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África SubsaharianaArtículosImperialismo e Internacionalismo

La Françafrique en agonía. Martinho Júnior

“FRANÇAFRIQUE” EM AGONIA.

A MEMÓRIA DE KADAFI ILUMINA O CAMINHO DOS “DESERDADOS DA TERRA”.

A “OPERAÇÃO BARKANE”, UM PROLONGAMENTO DA NATO SOB OS AUSPÍCIOS DO AFRICOM, PODE ESTAR EM VIAS DE EXTINÇÃO…

… É ALTURA DE ANUNCIAR A SUA FINITUDE!

Mesmo na ultra periferia económica global, conforme se apresenta África, o momento não é só disjuntivo, é acima de tudo dialético!

Em África o Sul Global demonstra pender cada vez mais para a multilateralidade, cooperação e solidariedade, atirando para o caixote de lixo da história arcaicas velharias neocoloniais como a “FrançAfrique”, com seus músculos conforme a expressão da “Operação Barkane”, com todo seu cortejo de “democracias representativas” formatadas pelo capitalismo neoliberal, nutridas dos fantoches de ocasião que respondem à exclusividade clientelar da hegemonia unipolar.

Da Líbia os povos africanos (re)apreenderam as imensas afrontas contemporâneas próprias de quem se recusa a fazer a descolonização mental, económica e financeira, a ponto de destruir a Jamairia e assassinar um Kadafi que em vida pugnou pelo renascimento pan-africanista, como antes haviam feito alguns dos mais dignos filhos do continente-berço, entre eles alguns do próprio Sahel, desafiando a saga contemporânea do neocolonialismo derivado do passado e sustentado pelo crónico subdesenvolvimento imposto aos povos africanos.

Todo o Magrebe, de Marrocos ao Egipto (incluindo vastos sectores da actual Líbia), assim como todo o Sahel, da Mauritânia ao Sudão e à Somália, tem a noção não só das perdas provocadas pelo engenho e a arte dos demónios “straussianos” da hegemonia unipolar contra a Jamairia em 2011, como também tem a noção do caos, do terrorismo e da desagregação que foram disseminados desde então, servindo de justificação para o pasto neocolonial, transposto da economia para as armas, garantindo a continuidade da submissão dos povos africanos!

O Mali serviu de epicentro, desde 2012 até aos nossos dias, ao caos, terrorismo e desagregação que conduziram a um encadeado de crises: insegurança (conflitos armados com raisez socioculturais), rápidas mudanças climáticas (no Sahel sempre com tendência para aquecimento e ausência de água), preços exacerbados de alimentos (uma grande parte deles importados) e um difuso covid-19…

A coligação malparada que os Estados Unidos lideraram no Iraque e na Síria, já não mais se pode fazer sentir noutras paragens; no Sahel, quer jiadistas instigados por grupos da Arábia Saudita, Qatar e Emiratos Árabes Unidos, quer uma França alinhada desde o governo Sarkozy (a “FrançAfrique” de hoje tem todos esses condimentos), estão intimamente associados aos processos contraditórios tácitos que animam a expressão regional da hegemonia AFRICOM pelo Sahel, pelo que a mudança de paradigma está a tornar-se num virar de pagina contra o neocolonialismo.

Enquanto herdeiro de Sarkozy, fragilizado nas últimas eleições francesas, Emmanuel Macron e tudo o que está ligado à mentalidade colonial francesa cristalizada agora em função do enquadramento propiciado pelo Comando África do Pentágono, está em “sistémica” crise.

Jovens militares dos países do Sahel, intimamente identificados com as legítimas aspirações de seus povos, evocam Modibo Keita (Mali), Thomas Sankara (Burkina Faso), ou Sekou Touré (Guiné Conacry), a fim de levar por diante levantamentos militares em jeito de golpes de estado que reponham o sentido histórico da ruptura contra o colonialismo (que prevalece no Sahara por causa dos enlaces comuns entre as coroas espanhola e marroquina) e contra a arrogância da “FrançAfrique” instrumento da hegemonia unipolar e servil ao AFRICOM.

No Magrebe a Argélia serve de inspiração, pois a Argélia travou com êxito uma luta armada de libertação nacional contra o colonialismo francês que foi um ponto de partida para a libertação de Argel ao Cabo, assim como saiu vitoriosa sobre as hordas do caos e do terrorismo islâmico, confinando-o às latitudes do Sahara onde aproveitam a nomadização.

A Argélia gerida por patriotas decididos , responsáveis e esclarecidos, é plataforma de apoio à Palestina e à República Árabe Saaraui Democrática, bem como à sua Frente Polisário que continua a combater de armas na mão a usurpação colonial marroquina, ao mesmo tempo, joga um papel sensível, conjuntamente com a Tunísia, no Mediterrâneo, a norte, assim como influindo no sul no vasto Sahel, no grande Sudão, num momento em que se propõe revitalizar as cimeiras árabes conformando-as à mudança de paradigma e estabelecendo outro carácter na presença no Sahara e no Sahel.

Se houver êxito nessa cimeira (que ocorrerá dias 1 e 2 de Novembro de 2022), o financiamento ao jiadismo pode decrescer, com as capacidades financeiras a serem revertidas em investimentos produtivos capazes de fazer fermentar um renascimento africano!

No seguimento da “Operação Serval” a “Operação Barkane” lançada pela “FrançAfrique” chegou a alcançar mais de 5.000 efectivos que tornou as forças armadas dos estados do Sahel seus complementares, na verdade seus acessórios.

No Mali contudo, desde a eclosão da Azawad enquanto consequência tuareg da destruição da Jamairia Líbia pela OTAN/AFRICOM, que a evolução da situação vem expondo o neocolonialismo da “FrançAfrique” em toda a sua dimensão política, económica e militar, de forma tal que é feita a radiografia de suas entranhas apontadas pelos jovens militares como cúmplices do caos e do terrorismo islamita-sunita.

Por tabela o “modelo” da “democracia representativa” que se ajusta ao neocolonialismo impante em toda a África do Oeste e Sahel, expõe a falácia da competitividade, que se reduz, década a década, à exploração desenfreada das riquezas naturais e matérias-primas de que a França e a Europa são tão alucinadamente carentes, sem que isso traga benefícios palpáveis para os povos africanos!

As “democracias representativas” que dão azo ao neocolonialismo em África, não podem mais ser legitimadas!

A Europa colonialista tornou-se na Europa neocolonialista e a “FrançAfrique” sendo um dos seus principais esteios de domínio subsidiário ao “hegemon” tem na “Operação Barkane” uma das “espinhas dorsais” militares tornadas pelos expedientes neoliberais em filtros tácitos do caos, do terrorismo e da desagregação “straussiana” aplicada a África em função da destruição da Jamairia Líbia, pelo que a cimeira árabe incentivada pelo governo de Treboune na Argélia, pode-se tornar num verdadeiro ponto de viragem apto à conformação das revoltas militares que se vão sucedendo desde a saga do Mali, assim como em relação ao fim do colonialismo marroquino no Sahara, ou ainda à unidade de luta na Palestina e em prol da Palestina!

A “Operação Barkane” migrou do Mali, onde a França recebe reveses sucessivos, inspiradores para outros como o Burkina Faso e concentrou-se agora, com um efectivo modicamente reduzido a cerca de 1.500 homens, na defesa das minas da Areva no Níger, plataforma dilecta dos drones do AFRICOM no norte do continente africano.

A influência da Federação Russa motivada para a cooperação ganha-ganha, para a solidariedade em todo o Sul Global e sustentando uma multilateralidade motivadora de natureza sociocultural, pode ser ainda insipiente nas relações estado a estado, mas cresce como resoluta fonte de inspiração também por causa da luta armada de libertação que faz soprar com sua própria intervenção na e desde a Ucrânia!

Tal como a “FrançAfrique” se vai tornando obsoleta apesar dos seus arautos que têm por exemplo voz na Jeune Afrique, as “democracias representativas” filtradas pelo domínio produtor de fantoches “civis” (à boa maneira das “redes Foccart”) de contraditório em contraditório podem ter os dias contados, fazendo eclodir do seu húmus poderes que se vão aproximando de alianças cívico-militares que têm na Venezuela Bolivariana e em Cuba Revolucionária dignos exemplos, também nos parâmetros de seu respeito para com a Revolução Argelina e tudo o que ela recriou e pode recriar em prol do renascimento árabe e africano!

O êxito da cimeira árabe na Argélia sob o signo da mudança de paradigma (A Argélia apresta-se a entrar nos BRICS+), pode tornar-se num diapasão por todo o Sahel, a ponto de poder possibilitar uma Nova Rota da Seda, entre Porto Sudão e Dakar, o trans-Sahara, ou o trans-Sahel do grande Sudão!

A Argélia activa no Não-Alinhamento, está-se a assumir como um factor catalisador de cooperação, de solidariedade, de multilateralismo e de paz!

A agonia da “FrançAfrique” possibilitará o renascimento africano, com um horizonte legítimo, fomentador de aspirações e sobretudo, por via do Não-Alinhamento, livre das amarras neocoloniais!

Círculo 4F, Martinho Júnior, 6 de Outubro de 2022.

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Imagen: Analizamos la «epidemia de golpes de Estado» en África Occidental – Los habitantes del Sahel quieren gobiernos reales y soberanos que actúen en favor de sus intereses.  Sin embargo, la interferencia de Estados Unidos, la influencia de Francia y otros colonizadores y el gobierno neocolonial han contribuido a esta “epidemia de golpes de Estado” en África Occidental. – https://umoya.org/2022/06/08/analizamos-la-epidemia-de-golpes-de-estado-en-africa-occidental/

Suporte de textos:

Textos de Martinho Júnior:

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