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¡Nadie toca a la Angola socialista y revolucionaria!

NA ANGOLA SOCIALISTA E REVOLUCIONÁRIA NINGUÉM TOCA!

UMA FORJA DE LUTA.

(apontamentos de lógica com sentido de vida, uma imprescindível essência da própria história que nos havia de tocar)

As lutas de libertação em África, em especial aquelas que com toda a legitimidade tiveram de ser feitas de armas na mão, ilustram a saga libertária que sacudiu o globo depois da IIª Guerra Mundial.

O facto do “hegemon” ter saído vitorioso na IIª Guerra Mundial (o império já o era no rescaldo da IIª Guerra Mundial e a prova está nas centenas de bases que foi mantendo no “ultramar”, a começar nas potências derrotadas do Eixo, no Japão, na Itália e na Alemanha), permitiu, logo na sequência dos bombardeamentos atómicos sobre Hiroshima e Nagasaki no Japão, começar uma contínua agressão itinerante ao Sul Global, que 76 anos depois do início, não terminou.

Instalou por via da implantação do sionismo um estado artificial e artificioso em território palestino, tirando partido dos “bons ofícios” do império colonial britânico quando a coroa britânica saía esvaída da IIª Guerra Mundial e a partir dessa instalação forçada, gerando sempre terrorismo, caos e desagregação, cultivou até nossos dias o anátema da IIIª Guerra Mundial não declarada contra o Sul Global, começando por reduzir a migalhas e a pó a própria Palestina!

O “hegemon” com esses pés promoveu sempre a cultura anglo-saxónica de domínio exclusivista, elitista e egoísta, numa base capitalista, reduzindo todos os actos humanos aos parâmetros de lucro capitalista, cada vez em menos mãos, cada vez mais especulativo e o resultado foi um crescimento exponencial de tensões, conflitos e guerras “itinerantes” que continuam a varrer todo o Sul Global, com o fogo sempre aceso na Palestina!

A IIIª Guerra Mundial do poder dominante exclusivista anglo-saxónico redundante do império colonial britânico, vai marcando de forma sangrenta, de há 76 anos a esta parte todo o Sul Global e o povo palestino tem sido um dos mais castigados por um regime que, tal como o sul-africano partícipe do Exercício Alcora, possui natureza nazi e de “apartheid”!

A luta armada de libertação no continente africano contra o colonialismo e o “apartheid”, multiplicou durante a segunda metade do século XX os Vietnames e é um marco sublime, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, das espectativas de lógica com sentido de vida, de amor por toda a humanidade, de respeito para com a Mãe Terra e de paz aberta ao renascimento emergente dos povos, em particular os povos de África, os mais oprimidos, reprimidos e fustigados entre todos, a par do povo palestino!

Respeitar esses povos mais oprimidos, mais reprimidos, mais sujeitos ao fascismo e aos nazis por que sofrem directamente essa natureza de jugo e flagelação, é resgatar civilização em terreno de barbárie!

Nas convicções e no horizonte dessa luta que se tornou cada vez mais participativa e solidária, havia o farol inequívoco do socialismo!

Com essa luta era pesado o passo entre uma autodeterminação redutora, por que só capaz de alinhar elites, máfias, etno-nacionalismos e neocolonialismo quanto baste e uma independência plena com soberania Não-Alinhada, ampla, consolidada por uma aliança popular cívico-militar capaz de se assumir como luta popular generalizada e por isso impossível de ser derrotada por um qualquer “apartheid”!

Durante dez anos, entre o 11 de Novembro de 1975 e o 23 de Março de 1986, nus entre os lobos, conseguiu-se manter a substância duma Angola que ninguém ousaria tocar, uma República Popular de aspirações socialistas e solidária entre os solidários, internacionalista entre internacionalistas, por que para além da clarividência em busca do enorme desafio que era o socialismo, eram os nossos próprios corpos a fronteira combatente com a vocação duma trincheira firme da revolução em África!

A minha insignificante saga pessoal inscreve-se nessa saga colectiva maior, por que desde os tempos da escravatura dos africanos, que necessário se torna, de resgate em resgate, assumir a vitalidade da humanidade e do próprio planeta, Mãe Terra!

Para tal é imperativo haver consciência e conduta onde se inscreve tanto de sabedoria, como de dignidade, de liberdade, de independência ampla, no colectivo de saudável soberania aberta à participação e ao protagonismo!

Entre 1974 e 1986 os angolanos tiveram um ponto alto e único: a República Popular de Angola, quando a aliança cívico-militar estava em inteira sintonia com os camponeses e os operários e determinantes substantivos como amor, como vida, tinham seu peso denso, total, concreto e palpável numa luta com horizontes de dignidade e justiça social!

Foi nesse fervor patriótico que foi possível um deitar mãos à obra, a ponto de ser essa uma renúncia impossível!

É imperdoável perder essas convicções e essa trilha em nome da lógica com sentido de vida, algo que os ácidos do choque e da terapia neoliberais, em nome do “hegemon” continuam em Angola a tentar “aprofundar”!

 

01– Em 1975 o Grupo de Operações Especiais da Segurança do Estado Maior Geral das FAPLA, (GOE da SEMG das FAPLA) tinha estrategicamente contribuído, por via de muitas acções de ordem tática, para garantir a assunção do poder do MPLA em Luanda e para estabelecer um cordão protector em torno da capital, à aproximação da proclamação da independência, a 11 de Novembro de 1975!

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Marco da história da independência – Em 10 de Novembro de 1975,  os bairros de Luanda registavam um movimento frenético de jovens, adultos, anciãos e crianças, para travar a as forças que queriam impedir a proclamação da independência nacional. Em Kifangondo era travada, entre as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola e a FNLA, com o apoio dos exércitos do ex-Zaire e África do Sul,  a batalha que foi decisiva e que mudou  a história do país. – https://jornaldeangola.ao/ao/noticias/detalhes.php?id=228275

A manobra do cordão protector foi feita de forma a impedir acesso a forças invasoras utilizando os etno-nacionalismos de sua feição e agenciamento:

  • A força que utilizou a norte o rótulo da FNLA/ELNA, (Exército de Libertação Nacional de Angola), sob cobertura e interesse geoestratégico e político de Mobutu, em socorro do plano Kissinger com o lançamento da Operação Iafeature, o plano da CIA contra Angola;
  • A força que a sul utilizou o rótulo da Unita/FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola), uma vez que o Exercício Alcora da manobra comum colonial-fascista / “apartheid”-nazi, desde logo garantiu o trespasse de Savimbi, da Operação Madeira à Operação Savannah, um “êxito” que acabou também por integrar os grupos armados às ordens de Daniel Chipenda, vencida a revolta por ele subtilmente chefiada dentro do MPLA, em 1974 na Zâmbia (origem do batalhão Búfalo, nº 32, das South Africa Defence Forces, SADF, que participou nessa operação).

Com esse quadro estratégico para 1975, o GOE da Segurança do EMG/FAPLA, instalado clandestinamente num circuito de modestas residências abandonadas na área da Camuxiba (à Samba), fazendo cobertura próxima à sede do EMG das FAPLA, por seu turno instalado no Morro da Luz, foi cumprindo com um caudal de missões que se sucederam sem parar, a quente, provocando alterações de organização interna, da composição humana e de forma a melhor se adequarem aos desafios e obrigações operativas cada vez mais exigentes.

Ainda na 1ª metade de 1975 era necessário realizar um quadro de missões que obrigava à utilização de combatentes com a tez mais clara, mas à medida que se foram realizando operações mais extensivas e também as que se sucederam fora de Luanda, esse critério inicial foi adequadamente alterado, partindo dos seguintes critérios de operacionalidades táticas urbanas e suburbanas:

  • Infiltrar, conter e neutralizar os grupos reaccionários colonialistas de várias sensibilidades políticas (FRA, ESINA, PCDA, FUA e outros), assim como algumas estruturas económico-financeiras (caso do Banco Pinto & Soto Maior do grupo Champalimaud), que queriam uma independência do tipo da Rodésia de Ian Smith;
  • Realizar acções de penetração dirigida em aquartelamentos das Forças Armadas Portuguesas (FAP) a fim de desviar armas, munições e meios e com isso contribuir para reforçar as fontes de abastecimento de armas e equipamentos militares das FAPLA (numa velada concorrência com a FNLA em função da ideologia e prática do spinolismo mesmo depois do general António de Spínola perder o poder) e com acrescidos riscos em função das clivagens dentro das FAP e do próprio MFA; destaque para a contribuição do 1º sargento do ASMA, das FAP, José Coelho Tenazinha, recentemente falecido, que propiciou muitas missões exitosas, evitando riscos de vária ordem;
  • Realizar acções de desgaste, combate urbano e neutralização do ELNA, braço armado e da própria FNLA, que se apresentavam filtrados por unidades regulares das Forças Armadas Zairenses (FAZ) e correspondia à Operação Iafeature da CIA contra Angola, o que incluiu ataques a destacamentos militares urbanos, desvio de equipamentos militares oferecidos à FNLA, raptos e acções sensíveis de contrapropaganda; este tipo de missões por vezes exigiu coordenações com outros sectores e entidades do MPLA e das FAPLA, como o caso do camarada Hélder Neto desde quando ele se instalou transitoriamente no Comando Operacional de Luanda, na Vila Alice;
  • Garantir a segurança de oficiais das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba (entre eles o Comandante Arguelles) que haviam chegado de forma clandestina, a fim de dar início em solo angolano à Operação Carlota;
  • Garantir a possibilidade de residência clandestina ao Mais Alto Nível do MPLA (o camarada Presidente Agostinho Neto esteve pelo menos uma vez lá instalado durante cerca de uma semana);
  • Participar nos combates em toda a extensão do campo de batalha de Kiangondo, até aos combates nos Dembos (impedindo o acesso a Luanda ao ELNA e mercenários da Operação Iafeature da CIA, entre eles o agrupamento do Exército de Libertação de Portugal, ELP, sob comando do Coronel Santos e Castro).

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    Conmemoran aniversarios de la Operación Carlota y de la sublevación esclava del ingenio Triunvirato – Matanzas, Cuba. –  En el escenario de hace 177 años, los matanceros conmemoraron la sublevación esclava del ingenio Triunvirato que, liderada por la negra lucumí Carlota fue inspiración para la denominación de la operación militar para la liberación de Angola; iniciada un día como hoy en el año 1975. Ofrendas florales del pueblo matancero a los héroes y mártires de la gesta emancipadora fueron depositadas ante el conjunto monumentario que rememora el acontecimiento histórico, con la presencia de Liván Izquierdo Alonso, primer secretario del Partido aquí y Mario Sabines Lorenzo, gobernador. – https://www.radiorebelde.cu/noticia/conmemoran-aniversarios-de-la-operacion-carlota-y-de-la-sublevacion-esclava-del-ingenio-triunvirato-audio–20201105/

A utilização do GOE da Segurança do EMG/FAPLA contribuiu dessa forma tão discreta quanto era possível, para responder aos quesitos mais progressistas de descolonização de Angola, de acordo com a linha de orientação dialética não-alinhada, socialista e anti imperialista do MPLA de então, unido e coeso em torno da figura do Presidente António Agostinho Neto!

Além do campo de Batalha de Kifangondo, necessariamente alargado aos Dembos, travaram-se outras duas batalhas, em Cabinda e no Ebo, vitoriosas sobre um inimigo que queria a todo o transe implantar um regime neocolonial dócil a fim de melhor poder explorar as imensas riquezas naturais de Angola e das regiões circundantes…

Teriam de esperar pelos sucessos do Acordo de Bicesse para que Angola começasse a abrir as portas aos seus interesses e conveniências e mesmo assim só depois dum propositado choque neoliberal que se consumou entre 1992 e 2002, com Savimbi a enredar-se na “Iª Guerra Mundial Africana”, a sua “guerra dos diamantes de sangue”, de forma a depois, tirando partido de mais uma “democracia representativa e multipartidária” injectada a partir dos artifícios insuflados a partir do exterior, conseguir abrir a via duma paz capitalista condicionada, algo que não haviam conseguido por via das armas, nem do fraccionismo, quando o projecto socialista da aliança cívico militar determinante na luta popular generalizada contra o “apartheid” e seus apêndices tentou alcançar e a firmar no poder antes, durante e depois do 11 de Novembro de 1975!

Foi nessa escola que se percebeu bem o que era um movimento de libertação numa incessante luta armada digna de não-alinhamento e em busca de socialismo, versus o que era etno-nacionalismo filtrado pelo colonialismo, pelo “apartheid”, pelo neocolonialismo e, por canais europeus inerentes às antigas potências coloniais (Portugal e França), pelo “hegemon”!

A forja da luta anti imperialista ficou desde aí consumada em muitas vidas de jovens combatentes e, com ela, a justa interpretação sobre os fenómenos da libertação e da vida em toda a África Central e Austral!

É imperdoável para aqueles que deram a sua contribuição a essa saga, esquecê-la e motivarem-se na perfídia divisionista do capitalismo rampante nascido “oficialmente” com Bicesse!

 

02– Consumada a independência era necessário romper até às fronteiras, de forma a expulsar as forças invasoras mercenárias e com isso neutralizar os esforços da ementa neocolonial por via dos etno-nacionalismos apostados em tomar o poder em Angola com deliberadas ingerências e manipulações dum campo capitalista que ia desde as operações encobertas da CIA, à intervenção do “apartheid” em redundância de sua presença desde 1968 em Angola sob cobertura do Exercício Alcora…

Por essa razão foi o corpo operacional transferido para a ilha Cazanga, na baía do Mussulo, onde se prepararam os efectivos a fim de os tornar aptos às capacidades básicas de fuzileiros navais, com a missão de desembarcar em Ambrizete a partir de pequenas lanchas de desembarque e progredir nas colunas motorizadas que iriam retomar o país até às fronteiras!

O GOE era muito versátil adequando-se rapidamente ás exigências operativas através de formação intensa em Centros de Instrução Revolucionária que programavam em função das exigência táticas que se colocavam aos combatentes, por que a base ideológica de mobilização gerava a atmosfera humana de camaradagem, de solidariedade, de voluntarismo abnegado e rigoroso e de criatividade, que fazia suprir todas as dificuldades e obstáculos, com resultados acima das espectativas.

Para a batalha de Kifangondo por exemplo, o GOE desdobrou-se nas seguintes missões:

  • Acções de reforço das posições entre o rio Bengo e o Dange, que incluiu a retomada da localidade da Barra do Dande a partir da área da fazenda Martins & Almeida, Martal; As escaramuças entre Bengo e Dande, em torno sobretudo da posição do Morro da Cal, foram importantes para retardar a “ofensiva final” das forças sob o rótulo da FNLA na tentativa frenética e sobre a hora da tomada de Luanda;
  • Colecta clandestina de armamento, desviando-o a partir dos quarteis das Forças Armadas Portuguesas, apesar dos riscos; neste caso recordo que no dia seguinte à saída da prisão depois duma missão malparada de desvio de material, da Base Naval à Ilha de Luanda, foi-se buscar um camião Berliet carregado de 44 morteiros de 81mm e caixas de munições, transportados directamente para a frente de Kifangondo onde foram entregues ao comendo das FAPLA lá estacionada; serviram para integrar as baterias de artilharia que fizeram fogo contra a tentativa de tomada de Luanda por parte da Operação da CIA contra Angola;
  • Destruição de pontes sobre o Bengo, nas vésperas do ataque final, de forma a obrigar as forças inimigas, já de si a fazerem uma corrida contra o tempo, a trilhar o caminho obrigatório sobre o qual se faria incidir a barragem de artilharia; a ideia era, aguçando a armadilha do funil, provocar no seu ponto mais estreito uma contundente derrota, de modo a que, derrotando e desmoralizando a força invasora, fosse impossível a ela recuperar-se;
  • Integração nos dispositivos da aba leste do campo de batalha, (do funil) que se estendia pelos Dembos, a nordeste e a leste de Luanda; colocaram-se irremediavelmente as forças inimigas entre os Dembos e o mar, obrigando-a ao afunilamento em Kifangondo, o que deu o nome à batalha; desse modo impediu-se que os da Operação Iafeature, que incluíam experientes forças do Exército de Libertação de Portugal (ELP) sob comando do coronel Santos e Castro, pudessem tomar um caminho que a partir do Úcua passaria pela Cacamba, Gombe ya Muquiama, Pango Aluquém, Cazuangongo, Forte João de Almeida e Maria Teresa, podendo surgir por leste, via Catete na tentativa da tomada de Luanda.

 

03– Foram meses muito intensos vividos com elevado espírito patriótico e empolgamento, pois havia fervor no cumprimento das sucessivas missões à medida que se aproximava o dia da independência e depois quando foi necessário por fim retomar todo o território nacional, garantindo efectiva independência, soberania e liberdade numa base popular cimentada por uma aliança cívico-militar capaz de enfrentar um inimigo à altura do “apartheid” e dos que o apoiavam a nível internacional com toda a discrição própria da vergonha, em função dos interesses do império.

A República Popular de Angola, o MPLA Partido do Trabalho, as FAPLA a que se juntavam a Segurança do Estado e a Organização de Defesa Popular, ODF, estas últimas formadas massivamente em todo o país nos ambientes urbanos e rurais, prontificaram-se para a Luta Popular Generalizada por via duma aliança cívico-militar que foi essencial para derrotar o “apartheid” que por seu turno explorava algumas das sequelas etno-nacionalistas do Exercício Alcora, que para além dos rótulos da FNLA e da Unita, incluíam operações de inteligência com o concurso do sistema de informação dos serviços militares portugueses após o golpe de 25 de Novembro de 1975 em Lisboa.

Se antes os dispositivos colonial-fascistas portugueses tinham sido fortalecidos em meios e equipamentos militares de toda a ordem em função de filtragens “stay behind” da NATO, de forma oculta, a fim de garantir a continuidade do seu domínio, as formas clandestinas na transição do Exercício Alcora em benefício das articulações do “apartheid”, reavivavam também o cunho anti imperialista, anti NATO e anti saudosismo colonial-fascista de todos os que em estado de pureza alinharam na luta nesses termos de libertação na África Central e Austral.

Nos dez primeiros anos de existência, numa Angola socialista e revolucionária ninguém tocou, apesar da tentativa do golpe de estado do 27 de Maio de 1977 por parte de alguns que defendendo a divisão das forças do interior contra os que fizeram a luta armada a partir de fora, pretenderam pela força das armas de facto tomar o poder e apesar das sequelas desse golpe que desde logo começaram a minar algumas correntes intestinas do MPLA, as mais confusas nos seus ideais!

Angola tornou-se na “trincheira firme da revolução em África”, basilar na luta contra o “apartheid” e no cunho anti imperialista que se assumiu com coragem, abnegação, unidade, coesão. Solidariedade e internacionalismo!

Também por essa razão a partir de Lisboa e no rescaldo do golpe de 25 de Novembro de 1975, se o golpe fraccionista em Angola não pegou a 27 de Maio de 1977, enquanto houver “arco de governação” há que alimentar a campanha golpista, por que essa é a cultura obrigatória de quem serve os interesses do “hegemon”, dividindo em obediência ao carácter da própria NATO e sua injectada tendência para colectar redes “stay behind” de aspiração neofascista, neonazi ou etno-nacionalista, ou, lançando a confusão neoliberal, abrir espaço para seus próprios interesses quando os angolanos ficarem reduzidos a migalhas ou a pó!

Todo esse esforço popular da primeira década da RPA foi essencial até Março de 1986, altura em qua a Segurança do Estado sofreu o golpe interno das profundas alterações que se avizinhavam, que além do mais envolveram o fim do Partido do Trabalho, o fim da heroica República Popular de Angola, o fim de sua aliança cívico-militar testada em tantos combates e missões, por tabela o fim das gloriosas FAPLA, por via do malparado, apressado e empírico Acordo de Bicesse de 31 de Maio de 1991.

Foi o processo político interno e no alvoroço de correntes oportunistas que levou aos sucessivos golpes desferidos contra o emergente Partido do Trabalho e seu poder de estado, mas esse processo inter-relacionou-se com a conjuntura da deriva socialista de então, no percurso que desde Krutchev foi minando a própria União Soviética, ela mesma arrastada para a clivagem contra a República Popular da China!

O Não-Alinhamento não possuía força suficiente para melhor equacionar a energia libertária duma aliança cívico-militar em Angola e por isso se abriu a correntes oportunistas que “pragmaticamente” introduziram, pouco a pouco, o desvario do “mercado” consumista de portas escancaradas, a que por sinal nem os aliados socialistas de então conseguiram resistir!

Se nos dez anos imediatos à independência e exercício de soberania, era impossível a alguém tocar em Angola, quantas ingerências e manipulações não se sucederam desde então, desde o Março de 1986, fez agora 35 anos, quando os organismos de Segurança de Estado foram severamente tocados e “transformados”?

Se em 5 anos, entre Março de 1986 e Maio de 1991, as “transformações” levaram ao fim do Partido do Trabalho e da República Popular de Angola, por tabela ao fim da aliança cívico-militar que derrotou com a ajuda dos aliados externos o “apartheid”, quanto essa degenerescência não se acelerou até ao “clímax” do malparado Acordo de Bicesse?

Da minha parte e enquanto antigo combatente da Luta Armada de Libertação em África, manter a chama anti imperialista é toda uma questão de história, de antropologia comportamental, de fidelidade, de coerência, de dignidade, de solidariedade para com as pátrias combatentes como Cuba e a Venezuela Bolivariana, de afirmação de Não Alinhamento e de imprescindível e contínua prova de lógica com sentido de vida!

Seria imperdoável se assim não fosse!

Nessa Angola tornada história e íntimo santuário, ninguém toca e por isso o caudal anti imperialista, enquanto persistir o “hegemon”, alimenta a luta e as convicções minhas e de muitos antigos combatentes ainda fielmente vivos, sem se deixarem arrastar pelo deslumbre duma qualquer inércia, nem se deixarem enganar por alguma manipulação decorrente da degeneração desse processo!

 

Luanda, 18 de Maio de 2021.


(Imagens do monumento à batalha de Kifangondo, em Angola e da escrava Carlota, em Cuba, quando o parto da independência era um culminar vitorioso sobre uma saga de barbárie transcontinental e transatlântica de mais de 500 anos!)

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