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Turkey's Dangerous New Exports: Pan-Islamist, Neo-Ottoman Visions and Regional Instability – https://www.mei.edu/publications/turkeys-dangerous-new-exports-pan-islamist-neo-ottoman-visions-and-regional;
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El colector turco: expansión, emergencia, petróleo y gas

“O COLECTOR TURCO”. EXPANSÃO, EMERGÊNCIA, PETRÓLEO E GÁS.

“O COLECTOR TURCO” com uma receita neo-otomana, acresce aos outros “providenciais” tentáculos à disposição do império da hegemonia unipolar!

De forma verificada e comprovada, o “colector” age em paralelo aos circuitos wahabitas e sionistas, que integram o “colector” arábico, mas graças à experiência na Síria, não despreza o jogo inteligente dos vasos comunicantes e do “soft power” de influência religiosa!

A Turquia faz parte da NATO, apresentando as segundas maiores Forças Armadas do Tratado…

Tendo em conta a dilatação das linhas da NATO até ao Afeganistão e Paquistão (AfPaq), a Turquia passou a desempenhar “naturalmente” um fluido papel central nos dispositivos da hegemonia unipolar no Médio Oriente Alargado, Mar Negro, Mar Cáspio, Mediterrâneo Oriental, Cáucaso e na ultraperiférica África.

Esse papel foi mantido numa agenda que se prolongou, notável pela sua inicial discrição, algo propiciado particularmente pela doutrina Trump, que previa a retirada de forças dos Estados Unidos naquela vasta região e uma participação mais acentuada dos aliados da NATO nela, ainda que com agendas distintas.

As coisas eram para se irem fazendo com discreta sensibilidade (por parte da manobra de dispositivos da NATO) e os emergentes que interpretassem os propósitos e os objectivos, até por que para a artificiosa “ameaça” da Nova Rota da Seda impunham-se respostas ofensivas inteligentes e “dormentes” (se possível mobilizando terceiras bandeiras) na direcção da Ásia Central, do Cáucaso e da Sibéria (procurando impactar a meio da imensidão do território da Federação Russa, sempre com o fito de a tentar fraccionar)…

Assim o papel da Turquia passou a ser crucial, desde logo nos contenciosos operativos mais críticos, como os do Iraque, da Síria e do Cáucaso…

… Um híbrido-charneira entre hegemonia, emergência multipolar e radicalismo wahabita de natureza islâmica, que começa a dividir esferas de influência com a Federação Russa, que por seu turno poderá ficar em causa…

… se assim for, como fica África?…

 

01– O governo de Erdogan interpretou a oportunidade para se aplicar a fundo com uma agenda (sub agenda) própria, de natureza expansionista (compensando a saída de efectivos dos Estados Unidos) e para isso foi buscar, no que à superestrutura ideológica diz respeito, a doutrina que no passado já havia sido aplicada com intenções coloniais, a fim de reabilitar em novos moldes as actuais capacidades e práticas, aplicando-as ao contexto neocolonial contemporâneo. (https://atalayar.com/blog/neo-otomanismo; https://relacoesexteriores.com.br/neo-otomanismo/; https://www.dw.com/pt-br/eua-abrem-caminho-para-ofensiva-da-turquia-na-s%C3%ADria/a-50722870).

O “neo-otomanismo” conforme ao “califado”, não surgiu do nada, ou por capricho: é uma subalterna agenda em flexível versão turca, que recompõe influências socioculturais centenares, inscrita na manobra ofensiva da NATO, que soube esperar a sua hora para melhor surpreender, até por que por um lado era reflexo e por outro iria engendrar contenciosos contraditórios em relação a outras componentes da NATO, historicamente suas concorrentes (o vírus expansionista do Reino Unido e da França, mais discretamente da Alemanha, resulta de interesses neocoloniais de algum modo saudosistas dos seus impérios coloniais e cada um implicado a seu modo). (https://www.resistencia.cc/turquia-e-o-neo-otomanismo/; https://actualidad.rt.com/opinion/alberto-rodriguez-garcia/346901-neo-otomanismo-erdogan-turquia; https://carnegieeurope.eu/2020/01/29/how-far-can-turkey-challenge-nato-and-eu-in-2020-pub-80912).

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Mapa da expansão otomana, repescado para alimentar as linhas de força da expansão neo-otomana, segundo a clivagem de Erdogan – https://fr.wikipedia.org/wiki/Empire_ottoman

As veladas tensões da Turquia com a União Europeia e no seio da NATO aumentaram a partir de 15 de Julho de 2016. (http://vozdaturquia.com/mundo/europa/2020/10/29/o-problema-do-erdogan-com-a-europa-nao-se-restringe-apenas-a-macron/; https://br.sputniknews.com/europa/201707108832202-austria-turquia-golpe-estado-aniversario-escandalo-diplomacia/).

No clímax desse processo está a tentativa de golpe de estado de 15 de Julho de 2016 contra o Governo de Erdogan, tão circunspectamente avisado pela inteligência russa, (https://pt.wikipedia.org/wiki/Tentativa_de_golpe_de_Estado_na_Turquia_em_2016; https://br.sputniknews.com/mundo/201607215751847-russia-adverte-erdogan-golpe/) que atentamente viu a oportunidade para replicar explorando as tensões internas da NATO, a fim de atrair a Turquia à causa da Nova Rota da Seda… (https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-tentativa-de-golpe-na-turquia-fracassou/a-19408731; http://tpa.sapo.ao/noticias/internacional/turquia-deixa-aviso-a-eua-em-dia-de-visita-de-erdogan-a-russia).

Todavia a conexão à NATO significa aproveitamentos recíprocos em cadeia, que não acontecem por acaso: no momento da Rússia conseguir o cessar-fogo e introduzir a sua missão de paz em Nagorno Karabak, na sequência da derrota duma Arménia cujo poder é mais um “filantrópico subsídio” de George Soros e suas “revoluções coloridas”, a administração Trump pretendia fazer um ataque de grande envergadura ao Irão e ao não o fazer implementou mais um pacote adicional de severas sanções… (https://www.nytimes.com/2020/11/16/us/politics/trump-iran-nuclear.html?action=click&module=Top%20Stories&pgtype=Homepage; https://www.nytimes.com/2020/09/19/us/politics/us-iran-un-sanctions.html?action=click&module=RelatedLinks&pgtype=Article).

 

02– Cedo a Turquia assumiu o desafio híbrido do quadro da NATO em proveito de sua própria geoestratégia: (https://www.elradar.es/el-neo-otomanismo-de-turquia-llama-a-la-puerta/; https://www.voanews.com/usa/nato-allies-growing-weary-turkish-aggression; https://observador.pt/seccao/mundo/medio-oriente/turquia/recep-tayyip-erdogan/; https://southfront.org/intelligence-community-of-the-republic-of-turkey/).

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Salami-slicing tactic? – In a 2016 Foreign Policy article, Nick Danforth of the German Marshall Fund pointed out how Turkish TV was using irredentist maps that showed northern Iraq and northern Syria as parts of Turkey, which offered insights into Ankara’s self-image and current domestic and foreign policies. The map was not quite the Ottoman Empire, just a slightly bigger Turkey, and in March 2019 a Bloomberg article mapped Turkey’s expanding military footprint. With Ankara’s steady buildup of military bases abroad to access key energy corridors such as the Persian Gulf, the Horn of Africa, the Caucasus, the Red Sea and the Mediterranean Sea, as well as increasing defense ties with various energy producers, this seems to overlap with the geography of the former Ottoman Empire. – https://asiatimes.com/2019/10/neo-ottoman-turkeys-string-of-pearls/;

 

03– O momento da mais dramática “viragem” de Erdogan seguiu-se ao do golpe fracassado contra o seu governo, que foi identificado como uma operação da CIA. (https://www.rfi.fr/pt/mundo/20170417-turquia-vitoria-renhida-do-sim; https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/11/internacional/1499764031_180405.html; https://sicnoticias.pt/mundo/2017-02-08-Diretor-da-CIA-vai-debater-na-Turquiatentativa-de-golpe-de-Estado-no-pais).

Indicia ser uma força centrífuga à NATO, o que lhe compete comprovar… (https://pt.euronews.com/2019/10/11/turquia-mede-forcas-com-nato-e-uniao-europeia; https://www.voltairenet.org/article194818.html).

A natureza do golpe, perpetrado com o concurso de interesses de potências da NATO, fez Erdogan decidir-se pelo expansionismo articulado e flexível que lhe era possível e começar a transigir em relação à geoestratégia da Nova Rota da Seda, que integrava o projecto do oleoduto russo South Stream, com todas as incógnitas que ainda persistem… (https://fort-russ.com/2020/11/what-can-russia-do-with-erdogan/?utm_medium=ppc&utm_source=push&utm_campaign=push%notificationss&utm_content=varies; https://www.gazprom.com/projects/turk-stream/; http://www.asianews.it/news-en/New-Ankara-Moscow-energy-axis-to-revive-%E2%80%98Turkish-Stream%E2%80%99-38265.html).

Ao aproximar-se mais da Rússia, a Turquia sob a orientação de Erdogan, equacionou a sua sub agenda, híbrida e meio comprometida com a NATO por um lado e com as causas da emergência multipolar por outro, alicerçando assim seu quadro expansionista ideologicamente comprometido. (https://aeromagazine.uol.com.br/artigo/turquia-podera-adquirir-cacas-russos-su-35_4740.html; https://www.publico.pt/2016/10/10/mundo/noticia/o-amigo-russo-chega-a-istambul-para-se-reunir-com-erdogan-1746750; https://www.monitordooriente.com/20200824-turquia-e-russia-assinam-acordo-para-aquisicao-de-sistemas-de-misseis-s-400/; https://www.monitordooriente.com/20200915-turcos-e-russos-se-reunirao-em-ancara-para-discutir-siria-e-libia/; https://www.dn.pt/lusa/estados-unidos-fazem-ultimato-a-turquia-sobre-compra-dos-misseis-russos-s-400-10991041.html).

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Turkey’s Dangerous New Exports: Pan-Islamist, Neo-Ottoman Visions and Regional Instability – https://www.mei.edu/publications/turkeys-dangerous-new-exports-pan-islamist-neo-ottoman-visions-and-regional

Conseguiu criar algum campo de manobra e equilíbrio na Síria, particularmente com a bolsa de Idlib, dando tempo para gerar uma outra mobilização para os rebeldes “moderados”… (https://www.publico.pt/2019/10/11/mundo/analise/obsessao-turquia-curdos-siria-1889511; https://www.euractiv.com/section/global-europe/news/assad-accuses-erdogan-of-close-ties-to-muslim-brotherhood/).

Na última convulsão armada em Nagorno Karabak, quase três mil efectivos dessas “mutantes” milícias foram utilizados nos combates e, depois do cessar-fogo, mantêm-se no território conquistado, tornando-se potenciais colonizadores com a expulsão dos arménios, podendo ainda aproximar-se da Ásia Central (aqueles cujas origens são dessa região nevrálgica). (https://www.lemonde.fr/blog/filiu/2020/10/18/les-filieres-turques-de-mercenaires-syriens-en-azerbaidjan/; https://www.lorientlejour.com/article/1234491/des-mercenaires-syriens-seraient-enroles-par-ankara-pour-combattre-larmenie.html).

A aliança da Turquia com o Azerbeijão, um assunto entre turcomanos, pressupõe o alargamento de interconexões entre os dois países, mas também a extensão dessas interconexões com o leste do Cáspio em relação aos turcomanos da Ásia Central (particularmente o Turquemenistão)… (http://www.opinione.it/esteri/2020/10/28/fabio-marco-fabbri_ankara-baku-azerbaigian-nagorno-karabakh-recep-tayyip-erdogan-ilham-aliyev-genocidio-armenia/?altTemplate=Stampa).

 

04– A entrada da Turquia em África é também um acontecimento recente, intimamente associado à crítica em relação às potências europeias componentes da UE, em especial as antigas potências coloniais, à concorrência com outras filiações muçulmanas, mas também um resultado de sua emergência. (https://www.researchgate.net/publication/40439973_Turkey_Discovers_Africa_Implications_and_Prospects; https://www.bloomsbury.com/au/turkey-in-africa-9780755636990/; https://www.dw.com/pt-002/mesquitas-em-%C3%A1frica-prova-de-for%C3%A7a-no-pr%C3%B3ximo-oriente/a-51862612; https://www.rfi.fr/pt/africa/20180304-turquia-aposta-em-africa).

A Turquia neo-otomana tem uma sub agenda própria, que em África é concorrente da também sub-agenda wahabita-sionista, assim como da sub-agenda do “pré-carré” da FrançAfrique… (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/10/28/turquia-eleva-tom-com-a-franca-apos-publicacao-de-caricatura-de-presidente.htm; http://vozdaturquia.com/mundo/africa/2020/09/01/abertura-militarizada-da-turquia-para-africa-provoca-guerras-de-influencia/);

A agenda shihita do Irão está fora do âmbito do império da hegemonia unipolar e dos seus instrumentos CENTCOM e AFRICOM, pelo que a sub-agenda turca é-lhe propositadamente próxima. (https://www.rtp.pt/noticias/mundo/turquia-e-irao-concertam-agendas-e-cooperacao-para-um-novo-medio-oriente_n1257820).

Em África o papel da “neo otomania” prioriza o Magrebe e o Sahel (regiões onde a sua presença é mais visivelmente acutilante), mas os sinais de sua extensão na direcção da África Central, Grandes Lagos e África Austral, começam já a surgir: (https://www.dn.pt/globo/europa/erdogan-visita-o-magrebe-apesar-da-contestacao-3253724.html).

 

05– O império da hegemonia unipolar com a próxima administração democrata de Joe Biden, aproximar-se-á mais da “neo-otomania” quer no Médio Oriente Alargado, quer em relação às linhas de progressão em direcção à Ásia Central, Federação Russa e China Ocidental, quer ainda na ultraperiférica África.

No que diz respeito a África, a aproximação poderá tornar-se mais fluida em relação ao Magrebe, ao “corno de África” e à costa leste, Moçambique incluído.

Uma vez que o império vai retomar com mais vigor os expedientes das “revoluções coloridas” e das “primaveras árabes”, algo que vai repercutir em África, no caso angolano pode eventualmente haver uma maior atenção turca espreitando os contenciosos que potenciam a UNITA na trilha da “desobediência civil” em que se tende a empenhar até às próximas eleições, sobretudo em Luanda.

 

Luanda, 21 de Novembro de 2020

1 Comment

  1. […] A chegada da Turquia em força, com um Erdogan neo otomano e chefe da Irmandade Islâmica, está a ser feita de há poucos anos a esta parte, começando com a instalação de mais de quarenta embaixadas, passando à construção de dezenas de mesquitas e chegando à presença militar em países escolhidos como testas-de-ponte no desembarque: a Somália e a Líbia, (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/09/25/la-somalizacion-de-africa/) bem no eixo das culturas nómadas com linhas de conexão tradicionais e pressionantes na direcção de vastas regiões do continente (fustigando as áreas onde existem as culturas sedentárias a sul, onde geograficamente se encontram as águas tropicais). (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/11/24/el-colector-turco-expansion-emergencia-petroleo-y…). […]

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