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La energía telúrica de un África contemporánea. Martinho Júnior

DA ENERGIA TELÚRICA DUMA ÁFRICA CONTEMPORÂNEA.

AGOSTINHO NETO PROTAGONIZOU UMA VIDA SEM TRÉGUAS, POR QUE MOBILIZADA E EMPENHADA NO LANÇAMENTO DA PONTE ENTRE DUAS MARGENS INCONCILIÁVEIS, SOBRE UM RIO DE TUMULTUOSAS TORRENTES TROPICAIS!

NUMA MARGEM, A MARGEM QUE EXISTIU DESDE O BERÇO, O HÚMUS DUMA INEVITÁVEL RUPTURA, A TESE DO PASSADO.

NA OUTRA MARGEM, A QUE HAVEMOS DE CHEGAR, A ASPIRAÇÃO DUMA VANGUARDA COM CORPO DE RENÚNCIA IMPOSSÍVEL, A ANTÍTESE DO FUTURO.

Uma vida sem tréguas entre introspectiva ruptura e vanguarda, comporta dinâmicas mensagens que se exteriorizam quando há toda um ente por inventar e construir com patriotismo devotado, por que têm sempre presente a necessidade reflexiva de busca da identidade nacional e de vida!

A iluminação popular animou a ponte sobre os etno-nacionalismos restícios desse passado e foi com ela (é com ela) que a independência, a soberania e a busca de equilíbrio de toda a humanidade é sempre possível!

A sabedoria desse ser singular foi erguida de forma mesmo assim harmoniosa, equilibrada e coerente, por que o encontro na margem do futuro, foi (é e será), com o colectivo de toda a humanidade e com o respeito merecido à Mãe Terra, tal como o respeito que merece o povo angolano!

A ponte obriga-nos à reflexão no singular e em colectivo face aos materiais da antropologia, da história e da sociologia, quiçá também da psicologia, por que filosofia, doutrina e ideologia em África (entendidas nos seus campos mais amplos quando se aproximam também da ética e da moral), reportam-se ao que afinal aconteceu desde o berço da própria humanidade e ao conhecimento de qual foi a parte que coube ao homem africano na hora da lógica com sentido de vida que foi dele excluída pelo domínio dos poderosos, que jamais foram africanos e ainda hoje estão determinados, em todos os seus actos, a não perder os parâmetros consumistas de sua vivência que os impedem de conseguir chegar à liberdade de sua própria descolonização mental!

O homem desde então, desde o feudalismo e do capitalismo, perdeu-se a si próprio na sua viagem universal construindo impérios coloniais viciados em poder a todo o custo, que obrigam aos outros, os do Sul Global, a assumir de forma épica as rupturas que se impõem!

O homem velho é no ocaso da sua não-civilização, por natureza cínico, hipócrita e perverso, o que faz parte do gene do próprio colonialismo!

Por isso todos os que deram a sua contribuição para o reencontro da humanidade são, como Agostinho Neto, sustentáculos de futuro, por que nos séculos XX e XXI se torna possível, com eles, a dialética renascença do homem africano em sintonia com a renascença em pluralidade, de toda a humanidade!

Essa é também a essência da mudança de paradigma que se exalta desde a emergência multilateral respeitadora da Carta da ONU, face ao exclusivismo “ocidental” de que a humanidade se urge de libertar!

A ruptura traz sinais do que não pode ser mais conciliável, sintomaticamente imposto quase sempre desde fora do continente, algo de retrógrado que urge fazer ficar para trás, marcado na memória do conhecimento histórico e antropológico e permitindo a substância da própria liberdade sobre as amarras coercitivas que chegam ainda aos nossos dias…

A vanguarda, no outro lado da ponte, propõe sinais que são desde logo forças capazes desses resgates, capazes de vencer o opróbrio palúdico e o ostracismo de séculos, as misérias nas grandes cidades, as profundas assimetrias rurais, o subdesenvolvimento crónico e os fluxos que em muitos facores residem na pobreza desde há largos milénios: chegar com avidez à natureza do próprio futuro em equilíbrio e em paz com toda a humanidade e com imenso respeito para com a Mãe Terra, é o que anima as convicções revolucionárias enquanto expressões de lógica com sentido de vida numa África que não pode mais ser “um corpo inerte onde cada abutre vem depenicar o seu pedaço”, quando “o mais importante é resolver os problemas do povo”!

Agostinho Neto assumiu-o como vivencial protagonista, assumiu essa dimensão entre ruptura e vanguarda, propondo-se e propondo o homem novo que chegava das matas, onde foi sacudida a grande solidão!

A sua mensagem, misto de ensinamento e obra, bebe das exigências duma nova e inovadora pedagogia!

Agostinho Neto em ruptura assumiu compromissos que se arrastam desde o berço da humanidade, por que a dialética conduz-nos às sínteses com essência de identidade e património genético-cultural comum, sínteses que não ofendem o colectivo de mais de 7 biliões que somos, antes honram sua vida, geração após geração!

A síntese da angolanidade vocacionada sob a forma de luta armada de libertação nacional, era, é e será, coerente com os amplos resgates que se impõem a esse colectivo, numa solidariedade que de tanto ser negada através de séculos, senão de milénios, urge revolucionariamente equacionar!

Agostinho Neto era dialeticamente responsável face a tão exigentes termos da ruptura e de vanguarda: a sua identidade, sendo o que o elevava ao colectivo do povo angolano, obrigava-o por tabela a respeitar todos os povos e a distinguir os povos dos poderes com que era e são regidos!

A dignidade emanada com o compromisso de “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul estar a continuidade da nossa luta” não se esgotou, nem no espaço nem no tempo com o legado do Programa Maior do MPLA, que há a cultivar!

A responsabilidade história de Agostinho Neto bebia da liberdade que se negava por via da visão dominante trespassada de fascismo, de colonialismo, de “apartheid” e de outras formas funcionais como o etno-nacionalismo, formas típicas dos processos de domínio que se alimentam do exclusivismo e do elitismo sociocultural eminentemente anglo-saxónicos desde o feudalismo e dos caboucos da Revolução Industrial!

Essa responsabilidade tem vida própria na época do ocaso do cinismo e da hipocrisia colonial, a época em curso!

Por isso enquanto político Agostinho Neto foi anticolonialista, anti-neocolonialista e anti-imperialista e tinha na sua visão de futuro o socialismo não-alinhado construído pela via dos amplos resgates que se impunham desde o húmus da ruptura, de onde partiu a ponte humana que somos!

A luta armada num amplo movimento como o Movimento Popular de Libertação de Angola introduzia não só a vanguarda que se impunha à ruptura, mas aglutinava todos os pensamentos e práticas revolucionárias de vanguarda que cabem no Programa Maior do MPLA), conducentes ao lugar de equilíbrio de toda a humanidade, a um lugar de socialismo que urge hoje ainda mais que no tempo de seu próprio desaparecimento físico, erguer do chão!

Cuidem-se os que tentam desovar o ente dessa vanguarda, desse futuro, para impor outras vontades que correspondem mais a interesses de grupos, ou de clãs ao nível etno-nacionalista que é transversal ao após Bicesse!

Sob a égide do império da hegemonia unipolar a humanidade consome em metade do ano o que o planeta consegue recompor em um ano e essa irracionalidade essencial é por si um repto à vanguarda capaz de coerência, de responsabilidade, de liberdade colectiva, de solidariedade, de socialismo e de amor para com a vida tal qual a conhecemos, tão próximo quanto é possível ao homem moderno saber estar na natureza e no ambiente que é premente oxigenar e não azotar, ou asfixiar!

Esse é o lugar hoje da ponte entre a ruptura e a vanguarda que nos ensina Agostinho Neto por via do seu protagonismo, de sua obra, de sua pedagogia eivada de princípios, de identidade com rosto humano e urge fazer renascer, para progredir solidariamente e para melhor equacionar a vida em África!

Saibamos fazer nosso o legado essencial de sua vida sem tréguas que indelevelmente marcou a coerência de sua passagem de marca, pela história de toda a humanidade!

Agostinho Neto enquanto vanguarda, popular, socialista e respeitador da vida, uma desafiadora equação revolucionária para o presente e para o futuro!

Círculo 4F, Martinho Júnior, 1 de Agosto de 2022.

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A consultar:

Discurso de Agostinho Neto na Proclamação da Independ^wencia de Angola – https://www.novacultura.info/post/2021/11/11/discurso-de-agostinho-neto-na-proclamacao-da-independencia-de-angola.

Imagem: Arquivo fotográfico sobre o Mausoléu Dr. António Agostinho Neto – 18 de Maio de 2018.