De mano en mano, siempre con un neocolonial. Martinho Júnior

 

DE MÃO EM MÃO, SEMPRE DE NEOCOLONIAL FEIÇÃO.

NAS PISTAS DO “LE CERCLE” E NA FORJA DO CHOQUE E DA TERAPIA NEOLIBERAL EM ANGOLA.

Quando Savimbi se encontrou com o Presidente Ronald Reagan em Janeiro de 1986, assumiu em 3ª mão o seu compromisso de oportunismo, próprio de quem era um produto da “africanização da guerra” a favor do colonial-fascismo português, em conformidade aliás com a sua matriz etno-nacionalista que dava seguimento à ideia salazarenta do “fiel bailundo”!

A 1ª mão havia ocorrido em 1966 nas matas do Muangai e do Lungué Bungo e teve a sua versão mais sofisticada com a “Operação Madeira!” onde além da tropa portuguesa, da PIDE/DGS e dos madeireiros de ocasião também aparecia um padre que dava pelo nome de Oliveira (havia que abençoar a tão louvável iniciativa com um nome que tinha que ver com a paz) e perdurou até 25 de Abril de 1974!

A 2ª mão foi o trespasse para o “apartheid” que se fez de forma suave por via dos canais “inteligentes” e em transumância do Exercício Alcora, (também para isso serviu a manutenção do arsenal humano da PIDE/DGS em África), assumindo maior vigor com o encontro dele em 1982 com os Botha, na Jamba, instalada a contento a só 20 minutos de marcha da faixa do Caprivi, a fim de gizar as três fases sucessivas da estratégia de desestabilização armada em Angola como via para ele “tomar o poder” com ou sem “apartheid”!

Na 3ª mão Savimbi foi “promovido” a “freedom fighter”, como um “rebelde cristão” apto pelas mãos da CIA para enfrentar quixotescamente “o comunismo” em Angola, na África Austral e na África Central, no mundo e nos arredores, motivo suficiente para desencadear a IIª Operação da CIA contra Angola, depois do insucesso da Iª (“Operação Iafeature cujo comandante operacional foi John Stockwel)!…

Nesse sentido o “rebelde cristão” já em 3ª mão tinha de deixar de atacar missões, igrejas e seminários, assim como deixar de raptar religiosos, um dossier que passou pelos oleados circuitos dos bons ofícios do “Le Cercle”: é o próprio Jaime Nogueira Pinto, seu esmerado assessor e de Dlakhama que conta essa metamorfose pitoresca no capítulo “Entre a Santa Sé e a Jamba”, de páginas 145 a 149 do seu testemunho intitulado “Jogos Africanos”!

Diz com a graça do espírito santo o pio Jaime Nogueira Pinto na urgente missão de fazer o enlace da CIA com o Vaticano (transcreve-se conteúdo da página 146):

.. “Shakespeare fez-me chegar uma mensagem pedindo-me que fosse urgentemente a Roma falar com ele.

Lá me organizei e parti.

A razão da urgência era um grande dossier de que tomara conhecimento a respeito da UNITA e de uma série de ataques, em Angola, a missões católicas, com raptos de sacerdotes, missionários e religiosas, destruição de igrejas, etc.

Shakespeare levou-me a ver o cardeal Josef Tomko, um checoslovaco muito próximo do papa João Paulo II e ao tempo Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos.

Tromko desfiou-me um rosário de malfeitorias cometidas pela UNITA e falou-me da preocupação da Santa Sé em relação à alegada tentativa de Savimbi de criar, com os padres da Jamba, uma espécie de Igreja separada nas áreas por ele controladas”…

Percebe-se muito bem de onde vem a actual colecção que socorre o presidente português da UNITA na emergência eleitoral!…

Quanto ao beato Jaime Nogueira Pinto podem ficar descansados: com a graça do espírito santo, até se deu muito, muito bem com um filho pródigo que dá pelo nome de general António José Maria, na altura à frente da Contra inteligência Militar de Angola… com provas dadas e com direito a foto nos “Jogos africanos”!

O pitoresco expõe de facto o contacto da CIA com o Vaticano nos assuntos de Angola, algo que foi feito apressadamente para resgatar o Savimbi da exclusividade dos papéis que lhe eram destinados pelo “apartheid” e adaptá-lo à tão benigna imagem do “rebelde cristão” (conforme propunha o Conservative Caucus liderado por Howard Phillips), apto a ser mais um “freedom fighter” lutador incansável “contra o comunismo”!

O oportunismo venal de Savimbi foi fazendo assim escola, de mão em mão, década a década (ele ainda foi experimentado em várias delas desde o clã Soares ao clã Mobutu)…

É claro que o oportunismo do herdeiro Adalberto da Costa Júnior, o presidente português da UNITA enquanto candidato a Presidente da República de Angola, bebe dessa escola tão versátil, uma escola “transfronteiriça”, “pragmática” e “sem limites”, que chegou ao ponto-rebuçado de até se inspirar com o PS herdeiro de Mário Soares: a Ministra do Interior e da Justiça é também, por obra e graça do espírito santo, a angolana Francisca Van Dúnem por acaso (e só mesmo por acaso) irmã de um dos principais protagonistas da tentativa do golpe de estado do 27 de maios de 1977 contra o Presidente António Agostinho Neto e a República Popular de Angola!

Essa escola dos mestres oportunistas, mercenários e neocolonialistas (uns são neocolonizados por excelência), que tão subtilmente passam de mão em mão, é já uma escola internacional de feição, com culto próprio e proveito ainda maior do que alvitrado pela brasileira Teologia da Prosperidade da Igreja Universal, pois nada se pode comparar à mestria fruto de enlaces tão discretos como os propiciados pela Igreja Católica Apostólica Romana, com franjas a reforçarem o engenho e a arte dessa corrente de pensamento e acção!

É aí que se acoitam os servis padres e bispos que desde a 3ª mão de Savimbi com Ronald Reagan passaram não só a abençoar a rebeldia, mas a participar e a protagonizar dela, agora em reforço do herdeiro!

Nas pinturas já vão em 20ª demão (todas as mãos já foram gastas)!

Todos eles têm um interesse comum, por que há gastos, muitos gastos, nessas orgias, mas também o fundador da escola se esmerou em ensinar: Angola é rica em carbono puro quanto baste e por isso é fácil o socorro das Bolsas de Antuérpia e de Nova-York, passando finalmente para a de \Jerusalém!

18 de fevereiro de 2022