné Conacry enquanto um oportuno caso de estudo, corresponde ao de vanguardas elas mesmo frágeis, mas potencialmente fortalecidas pela ética, pela moral, pela coerência e pela experiência de outros povos, alguns deles africanos!

Se conseguirem corresponder ao desafio de “um só povo, uma só nação” incompatível com “representatividades” exclusivas de malparadas elites que repartem entre si e enquanto vassalas o jogo neoliberal, então conseguirão consolidar seus processos em ruptura!

Alianças cívico-militares respondem vitoriosamente por Cuba Revolucionária e pela Venezuela Bolivariana…

Alianças cívico-militares respondem evocando “um só povo, uma só nação” na Federação Russa, quando sua existência está em risco e em curso, sem outra alternativa, mais uma Grande Guerra Pátria!…

Angola, a título de exemplo, enquanto República Popular experimentou um dia um embrião de aliança cívico-militar quando partiu para a luta armada generalizada contra o “apartheid” e seus fantoches, apesar desse embrião de liberdade acabar formalmente com o Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991 e a rendição ao neoliberalismo por parte do Presidente José Eduardo dos Santos que antes já havia optado por soluções capitalistas ao invés das socialistas (conforme ao SEF, instaurado em 1987, logo a seguir ao golpe de estado palaciano ocorrido e implementado dentro dum instrumento de poder como a Segurança do Estado, em 1986).

Tornado num artificioso “campeão da paz”, o actual governo angolano não tem sustentabilidade ética, moral e cívica se procurar impor o padrão da “democracia representativa” que inibe a legitimidade da continuação da luta de libertação de África do neocolonialismo vigente, que aliás a determina como ultraperiferia económica!

O grupo Mali, Burkina Faso e Guiné Conacry, alvo de sanções da Unidade Africana, perder-se-á se não conseguir motivar suas próprias alianças cívico-militares, alterando a favor da participação e do protagonismo o carácter de suas democracias e a fluência de sua libertação do neocolonialismo!

“Um só povo, uma só nação” é o desafio maior para cada um deles!…

… Mesmo assim a ruptura está a apanhar África tolhida pela confusão disseminada pela hegemonia unipolar, mas a paulatina energia emanada ela emergência multilateral desde a Ásia, é um sustentáculo para as suas mais legítimas aspirações de patriotismo, de libertação, de democracia e de paz!

Círculo 4F, Martinho Júnior, 24 de Fevereiro de 2023.

CÍRCULO 4F.


Imagen de portada: Depois de Mali e Burkina Faso, a França perderá outros «amigos» na África? – https://afrique.lalibre.be/75525/apres-le-mali-et-le-burkina-faso-la-france-va-t-elle-perdre-dautres-amis-en-afrique/;

 

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