África SubsaharianaArtículosDestacadosImperialismo e Internacionalismo

¡El imperio se decide por el desarrollo neocolonial de África!

O IMPÉRIO DECIDE-SE PELO AVILTAMENTO NEOCOLONIAL DE ÁFRICA!

Dez anos depois do assalto e desastre da Líbia, África jaz quase inerte, indelevelmente “tocada por um destino” que a condena para o patamar aviltante dum mero despojo neocolonial, pasto do jogo que o império da hegemonia unipolar eminentemente anglo-saxónico tece, com seus vassalos e suas “coligações” malparadas, geradas particularmente desde o Afeganistão, da Nicarágua e da Angola dos tempos de Ronald Reagan e de Margareth Thcatcher!

Já antes Cecil John Rhodes foi o arquitecto não só da concepção da pista elitista “do Cabo ao Cairo”, mas também e sobretudo do domínio da cultura anglo-saxónica a partir da ossatura do império colonial britânico, algo que os Estados Unidos assumiram no mesmo dia em que acabou a IIª Guerra Mundial!

É esta a “globalização” que o império hoje tece, mobilizando seus imensos recursos, a ponto de os poder ramificar por todas as “transversalidades” sociopolíticas africanas, particularmente depois do 11 de Setembro de 2001 e da eclosão do AFRICOM, em 2008!

O encadeado de conflitos tornam-nos “transfronteiriços” e muitos deles, se não resultam directamente da disputa antropologicamente dialética entre os desertos mais quentes do globo e as ricas regiões húmidas tropicais, têm que ver com a água interior em função da sobrevivência dos próprios rebeldes face aos estados africanos fragilizados e vulnerabilizados!

Urge reconstruir as fileiras da resistência africana a partir da longa luta de libertação contra o colonialismo e o “apartheid”, avaliando antes de mais das razões de tanto se ter soçobrado ao capitalismo neoliberal impante do império, algo que desde Angola, com todas as sensibilidades do Sul Global sobre o qual recai a IIIª Guerra Mundial, em nada é ininteligível!

De facto, o movimento de libertação em África, de que o FNLA (Argélia), o MPLA, o PAIGC, a FRELIMO, a SWAPO, a ZANU e o ANC foram parte integrante, emergia sobre qualquer artificioso impacto etno-nacionalista, até pela sua identidade em termos de lógica com sentido de vida!

As resistências africanas têm de recuperar essa lógica, que também animou as hostes dos que com toda a legitimidade que lhes assistia, tiveram de lutar de armas na mão, pela autodeterminação e contra qualquer tipo de regionalismo, de tribalismo, de divisão e de desagregação!…

 

01– A acção de comprovada conspiração do império da hegemonia unipolar, seus vassalos e “coligados”, contra a Líbia, contra Kadafi, resultou numa espiral de caos, de terrorismo e de desagregação que se expandiu na direcção sul, aviltou de imediato o Sahel por inteiro, do Senegal à Somália, passou para o Lago Chade, para a portentosa bacia do Congo e Grandes lagos, começando a atingir dez anos depois a África Austral, a SADC, na RDC, na Tanzânia, em Angola e em Moçambique!

Essa expansão cria e recria “transversalidades” por que hoje o império tem a possibilidade de dividir até às migalhas, reduzindo a pó seus dilectos alvos por dentro das suas tão movediças sociedades, com suas laboratoriais “revoluções coloridas” e “primaveras árabes”, inclusive ali onde não emergiram ainda os mais radicais fundamentalismo islâmicos wahabitas-sunitas por insuficiência do raio de acção de suas táticas “coligações”!

O simples facto dos islâmicos como a Arábia Saudita, o Qatar, a Turquia, o Marrocos, ou o Egipto, concorrerem para defender seus interesses, multiplica os factores de caos, terrorismo e desagregação.

Todos esses fenómenos ocorrem por onde há água interior ou suculentas riquezas naturais, daquelas que são extraídas à esventrada Terra, de tal modo que em meio ano a esvaem, por que o planeta só pode alguma vez recuperá-las em um, mesmo que toda a reciclagem de materiais se torne possível duma assentada!…

A construção da Grande Barragem do Renascimento Etíope, no estado de Benishangul-Gumuz, no Nilo Azul, levou a que o Egipyo entrasse no jogo das malparadas “coligações” que impõem caos, terrorismo e desagregação à imensa região do “corno de África” com a tácita cobertura do império da hegemonia unipolar e sob todos os censores do Africom!

… É o petróleo ultra barato da Líbia que está à mercê da superfície arenosa dos desertos mais quentes do globo, é o “urânio gaulês” da Areva no Níger, na tórrida Agadez capital dos drones que vasculham até às mais recônditas entranhas continentais, é o coltan multinacional dos Kivus (RDC) que entram em nossos telemóveis e computadores adentro até dar força magnética descomprometida à nossa própria voz, é a água do Nilo Azul que dissocia de forma antagónica os interesses do Egipto e da Etiópia, é o gaz que se iria começar a ser explorado em Moçambique, pronto para a queima onde quer que seja no “mundo civilizado e desenvolvido”, são ainda os diamantes aluviais do Cuango e do Cassai, que vão ornamentar “as últimas joias da coroa”, vinte anos depois da “guerra dos diamantes de sangue”, gerada enquanto choque neoliberal depois do Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991…

No caso da RDC caos, terrorismo e desagregação nunca parou praticamente desde os horrores do Rei Leopoldo, mas agravou-se com o assassinato de Patrice Lumumba e posteriormente desde 1965, quando a passagem do Che foi um meteoro de esperança que se esvaiu efémero no espaço sideral desde então…

No caso da Tanzânia, o fantasma do último sultão de Zanzibar é trazido pelo vento norte da jihad, que salta desde o Iémen para a Somália e desde a Somália para sul, até ao Rovuma: à medida que as colmeias jihadistas são atacadas, as abelhas espalham-se e disseminam ainda mais caos, terrorismo e desagregação, sem fronteiras!…

No caso de Moçambique o caos, o terrorismo e a desagregação atingem uma área enorme onde se iria dar início à exploração do gaz, situada num dos paraísos tropicais praticamente virgens das costas orientais de África banhadas pelo cálido e indecifrável Índico!…

No caso de Angola, as minas de Salomão do Cuango e do Cassai mais parecem socialmente um vulcão meio-adormecido que acorda inadvertidamente entre estampido e sangue na maior e na mais rica região de diamantes aluviais que há sobre a Terra, seja por via da barbaridade savimbiesca, seja pelo artifício de última hora dum Movimento do Protectorado Português Lunda-Tchokwe, arrancado pelos mercenários ideólogos e suas conspirações regionais e tribais ao ventre colonial, para proveito contemporâneo neocolonial e de inconfessas redes de traficantes com acesso às Bolsas em vários continentes, a começar pelas “tradicionais” em Antuérpia, Bélgica, onde se encontra a capital da União Europeia!…

 

02– Na esperança de luta que florescia sobre a derrota do “apartheid”, em Angola foi erigida a quente o embrião duma democracia popular de orientação socialista e Não-Alinhada, por via duma estreita aliança cívico militar: foi o tempo da República Popular, dum MPLA vocacionado em Partido do Trabalho, das gloriosas Forças Armadas Populares de Angola e da Organização da Defesa Popular, foi o tempo duma Inteligência e Segurança com força dialética e proactiva nos termos mais firmes de sua vocação e actuação, da qual fiz parte…

Foi essa força que sustentou um dos pilares mais consequentes da Linha da Frente, que se transferiu da fluida linha da frente informal do tempo da meteórica passagem do Che pela guerrilha congolesa em 1965, entre Dar es Salam e Brazzaville… foi essa força que, ainda que não se soubesse na altura, enfrentou o sentido imperial e elitista de Cecil John Rhodes (“do Cabo ao Cairo”), enfrentou o Exercício Alcora e as sequelas que até hoje derivaram dele para dentro das tão vulneráveis sociedades africanas do século XXI…

Assim se libertou África do colonialismo, do “apartheid” e de muitas das suas sequelas, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, na precisa razão inversa do imperialismo colonial eminentemente anglo-saxónico!

O Reino feudal de Marrocos parece ter sido um dos que não se convenceu no Sahara ávido de liberdade, de paz e de justiça social e por isso assume a canga e o fardo colonial em pleno século XXI!…

O império da hegemonia unipolar faz tudo, por que conhece essa saga de libertação que sempre tentou subverter, para enfraquecer e fazer desaparecer essa força, que antes de tudo o mais é histórica, é antropológica, é mental, por que o movimento de libertação em África só se pode superar a si próprio seguindo a trilha da lógica com sentido de vida, sobretudo no que lhe é tão essencial: antes de tudo o mais a descoberta de nós mesmos e da nossa vontade colectiva de renascimento e de justa superação quando isso afinal é tão importante e decisivo para uma humanidade sedenta de paz e de vida e onde povo algum fique na cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano de cada ano!

Nas Américas foram os escravos afrodescendentes do Haiti mais que legítima e justificadamente os primeiros nessa ânsia de liberdade e ainda hoje, mais de 200 anos depois, fazem parte dos últimos da cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano naquele continente por que os processos dominantes do império da hegemonia unipolar fazem neocolonialmente tudo para isso em todas as suas possíveis “transversalidades”!

 

03– O início da década 20/30 do século XXI, encontra África forçada a uma segunda Conferência de Berlim, em função da “pedra de toque” que foi e continua a ser dez anos depois o desastre da Líbia.

Os interesses das potências europeias avassaladas do império, ao atingir o Magrebe e o Sahel, dão inclusive espaço de manobra ao Reino de Marrocos no Sahara, colonizando sobre as cinzas da retirada do Reino de Espanha daquela região do noroeste africano no seguimento do fim da ditadura franquista e do Pacto Ibérico.

A Alemanha lidera esses “versáteis” expedientes e possibilita assim:

  • A manobra da FrançAfrique em toda a África do Oeste e Sahel adentro, do Senegal ao Chade, assim como no “corno de África” onde utiliza a plataforma de Djibuti;
  • A manobra dos “concorrentes” islâmicos, uma parte deles membros da “coligação” (Arábia Saudita, Qatar, Emiratos Árabes… ), membro da NATO (Turquia), ou o Egipto, chave do Mediterrâneo e do Magreb, mas dependente da fluidez do mais longo rio da Terra, o Nilo;
  • A manobra anglo-saxónica de expedientes de carácter elitista, como por exemplo as organizações de “protecção da natureza” que se implantaram em Parques Naturais, alguns deles “transfronteiriços”, quase sempre regendo riquezas naturais (água, diamantes, coltan…);
  • A terrível manobra das redes radicais islâmicas fomentadas pelas correntes wahabitas-sunitas, que a partir de colmeias ao longo do Níger, em torno do Lago Chade, ou ao longo do rio Juba no sul da Somália, estão em lento movimento de disseminação para sul, em direcção ao Rovuma (fronteira entre a Tanzânia e Moçambique), ou em direcção ao Cuango e Cassai (entre a RDC e Angola).

No vértice desses tão desencontrados interesses concorrentes ou não, está implantada a plataforma aglutinadora e gestora do Africom, braço africano do Pentágono, com todos os dispositivos colectores de inteligência, com dispositivos militares articulados com as “coligações” e “parceiros africanos” (sem outra alternativa senão o completo alinhamento) e coligindo os tácitos “inimigos”, sem os quais perderiam sua razão de ser e perderiam capacidades para se oporem à “penetração” da China, da Rússia e do Irão em África.

 

04– A intensidade do crónico fustigar dos Estados Unidos em relação aos emergentes e na generalidade em relação ao Sul Global, particularmente em relação à Federação Russa e à República Popular da China, por parte da administração de “Obama III” (Joe Biden), vai-se de algum modo repercutir negativamente em África, o que provocará combustível adicional para a fogueira do caos, para o terrorismo e para a desagregação (segunda Conferência de Berlim com manobras em curso)!…

Esse combustível por outro lado, utilizará “soft power” em termos de guerra psicológica, ou seja: a pressão para um aumento de alienação e de ilusão sobre África vai-se intensificar ainda mais, também por que os factores físico-geográfico-ambientais estão ainda mais favoráveis (e ao dispor) de quem se vocacionou há tanto tempo para o exercício dominante exclusivista do poder global numa base capitalista neoliberal de cultura anglo-saxónica, causadora de tantos desequilíbrios, fragilidades e vulnerabilidades de toda a ordem, assim como dum desrespeito cada vez maior, em relação à Mãe Terra!

Se as resistências africanas em toda a linha e de forma ampla não se organizarem, ao mesmo tempo propondo capacidades de paz e de desenvolvimento sustentável a muito longo prazo com base no controlo, na protecção e na melhor gestão dos recursos hídricos do interior do continente, África terá convulsões em ordem geométrica de consequências ainda mais graves do que o padrão actual de tensões, conflitos e guerras!

Os povos africanos se assim for, estão condenados de antemão aos maiores sacrifícios e a uma progressiva exaustão!…

Luanda, 11 de Fevereiro de 2021.


IMAGEM:

(A “FACE DA GUERRA” tem grosseiramente a configuração geográfica de África).

A Face da Guerra é uma obra de Salvador Dalí, foi feita no final de 1940 na CalifórniaEstados Unidos, em plena Segunda Guerra Mundial. Aparentemente o quadro demonstra toda a repulsa de Dalí pela guerra civil, demonstrando que a guerra traz unicamente a destruição.

Mostrando a horrível face da guerra, Dalí estava tentando demonstrar através do quadro todo o terror que cercava a Segunda Guerra Mundial. Nele há um rosto marcado pela destruição, nos seus olhos e na sua boca há faces iguais a da face principal, mostrando a contínua destruição causada pela guerra. Um detalhe a ser observado é a primeira face, a que carrega todas as outras, que possivelmente pode ser entendido como o princípio da guerra pelos olhos de Dalí, é cercada por serpentes em posição de ataque. Outro detalhe interessante é uma sombra feita por um objeto fora do quadro, no canto inferior direito, no qual a marcas de mão, além da aparente falta de assinatura de Dalí no quadro.

Esse quadro é mais um exemplo da genialidade do maior pintor surrealista do século XX, é o surreal mostrando o real, originalidade e genialidade caminhando juntas com a sua percepção sobre os excessos da guerra, para muitos as coisas até podiam ser consideradas

Tamanho: 64 x 79 cm

Técnica: Óleo sobre tela

https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Face_da_Guerra

https://www.wikiart.org/pt/salvador-dali/a-face-da-guerra-1941

Comments are closed.