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África en el corazón bolivariano de Venezuela. Martinho Júnior

ÁFRICA NO CORAÇÃO BOLIVARIANO DA VENEZUELA

Das grilhetas dum passado não tão distante, amor e liberdade perduram num novo dia a nascer.

A mudança de paradigma colhe essa experiência Bolivariana, colocando-a num patamar de vanguarda ao qual se unem as experiências revolucionárias Martiana de Cuba e a Sandinista da Nicarágua!

A semana de África que a Venezuela partilhou com o continente-berço, ao ser assinalada também em Luanda connosco presentes, transporta-nos à oxigenação multilateral e emergente própria de nossos dias em que a luta por um mundo mais justo, mais coerente e mais equilibrado ganhou um novo vigor!

 

XVIIª SEMANA MUNDIAL DE ÁFRICA.

A Venezuela Bolivariana honra todos os anos as razões históricas e antropológicas inerentes à sua própria identidade patriótica, irradiando essa luz por toda a América Latina e por África.

Não se fecha sobre si, não guarda para si a riqueza sociocultural tricontinental do seu cadinho humano e, graças à democracia participativa e aberta a todos os protagonismos que o engenho e a arte do Comandante Hugo Chavez fez sintonizar com as lutas do passado onde Simon Bolivar se tornou referência patriótica incontornável, a mensagem anual ganha neste momento um novo fôlego com a mudança de paradigma, marcando a emergência e a multilateralidade no Sul Global particularmente do espaço intercontinental do Atlântico ao Índico – “Venezuela e África consolidam a diplomacia dos povos”!

Um ambiente multicultural como o do Sul Global, propicia dialeticamente processos de integração em busca de unidade, face à desagregação propagada pela persistente ideia de domínio por parte da barbaridade que constitui a hegemonia unipolar!

O capitalismo divide para imperar, o socialismo Bolivariano integra, para melhor levar a cabo a luta contra o subdesenvolvimento, para melhor equacionar a sustentabilidade da emergência e para fortalecer as linhas antropológicas, sociológicas e psicológicas inerentes a esse amplo processo que começa a ir para além da resistência, vencendo as inércias a que os povos do Sul Global haviam sido condenados!

A semana de África, que este ano ocorreu de 23 de Maio até ao fim do mês, tem como referência o 25 de Maio, Dia de África!

Em Angola foi uma sábia maneira de preencher um vazio que ano a ano se quer mais rico.

Em África, por exemplo, desconhece-se a revolução dos escravos do Haiti e urge que ela se torna muito mais conhecida!

Dada a solidariedade haitiana com a gesta de Simon Bolivar, julgo que a próxima Semana Anual pode trazer ainda muito mais informação sobre o contributo afrodescendente nas lutas de há mais de 200 anos a esta parte, que integraram torrentes de revolucionários, uma parte dos quais escravos afrodescendentes, até por que houve uma interinfluência em particular unindo o Caribe com a massa continental latino-americana nesse processo histórico e antropológico extraordinário!

Aí cabem também as figuras do Comandante Hugo Chavez e do Comandante Fidel, este último que protagonizou a charneira da luta armada de libertação em África, de Argel ao Cabo, contra o colonialismo e contra o “apartheid”!

 

EXPOSIÇÃO DA IDENTIDADE VENEZUELANA-AFRICANA.

A Embaixada da Venezuela Bolivariana em Luanda, tendo como parceira a Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos, marcando a semana, expôs muitos dos vínculos comuns, com a inauguração duma Exposição alusiva à africanidade e ao seu papel na luta dos povos pela sua autodeterminação, independência e soberania!

C:\Users\vítor\Desktop\INFO\29 MAI 22\FTyvh-QWAAIKcI-.jpgA exposição foi portanto um desfile de memórias: por um lado dos afrodescendentes que integraram a gesta revolucionária das independências na América Latina e no Caribe, em muitos casos vencendo a escravatura e a opressão, por outro os próceres das independências africanas, evocando as memórias de luta que cada um deles protagonizou!

O Comandante Hugo Chavez e o Presidente Nicolas Maduro tocam com a sensibilidade Bolivariana, o coração da Venezuela e do seu legado histórico, como o coração da África combatente que venceu colonialismo e “apartheid” em quase todas as latitudes do continente!

Seria fastidioso enumerar todos os quadros da exposição, (não seria fastidioso detalhar todo o arsenal de memórias históricas, antropológicas e sociais evocadas), mas não posso deixar de aqui tocar o exemplo dum afrodescendente que no espaço físico-geográfico da Venezuela foi percursor e antecipou a luta pela independência: José Leonardo Chirino, um “zambo”, filho de mãe ameríndia, livre e de pai africano escravo.

C:\Users\vítor\Desktop\MJ - MAI 22\ÁFRICA - 03..jpgNascido a 25 de Abril de 1754, ele foi o líder da rebelião de Coro (fazenda Macanillas), integrando a panóplia de rebeliões de escravos que ocorreram no ano de 1756 por todo o Caribe, em Granada, em Santa Lúcia, em São Vicente, em Curaçao, na Dominica, na Guiana, em Trinidad, na Jamaica e no Haiti!

A rebelião de Coro teve os seguintes objectivos primários:

  • A aplicação dum novo sistema legal (a “Lei Francesa”, inspirada na Revolução Francesa) visando a abolição da monarquia e do colonialismo, fazendo eclodir repúblicas democráticas independentes;
  • A libertação de todos os escravos africanos e a abolição da escravatura;
  • A abolição do tributo forçado de pagamentos pela colonialismo espanhol a toda a população indígena;
  • A abolição da supremacia branca, em prejuízo dos outros (ameríndios e afrodescendentes).

A revolta de Coro foi dominada e José Leonardo Chirino foi traído, preso, julgado e condenado à morte pela forca com seu corpo esquartejado, (execução a 10 de Dezembro de 1796).

A raiva colonial espanhola foi de tal ordem, que os filhos de Chirino e de sua esposa escrava (Maria de los Dolores) foram detidos, escravizados e vendidos como tal nos leilões da época, em Caracas!…

 

ESPECTRO DIPLOMÁTICO EM LUANDA.

Alguns representantes diplomáticos fizeram-se representar no acto da inauguração da Galeria de Memórias que marcou XVIIª semana da África da iniciativa Bolivariana.C:\Users\vítor\Desktop\MJ - MAI 22\ÁFRICA - 02..jpg

É claro que nenhuma das antigas potências coloniais se fez representar e isso torna-se efectivamente relevante em função da mudança de paradigma, pois é um barómetro indicador de quanto essas potências europeias não levaram a cabo a descolonização mental, até por que a Revolução Francesa foi para elas uma “cosa nostra”, considerada de inconsequente para os demais fora desse “comunidade internacional” que agora se diz de “ocidental”!

A iniciativa Bolivariana torna-se assim um oxigénio de memórias, uma equação obrigatória para todos os combatentes das lutas de libertação em África e uma avaliação do estado de evolução do próprio mundo em pleno século XXI!

Ao participar no acto da inauguração a convite da Embaixada da Venezuela em Luanda, recordo os factores de minha própria mobilização humana, quando em minha juventude constatei que a dilatação da fé e do império era um embuste colonial e fascista (que em grande parte persiste até nossos dias em territórios europeus), para esconder o grau genocida do tráfico de escravos transatlânticos e do próprio colonialismo.

Lembrar uma das mais importantes razões de ser de me ter tornado num antigo combatente da luta de libertação em África, é reafirmar-me hoje como militante das causas da mudança de paradigma pela via emergente e multilateral de lógica com sentido de vida em benefício de toda a humanidade!

Círculo 4F, Martinho Júnior, 30 de Maio de 2022.


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