F:\PRODUÇÕES\2021\MJ - JUL 21\RPA - 01..jpg
África SubsaharianaArtículos

Angola, ruptura, liberación y vida – IV

(Continuación de Angola, ruptura, liberación y vida – III)

ANGOLA, RUPTURA, LIBERTAÇÃO E VIDA – IV.

A CONSUMAÇÃO DO PROGRAMA MÍNIMO DO MPLA É UMA PORTA DE AUTODETERMINAÇÃO ABERTA AOS DESAFIOS VITAIS QUE SE COLOCAM A ANGOLA.

UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA DAS RAZÕES PORQUE “A LUTA CONTINUA” DESDE A SAGA ANTICOLONIAL, AO ANTIIMPERIALISMO INTERNACIONALISTA DE NOSSOS DIAS.

Durante a 1ª metade da década de 70 do século passado, as contradições secundárias ganharam expressão, quer na tese colonial-fascista, quer na antítese, em resultado não só das doutrinas seguidas, mas também do jogo de inteligências implicadas nas disputas.

Em Angola como nas outras colónias portuguesas, o colonialismo estava desgastado e a africanização da guerra produziu um campo de manobra suplementar para o movimento de libertação que lutava de armas na mão.

O MPLA sofria fraccionismos por onde quer que passasse: em Kinshasa (Viriato da Cruz), em Brazzaville (Revolta Activa), em Lusaka (rebelião do leste e Chipenda) e escapou em Dar es Salam, também porque ali se estava longe das fronteiras…

Para o império (“hegemon” em formação) e seus vassalos (onde se incluíam o colonialismo e o “apartheid”) era intolerável a formação duma vanguarda rebelde, pelos que os serviços de inteligência conjugavam seus esforços contra ela a fim de a neutralizar e moldar aos termos de sua conveniência.

Entre todas as organizações rebeldes, a vanguarda constituída em MPLA era o alvo principal a abater.

A capacidade da vanguarda cultivada pelo MPLA em torno do Presidente Agostinho Neto, tornou-se assim eminentemente anti-imperialista, o que se viria a reflectir na Proclamação de Independência a 11 de Novembro de 1975!…

Desse modo, com a derrota sucessiva dos fraccionismos até à concretização do Programa Mínimo, a favor dos processos dominantes haveria que provocar mais um fraccionismo quando foi proclamada a República Popular de Angola e nada melhor que deitar mão a um projecto com indícios etno-nacionalistas ainda em formação, dividindo e mobilizando os do “interior” contra os do “exterior”, conforme à ideologia de Eduardo Artur Santana Valentim, Juca Valentim, recorrendo a mobilizações sobretudo em círculos repescados nas prisões, integrantes de alguns comités clandestinos da capital e de alguns outros que viveram a saga da asfixia da Iª Região Político Militar…

Na zona cinzenta do colonial-fascismo podiam-se produzir esse tipo de envenenados frutos, para o que desse e viesse…

 

F:\PRODUÇÕES\2021\MJ - JUL 21\RPA - 01..jpg

11 de Novembro de 1975 – Ambiente efervescente em Luanda a 11 de Novembro – Aquele dia de Novembro amanheceu diferente. Algo bastante incomum se sobrepôs ao quente clima característico do mês em que a chuva aumenta de intensidade e as flores desabrocham. O ambiente estava impregnado da azáfama que acompanha as ocasiões extraordinárias. Faltavam poucas horas para a então província ultramarina portuguesa de Angola dar lugar a mais uma nação africana soberana. Na véspera do acontecimento singular, os jornais da época publicados em Angola e em Portugal reflectiam os instantes que antecederam o fim da colonização que durou cinco séculos. – https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/detalhes.php?id=368015

 

15- Entre 1970 e a Proclamação da Independência (11 de Novembro de 1975) o MPLA teve de fazer frente às contramedidas da internacional fascista já com o Exercício Alcora em pleno funcionamento, sem abdicar do Não Alinhamento Activo e isso apesar da propaganda “anticomunista” em uso no argumento de “Guerra Fria” que interessava ao colonialismo português e rodesiano, tal como ao “apartheid” (para o colonial-fascismo e o “apartheid” fazia-se desconhecer o vigor do Movimento dos Não Alinhados).

Em 1970 era o CCPM, Comité de Coordenação Político Militar, o organismo reitor do MPLA do qual faziam parte o Presidente, Lúcio Lara, Iko Carreira, Monimambo e Chipenda…

Quando o MPLA foi obrigado à retracção de suas linhas de penetração por causa da resposta da tese ideológica colonial-fascista já em pleno âmbito do Exercício Alcora, eclodiu um aumento dos contraditórios internos num processo que, se produziu como resultado o fraccionismo de Daniel Chipenda, acabou também por fortalecer o núcleo duro de fiéis em torno do Presidente Agostinho Neto.

As comunicações num espaço territorial tão vasto, eram outra condicionante para a antítese em luta e alguns sectores como a Revolta Activa, que acusava o Presidente António Agostinho Neto de “presidencialismo”, tiraram partido do conjunto desse tipo de debilidades, em especial quando nas rectaguardas os factores de inteligência neocolonial se reforçavam.

O CPPL com o Movimento de Reajustamento foi substituído pelas Comissões Provisórias de Reajustamento já sem a presença de Daniel Chipenda…

A tese colonial-fascista sincronizou seus esforços de introdução prática dos seus conceitos de guerra de contrassubversão, com o seu jogo de inteligência em África, dando particular atenção às “plataformas” (do Zaíre, do Congo e da Zâmbia).

Muitos aspectos relacionados com a 1ª Região Político Militar faltam ainda desvendar, mas aqui é justo referenciar que a ocupação colonial, o lado errado da história, asfixiando até à exaustão a 1ª RPM, tinha à sua mercê os destinos de milhares de combatentes entre homens, mulheres e crianças que se encontravam ainda nas matas, ou em vias de as abandonar e por isso, ao emocionalmente viver esse desespero que era também o meu, tive a lição ao vivo de poder avaliar o que era a um processo de contraditórios e como se poderia fazer para buscar sempre as melhores opções num quadro de lógica com sentido de vida.

A situação tornou-se particularmente dolorosa na Zona “C” da 1ª RPM, onde se encontrava o destacamento da Companhia de Caçadores 1204 das Forças Armadas Portuguesas (recrutamento do Regimento de Infantaria nº 21, de Nova Lisboa, actual Huambo) em que me encontrava integrado, na fazenda Santa Clara (próximo das aldeias do Kage, Mazumbo, Combe e Esso que haviam sido mobilizadas pelo MPLA e se encontravam nas matas, preenchendo as bases Deolinda e Tala Hady).

Pude constatar o papel dos fazendeiros no sentido de integrar os procedimentos de asfixia à Iª RPM do MPLA sob orientação dos serviços de inteligência colonial-fascista que se desdobravam em múltiplos tentáculos…

Alguns comités clandestinos do MPLA tentaram responder com a criação de fazendas que pudessem tornar-se apoios não só para os movimentos da guerrilha mas também propiciar centros clandestinos de formação da guerrilha, mas esses planos foram descobertos, os seus principais responsáveis presos e sujeitos a severas medidas de isolamento (caso do camarada Hermínio Escórcio, internado sob apertada vigilância na foz do Cunene).

As linhas de penetração na 3ª e 4ª RPM foram por seu turno sujeitas a duras provas implicando na sua contenção, circunscrição, ou tentativa de aniquilamento, tendo como uma das alternativas, uma vez que a atracção da população passou a ser o objectivo prioritário do colonial-fascismo, a fuga para as bases de rectaguarda na Zâmbia, a fim de ser possível reagrupar, reorganizar, reequipar e reequacionar o quadro estratégico e tático de operações.

Nos aldeamentos em que se reagruparam as populações, uma zona cinzenta deliberada, nem por isso o colonialismo as conquistou, obrigando-as todavia, entre hesitações e rupturas com suas tradicionais culturas, a adoptar novos métodos de clandestinidade e movimento!

Pouco a pouco verificou-se que com o domínio do espaço aéreo e dos movimentos de intervenção por parte do colonial-fascismo coligado no âmbito do Exercício Alcora, sobretudo em áreas de savana e mata esparsa (e particularmente na estação de cacimbo), o plano de penetração do MPLA estava a ser severamente posto em causa, ou condicionado.

O domínio do processamento de dados, pesquisa de informação e oportunidade analítica, assim como das capacidades de contrainformação, de contrapropaganda, de asseguramento de espaços territoriais e do reagrupamento de comunidades civis (populacionais), pendeu momentaneamente para o lado do colonial-fascismo, provocando o incremento dos contraditórios internos do MPLA pendentes ou novos, reflectindo-se sobre a estrutura operacional da Frente Leste.

Em função do carácter da contração, no MPLA surgiram em cadeia os contraditórios internos estimulados pela Revolta Activa, pela Revolta do Leste e pela Revolta de Chipenda (que haveria de aglutinar os da Revolta do Leste), tentando afectar o mando do líder nos termos do pensamento dialético e estratégico e o rumo estratégico da condução vanguardista do MPLA (surgimento de novas correntes de interpretação e prática que por dentro procuraram desvirtuar o rumo do MPLA).

Registou-se o imediato incremento de contraditórios com pendentes antigos (consubstanciados na Revolta Activa) e novos (Revolta do Leste, de ordem étnica e Revolta de Chipenda, na direcção do etno-nacionalismo); a Revolta Activa pretendia mais flexibilidade nas abordagens e mais liberalização no poder e no exercício do poder do líder do MPLA, alvo dilecto da sua crítica, quando o objectivo a que havia conduzido o rumo, começava a estar à vista.

A Revolta Activa procurava assim uma “abertura” incompatível com o esforço da vanguarda, conducente a um desvio neocolonial.

Uma das conexões então indiciadas por parte da Revolta Activa no Congo, era a figura de Henri Lopes (Primeiro Ministro da República do Congo de 28 de Julho de 1973 a 18 de Dezembro de 1975), um intelectual afecto às superestruturas ideológicas de algumas das redes da FrançAfrique cultivadas desde as redes Foccard…

O MPLA, principal alvo a abater, sofreu processos de inteligência conjugada à ofensiva das Forças Armadas Portuguesas, incrementados pela internacional fascista e do âmbito do Exercício Alcora, com o empenho das transnacionais extractivas mineiras e agrárias, (âmbito do “Le Cercle”) particularmente junto aos mecanismos de poder do Presidente Zambiano, Kenneth Kaunda.

Em Kinshasa, os enlaces da diplomacia inteligente do colonial-fascismo (PIDE/DGS) com o regime de Mobutu, conseguiram diminuir as possibilidades operativas de actuação do Governo Revolucionário de Angola no Exílio, GRAE, formado pela FNLA, possibilitando assim que a internacional fascista se concentrasse contra o MPLA!

Os contraditórios internos permitiram a filtragem das fileiras de que o pensamento dialético e estratégico do Presidente Agostinho Neto, habituado à gestão de crises agudas e por vezes radicalizadas, acabou por tirar estratégica vantagem, apesar das perdas de ordem tática que elas implicavam.

Tornava-se cada vez mais prioritário um novo inventário geral da situação, um novo balanço estratégico e tático, assim como uma maior atenção para com outras correntes intestinas e externas, algumas das quais em embrião e outras em fase de amadurecimento.

Houve penosamente a consolidação do rumo em torno do Presidente António Agostinho Neto, em relação aos contraditórios internos e externos, fossem de ordem estratégica, fossem de ordem tática, ainda que à custa do esforço operativo da organização em toda a linha, mas particularmente na sua Frente Leste.

Foi assim que foi constituído o núcleo duro revolucionário, a vanguarda em torno do Presidente Agostinho Neto, um núcleo duro que foi imprescindível na sequência do 25 de Abril de 1974…

As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, FAPLA, integrando esse núcleo duro, seriam proclamadas a 1 de Agosto de 1974 e tornaram-se num instrumento formidável que muito contribuiu para a Proclamação da Independência a 11 de Novembro de 1975 e para a luta popular generalizada contra o “apartrheid” e seus apêndices:

Com o estado colonial-fascista em colapso em função do golpe do 25 de Abril de 1974 em Portugal e do começo da actuação do Movimento das Forças Armadas Portuguesas (MFA), tornando-se possível pouco a pouco a junção das correntes internas que haviam sido remetidas à clandestinidade e à prisão, o MPLA encontrou novas forças para se reafirmar sob a liderança do Presidente António Agostinho Neto tendo as FAPLA como uma “espinha dorsal” de sua organização e mobilização.

Esta fase iria contribuir como preparação para mais tarde haver um salto, levando o Não Alinhamento Activo a um reforço de meios fornecidos pela URSS, ou como se veio a verificar, à premente capacidade perante os desafios do processo de descolonização que se iniciou com o fim institucional do colonial-fascismo.

A fermentação intestina do que iria ser a tentativa do golpe de estado de 27 de Maio de 1977 redunda de toda essa situação, mas também do que foi a zona cinzenta do colonialismo em função da sua tentativa desesperada de ganhar para a sua causa as populações de Angola.

F:\PRODUÇÕES\2021\MJ - JUL 21\RPA - 02..jpg

Apartheid Profits – Le Cercle – the phantom profiteers – Declassified – In the 13th piece in the collection, ‘Declassified: Apartheid Profits’ we examine British imperialist and insider Julian Amery, and the secretive network he led that supported apartheid South Africa. This article is drawn from the research for the book Apartheid Guns and Money: A Tale of Profit – https://www.news24.com/Columnists/GuestColumn/declassified-apartheid-profits-le-cercle-the-phantom-profiteers-20171026

 

16- Com a Frente Leste exposta, refeito da surpresa e da intensidade da penetração da guerrilha do MPLA, a tese do regime colonial-fascista fez a introdução duma nova filosofia, doutrina, ideologia e prática, em função dos enlaces propiciados pelo Exercício Alcora.

Isso determinou um novo quadro de contraguerrilha, visando a sua contenção, a sua circunscrição e, em casos de resistência, o seu aniquilamento (Despacho conjunto dos Ministro da Defesa e do Ultramar, de 7 de Outubro de 1970 para as 3 frentes – Guiné, Leste de Angola – Moçambique):

  • A “Directiva Angola em Armas” foi aplicada a Angola, sob a égide do general Costa Gomes, que havia chegado (proveniente de Moçambique), em nova comissão a 3 de Maio de 1970;
  • Estabeleceu a prioridade máxima para a conquista das populações, procurando atraí-las à causa colonial na disputa contra a guerrilha do MPLA;
  • Priorizou, ainda nesse quadro, a integração de procedimentos civis e militares nas acções de ordem estratégica e tática-operativa a desenvolver;
  • Criou o Conselho Provincial de Contra Subversão (CPCS), tendo como coordenador o Governador-Geral Rebocho Vaz (que esteve no cargo de 1966 a 1972), coadjuvado pelo Comandante Geral das Forças Armadas em Angola (general Costa Gomes);
  • Criou a (sub) Directiva Geral Angola em Armas, lançada a 30 de Março de 1968 (definindo zonas militares com seus sectores e áreas militares com suas zonas, ali onde era impossível a actividade politica-administrativa);
  • Fez surgir a Área Militar 1, (na ZMN), incidindo particularmente sobre a 1ª RPM, visando passar do cerco e circunscrição para a sua asfixia;
  • Reforçou as competências do Comandante da ZML de 1971 a 1973 (tarefa do general Bettencourt Rodrigues), a fim de lhe permitir planear, coordenar, dirigir e impulsionar a actividade tática operacional, em paralelo com o processamento de dados, acções de informação, contrainformação, análise, assim como pesquisa de informação, acções de contrassubversão, acções psicológicas e acções de segurança, numa base de contrapropaganda;
  • Criou na ZML um Conselho Especial de Contrassubversão a fim de gerir as manobras do novo quadro de contramedidas, desde o foco de sua incidência no sentido de atracção e controlo de populações e comunidades;
  • Estabeleceu enlaces operativos e operacionais com a direcção da Unita por via da Operação Madeira, o que levou esse etno-nacionalismo a reforçar os dispositivos contra a penetração do MPLA no leste de Angola, procurando assim subverter as intenções de vanguarda do MPLA;
  • Dinamizou o enquadramento da Unita atribuindo-lhe áreas e limites de actuação, ou seja, o seu deliberado confinamento, o que era possível em regiões de muito baixa densidade populacional e com rarefeita malha político-administrativa de ocupação, tirando partido das instalações madeireiras (tal como no norte tiravam partido dos fazendeiros de café e da rede de comerciantes retalhistas);
  • Estabeleceu enlaces de diplomacia inteligente no Zaíre que providenciaram o controlo por parte do regime de Mobutu do GRAE (FNLA), de forma a diminuir a intensidade do empenho dessa organização etno-nacionalista, chegando a abrir a porta de sua “integração” inspirada no “modelo” da Operação Madeira;
  • Impediu que houvesse acções de guerrilha contra o Caminho de Ferro de Benguela, num esforço conjugado a nível interno e externo (com as autoridades do Zaíre e da Zâmbia), motivo para enlaces da PIDE/DGS com as autoridades desses países o que muito contribuiu para o confinamento da Unita e a relativa neutralização do GRAE (FNLA);
  • Reorganizou interna e externamente, procurando voltar a ganhar a iniciativa perdida principalmente a leste (ZML para os dispositivos colonial-fascistas em Angola), tirando partido da actividade dos SCCIA, Serviço de Centralização e Coordenação de Informações de Angola;
  • Passou a utilizar movimentos rápidos em intervenções com a utilização da Força Aérea, Forças Especiais (comandos, paraquedistas e fuzileiros) articuladas com apoios terrestres, apoios aéreos, apoios fluviais e Forças Auxiliares (Operações Siroco) com o apoio do “apartheid” no sudeste despovoado;
  • Através do emprego de desfolhantes, herbicidas e armas químicas procurou acabar com a produção alimentar indispensável à logística da guerrilha e comunidades afectas, obrigando à penúria, ao abandono dos lugares escolhidos para sua implantação, à fuga, ou à sua captação em novos aldeamentos que em termos de contrapropaganda passaram a ser as “sanzalas da paz”;
  • Desenvolveu a rede de estradas nas áreas afectadas pela pressão da guerrilha (auxílio dos Fieis no Leste), assim como construir novas pistas para a aviação (na ZMN os terreiros do café permitiam pistas para a aviação tática).

Sobre a Zona “C” da 1ª RPM do MPLA pude constatar entre 1972 e 1974, destacado como alferes na Companhia de Caçadores nº 1204 das FAP em Pango Aluquém:

  • A tentativa em curso de asfixiar a 1ª RPM nos Dembos (provas recolhidas em função dos Destacamentos Deolinda e Tala Hady, da Zona C da 1ª RPM, segundo mobilizações das aldeias do Combe, do Esso e do Cage-Mazumbo);
  • A exaustão da capacidade tática operativa acompanhada de exaustão dos combatentes e comunidades civis nas matas, até ao ponto de ficarem entregues à sua sorte, à miséria, à fome e à compulsiva desnutrição e morte das crianças;
  • A impossibilidade de ligação ou conexão da 1ª RPM aos vínculos do MPLA no interior e no exterior;
  • As infiltrações de agentes dos SCCIA, da PIDE/DGS e dos Serviços de Informações Militares no comando da CCAÇ 1204, nos ambientes civis da área do café (redes de agentes entre fazendeiros e comerciantes) e em direcção aos Destacamentos da Zona C da 1ª RPM localizados junto à margem direita do rio Zenza (entre a foz do afluente Quiulo e a lagoa Quirima);
  • As pressões cada vez mais intensas de quadrícula, contrapropaganda e acção psicológica sobre as unidades de mobilização angolana, com emprego de forças muito superiores de mobilização portuguesa a fim de as cercar em quadrícula e controlar de perto;
  • A destruição das lavras que garantiam a logística dos Destacamentos da 1ª RPM;
  • A “caça” aos guerrilheiros nas áreas das fazendas a fim de tentar capturá-los, assim como aos civis afectos que procurassem comida para sustento de suas famílias nas matas;
  • Uma malha de vigilância e acção muito apertada do quadro militar de ocupação;
  • Uma malha muito apertada dos SCCIA, por via das autoridades político-administrativas e seus enquadramentos, desenvolvendo os planos de “sanzalas da paz” (reordenamento forçado de populações);
  • Uma malha muito apertada de fortins (kibutz) nas fazendas de café e nas aldeias sob controlo colonial-fascista, fortins adstritos à OPVDCA, à Guarda Rural, assim como às unidades paramilitares de Tropas Especiais ou de Grupos Especiais, de recrutamento local;
  • Uma malha muito apertada da PIDE/DGS (Caxito, Quibaxe, N’Dalatando e Catete), com múltiplas redes de agentes nas fazendas, nos comércios a retalho, nas comunidades e dentro das matas (infiltrando a guerrilha e provocando a sua neutralização até à asfixia e extinção);
  • Uma malha cada vez mais apertada de estradas rurais (picadas aproveitando as fazendas de café) e de pistas de aviação para aeronaves de pequeno porte (aproveitando a extensão dos terreiros das fazendas de café), a adicionar às estradas militares onde elas eram requeridas;
  • A construção intensiva de estradas militares (“Via Láctea”, “Centauros” e picadas “Catana” e Conda, a norte e a sul das margens do rio Zenza), possibilitando o movimento militar discreto, a instalação de peças de artilharia e sistemas de apoio avançado, o movimento das pequenas aeronaves (entre elas as Dornier 27 e as Auster, para além dos helicópteros Alouette III), entre outras acções; as estradas militares assim construídas não vinham identificadas nos mapas e eram descritas muitas vezes como evasivas “picadas de caça”;
  • A construção de aldeamentos de forma a confinar as comunidades, em especial as provenientes da asfixia em curso, a fim de melhor as poder controlar e filtrar;
  • Um trabalho ideológico intenso em termos de manobra e acção psicológica “A-Psic”), propaganda e contrapropaganda sobre todas as comunidades e por via de todos os enredos (envolvendo a Organização Provincial de Vigilância e de Defesa Civil, a Guarda Rural e as subunidades irregulares de Tropas Especiais, de recrutamento local em jeito de milícias).

Com essa asfixia, a capacidade de inteligência voltava-se para o recrutamento de angolanos afectos à guerrilha do MPLA, procurando criar uma zona cinzenta de influência sob controlo, sob o domínio da ocupação e de suas armas: mesmo que houvesse tendências rebeldes, elas não tinham mais espaço de manobra e por isso a penetração podia derivar para mais um processo etno-nacionalista tutelado, análogo ao dispositivo da Operação Madeira no leste e ao da FLEC com Alexandre Tati no norte.

O colonial-fascismo estava disposto a correr o risco de criar mais um etno-nacionalismo sob tutela, com vista a neutralizar as capacidades de vanguarda do MPLA.

Na Iª RPM esse trabalho inteligente foi sincronizado com o aumento da pressão sobre os comités clandestinos do MPLA sobretudo em Luanda, em particular os que tinham enlaces com a guerrilha e completado com o trabalho dentro das prisões a fim de gerar expedientes divisionistas que constituíssem a base (o embrião) dum processo etno-nacionalista na região quimbundo (capital e regiões circunvizinhas de acesso).

É essa a origem do fraccionismo que desembocaria no 27 de Maio de 1977, ano e meio depois do 11 de Novembro de 1975, quando o novo estado continuava em pé de guerra devido às forças que actuavam ameaçadoramente das suas fronteiras para dentro do território nacional.

A traição eclodiu em tempo de guerra na fase de embrião da República Popular de Angola, uma tentativa desesperada para neutralizar a vanguarda em torno do Presidente Agostinho Neto, imediatamente a seguir à Proclamação da Independência.

F:\PRODUÇÕES\2021\MJ - JUL 21\RPA - 03..jpg

As bandeiras do fim – Quarenta anos depois, o Expresso foi à procura das últimas bandeiras de Portugal a serem arriadas nos seis territórios que foram alvo de descolonização durante o ano de 1975. Quatro estão em dois museus – o Militar e o da Presidência da República -, mas apenas uma, a que foi baixada em Moçambique (completam-se 40 anos esta quinta-feira), está exposta permanentemente. Uma encontra-se nas mãos de particulares. E da que estava em Timor-Leste desconhecia-se o paradeiro – mas que o Expresso irá revelar na próxima edicão semanal… NINGUÉM QUERIA A BANDEIRA VINDA DE ANGOLA. A bandeira das quinas flutuou pela última vez em África no dia 10 de novembro. Desceu do mastro da Fortaleza de S. Miguel, em Luanda, horas antes de os três movimentos de libertação declararem, cada um na sua cidade, a independência de Angola. Quando chegou a Lisboa, o alto-comissário, almirante Leonel Cardoso, contactou com várias instituições, militares e civis, tendo-se queixado que “não havia ninguém que a quisesse receber”… Acabou por a entregar pessoalmente ao Presidente da República, Ramalho Eanes, que, por seu turno, a enviou para o Museu da Presidência – onde aliás pensa que deveriam estar todas as bandeiras oriundas das antigas colónias. Pano com 2,6 metros de comprido, as suas dimensões levam a que não esteja em exibição permanente. – https://expresso.pt/sociedade/2015-06-24-As-bandeiras-do-fim

 

17- A descolonização institucional de 25 de Abril de 1974 a 11 de Novembro de 1975, sob pressão do neocolonialismo e do imperialismo, foi um período único na história de Angola, pois houve um jogo extraordinariamente dialético e estratégico, cheio de acontecimentos por decifrar, que tornou o MPLA incontornável para o processo de descolonização visando a autodeterminação e a independência, na origem da República Popular de Angola.

Na altura o Presidente António Agostinho Neto liderou o MPLA face a um conjunto muito alargado de enredos identificados com o imperialismo e a coberto do próprio processo de descolonização que tornaram volúvel a tese contra as mais legítimas aspirações do povo angolano.

Não bastou que houvesse o 25 de Abril de 1974 e o Movimento das Forças Armadas Portuguesas: enquanto o general António Sebastião Ribeiro de Spínola esteve na Presidência da República Portuguesa em função do Mais Alto Cargo na Junta de Salvação Nacional até 30 de Setembro de 1974, era impossível ao MPLA um cessar-fogo, pois no seu Programa Mínimo não constava “Portugal e o futuro” algum, muito menos com os enlaces neocoloniais externos envolvidos nessa vocação…

Esse “Portugal e o futuro” foi o primeiro exemplo de reaproveitamento do sistema inteligente do colonial-fascismo português em África, destacando-se nesse aspecto o papel do Inspector António Fragoso Allas…

A 1 de Agosto de 1974 foram proclamadas as FAPLA, ainda com o general Spínola no poder em Portugal (Presidente da Junta de Salvação Nacional) e isso significava que o MPLA sob a liderança do Presidente António Agostinho Neto, estava disposto, incondicionalmente, para a continuação da luta armada subindo a fasquia da pressão, se houvesse a tentativa duma independência ao jeito neocolonial (o caudal de informação recomendava toda a cautela em relação ao futuro imediato em todas as frentes de acção).

A proclamação a 1 de Agosto de 1974 das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola na altura em que era necessário a reorganização “a quente”, fez esbater as contradições internas e contribuiu para o MPLA preparar a independência face a toda a carga de riscos e de ameaças entrecruzadas, ao mesmo tempo que possibilitou aprofundar o campo de alianças por via do Não Alinhamento Activo, particularmente no enlace com a Revolução Cubana que se iria dispor à Operação Carlota, uma missão de grande envergadura jamais antes registada no âmbito da luta armada de libertação nacional em África.

O cessar-fogo e o reconhecimento por parte do MFA da legitimidade do MPLA enquanto movimento de libertação que protagonizou a luta armada em Angola nas mais difíceis condições mas apesar disso com alterações geoestratégicas e de paradigma de vulto, só veio a ocorrer nas chanas do Lunhamege a 22 de Outubro de 1974… abrindo caminho para o Acordo do Alvor, entre o estado português e as três organizações armadas angolanas, celebrado a 15 de Janeiro de 1975, a fim de estabelecer um Governo de Transição em Angola e acelerar o processo institucional da descolonização!

No rescaldo do seu próprio processo, o MFA colocou ao mesmo nível o MPLA e os etno-nacionalismos de conveniência aos processos neocoloniais, algo que foi evidenciado pelo Presidente Agostinho Neto na própria Proclamação de Independência a 11 de Novembro de 1975.

Para o MPLA nessas condições, foi necessária acompanhar a evolução da situação em Portugal enquanto potência colonizadora, assim como em relação ao miolo humano do próprio Movimento das Forças Armadas (MFA), tendo em conta particularmente as tendências e as vocações da época, muitas delas aberta ou veladamente contra a descolonização, com outras favoráveis aos etno-nacionalismos.

Os processos culturais e sociopolíticos da época interconectavam-se e só uma testada capacidade de discernimento dialético e de liderança como a do Presidente António Agostinho Neto podia interpretar os fenómenos e decidir em função das obrigações inerentes aos Programas Mínimo e Maior do MPLA.

… Foi também extraordinário por que por todas essas razões se começaram a estabelecer e preencher “a quente” os embriões dos organismos de inteligência e segurança segundo três linhas que não se esgotaram em si, nem foram “exclusivas” por que a vocação popular foi cultivada ao longo da luta clandestina por todo o país, mas particularmente em Luanda:

  • Mobilização para o sector de Informação (Governo de Transição decorrente do Acordo de Alvor);
  • Mobilização para o Grupo de Operações Especiais da Segurança do Estado Maior Geral das FAPLA;
  • Mobilizações várias, sendo muito importantes as realizadas a partir da Universidade de Luanda e das Comissões Populares de Bairro.

No Acordo de Alvor, conforme ao artigo 21º, alíneas c), ao MPLA coube designar os ministros da Informação, do Planeamento e Finanças e da Justiça e isso foi importante em relação à Informação que criou de forma conjugada tarimbas de trabalho público e de segurança, o que permitiu melhor acompanhar todos os desenvolvimentos que foram ocorrendo e tomar as devidas medidas dentro e fora do âmbito do Governo de Transição.

Para se fazer uma avaliação do carácter do Governo de Transição, recorde-se que os Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Angola ainda se mantiveram após o 25 de Abril de 1974, sob a tutela do Ministério da Informação, do Governo de Transição de Angola, integrando uma Direcção de Serviços e quinze Delegações Distritais, de Benguela, Bié, Cabinda, Cuando Cubango, Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Cunene, Huambo, Luanda, Lunda, Malanje, Moçâmedes, Moxico, Uíge e Zaire, os serviços de inteligência portugueses em África, PIDE/DGS e SCCIA, não foram dissolvidos…

Foi no seio do Ministério da Informação do Governo de Transição (o Ministro era o camarada Manuel Rui Monteiro) que se implantou o Gabinete de Informação e Análises, GINFANAL, uma célula para o tratamento da informação de teor confidencial, ou secreta, em suporte das condutas decisórias da Direcção do MPLA, sob a chefia do camarada Helder Neto.

Essa célula avaliava os outros componentes que integravam o Ministério da Informação do Governo de Transição, inclusive os SCCIA, assim com as acções em curso no âmbito do Governo de Transição face à evolução da situação da descolonização institucional (que também era naturalmente acompanhada).

Foi nessa célula (já depois do colapso do Governo de Transição), que foram pensados e trabalhados o símbolo e a bandeira da República Popular de Angola, com a intervenção de entidades que pertenciam aos embriões de segurança, entre elas o camarada Onambwa; o desenhador foi o camarada Marcos de Almeida Júnior, “Kito”.

Essa célula, extinto o Governo de Transição, entraria no quadro da DISA, onde passou a apoiar a Direcção (Gabinete de Informação e Análise, GIA), enquanto o camarada Helder Neto se encarregaria em 1976 e 1977, dentro do embrião de Operações e Investigações (mas sem pertencer à sua orgânica), dos casos especiais em curso, entre eles os dos mercenários, da OCA (Organização Comunista de Angola) e da Revolta Activa.

A experiência dialética, estratégica e tática acumulada pelo pensamento dialético e estratégico do camarada Presidente Agostinho Neto e seus seguidores num quadro obediente ao Não Alinhamento Activo com os olhos postos no socialismo participativo, popular e apto à generalização da luta, apesar dos contraditórios internos mas também em função deles, apesar da contradição com os etno-nacionalismos mas também em função dela, apesar da contradição em ruptura contra o colonial-fascismo, o neocolonialismo, o “apartheid”, a internacional fascista e o imperialismo, mas também em função dessa complexidade de fenómenos de natureza essencialmente sociopolítica, foi uma experiência determinante no processo de descolonização e nos dias imediatos à independência.

O MPLA no processamento de dados a quente e por aquilo que “filtrou” no próprio Governo de Transição decorrente do Acordo de Alvor, identificou o Movimento das Forças Armadas Portuguesas (MFA) num quadro de descolonização, tendo em conta as suas correntes internas e as conexões dessas correntes com as estratégias externas, desde a NATO, ao “Le Cercle”, veladamente ao “apartheid”, ao neocolonialismo em África e particularmente em relação aos regimes de Mobutu e de Kenneth Kaunda, assim como em relação a algumas transnacionais do âmbito do “lobby” dos minerais e ao próprio imperialismo que viria a estar representado “no terreno” pela Operação da CIA contra Angola (Operação Iafeature a mando de Henry Kissinger), como pela sincronizada invasão do “apartheid” (Operação Savannah).

O MPLA tirou partido imediato da saída das prisões de milhares de seus militantes, assim como da actuação das suas redes clandestinas, em termos de mobilização, redinamização, fortalecimento organizativo, estrutural e operativo, quer na ordem estratégica, quer na ordem tática, a nível externo como interno, o que lhe conferia enormes vantagens sociopolíticas em relação aos etno-nacionalismos, esbatendo até ao 11 de Novembro de 1975 as contradições secundárias internas.

A capacidade de mobilização cresceu ainda mais com a chegada do MPLA a Luanda a 8 de Novembro de 1974, seguida da triunfal chegada do Presidente António Agostinho Neto a 4 de Fevereiro de 1975, multiplicando as iniciativas organizativas, estruturais e operativas de âmbito estratégico e tático, a nível interno como externo.

A nível interno procedeu-se à criação do Comando Operacional de Luanda, COL, à Vila Alice, supervisionando uma espiral de pequenas bases espalhadas por todos os bairros da capital no meio de intensas campanhas patrióticas e de mobilização popular; o Grupo de Operações Especiais da Segurança do Estado-Maior Geral das FAPLA haveria de realizar algumas missões em função do COL (camarada Helder Neto).

As contradições internas foram esbatidas nesses termos, mas como é óbvio trouxeram depois da independência um acrescendo de questões pendentes, uma das quais emergindo de forma radicalizada: a corrente de Nito Alves que apostou na tentativa do golpe de estado de 27 de Maio de 1977.

Essa corrente baseava-se na interpretação de que os componentes da luta armada no interior deveriam ser privilegiados na composição do estado nascente em relação aos que a fizeram no exterior, tirando relativo proveito de algumas tensões com a URSS e de algumas “nuances” do espectro colonial inerente à própria descolonização.

Da minha parte, desmobilizado das FAP em 1974, acabei por fazer uma trajectória digna no quadro do Movimento Democrático Angolano dirigido pelos camaradas Maria do Carmo Medina e Antero de Abreu (no acto da dissolução, na presença do camarada Presidente Agostinho Neto ingressei oficialmente e de forma individual no MPLA) e, quando as estruturas do MPLA se estavam a instalar em Luanda, foi por via do camarada Amaral, ainda morador na ilha do Cabo, que fui mobilizado pelo camarada N’Zage para o Grupo de Operações Especiais (GOE) da Segurança do Estado-Maior Geral das FAPLA.

A implantação do Estado-Maior Geral das FAPLA no Morro da Luz, possibilitou o desempenho dum sem número de missões estratégicas e táticas, ainda que num ambiente como o da descolonização de Angola, ou melhor, precisamente face a um jogo tão fluido como esse, enfrentando todo o tipo de riscos e imponderáveis.

A criação do Grupo de Operações Especiais da Segurança do Estado-Maior Geral das FAPLA em que fui enquadrado (bairro da Camuxiba, residências Tavira, próximo do Morro da Luz), permitiu responder a uma multiplicidade de tipos de missões, tanto de guerrilha urbana como de combate, a partir dum processamento de dados que ocorria “sobre brasas”, em cima dos acontecimentos; destaco:

  • Obtenção clandestina ou semiclandestina de meios militares de toda a ordem subtraídos sub-repticiamente dos arsenais das FAP, (principalmente veículos Unimog e Berliet, armas automáticas, morteiros e respectivas munições), face à concorrência da FNLA aninhada à acção dos “spinolistas” que foram sempre, no quadro do MFA, um obstáculo a não negligenciar; todas as missões com base na informação de José Coelho Tenazinha, 1º Sargento do quadro das FAP que em 1975 estava colocado no ASMA, foram bem-sucedidas; na única mal sucedida, com base na cumplicidade dum sargento que seria um integrante da corrente “spinolista”, todo o efectivo da missão foi detido no ASMA (alguns posteriormente trasladados para a Casa de Reclusão, entre eles eu); essa foi a minha primeira prisão, que durou cerca de 40/45 dias; de notar que a entrada em quarteis das FAP se fazia com efectivos fardados com uniforme militar colonial, mas não armados (as armas, as munições e os meios desviados eram para a saída, mas dentro das respectivas caixas e mbalagens);
  • Obtenção clandestina ou semiclandestina de meios civis de toda a ordem, como veículos abandonados, barcos de recreio abandonados e pequenas aeronaves, com intuito sempre de exclusivamente reforçar as capacidades táticas e operativas do MPLA; alguns meios foram tomados a grupúsculos da reacção colonial (FRA, ESINA, PCDA, ou outros); alguns veículos e barcos de recreio foram utilizados pelo GOE/SEMG/FAPLA para suas missões de guerrilha urbana e treino na área de Luanda;
  • Contribuição para a neutralização dos resíduos coloniais, tanto os que organizacionalmente foram mobilizados pelo ELP, pelo FRA, pelo ESINA, pelo PCDA, como ainda por franjas da FUA, como aqueles que não haviam ainda dado início à sua descolonização mental (os que praticam actos lesivos aos interesses estratégicos ou táticos do âmbito ideológico do MPLA, levando em conta os expedientes correntes da descolonização);
  • Cerrado combate aos meios e processos clandestinos sob rótulo da FNLA em Luanda e no país, neutralizando todo o tipo de expedientes que enquadravam as suas missões; entre as missões em que participei realce-se o desvio de material de guerra, veículos de marca “Steyr” e equipamentos fornecidos pelo consulado da Áustria à FNLA a fim de serem entregues ao Coronel Santos e Castro (que estava no Ambriz à sua espera, à frente dos dispositivos do Exército de Libertação de Portugal, ELP), retirado do navio de cabotagem que estava ainda atracado ao cais do Porto de Luanda pronto a zarpar; participei na detenção de Mateus Neto, ex-Ministro da Agricultura por parte da FNLA no Governo de Transição, quando em trânsito pelo Aeroporto de Luanda (sala do protocolo), seguia do Huambo para Kinshasa numa avioneta particular; participei ainda em acções classificadas de revelação condicionada pelos seus impactos de propaganda e contrapropaganda;
  • Início de cerrado combate aos tráficos de moeda e de diamantes, tendo em conta os desgastes sociais, económicos e financeiros em tempo acelerado durante o período de descolonização, em função da saída maciça dos “retornados”;
  • Fornecimento de elementos informativos a fim de serem empregues nas sínteses-analíticas, na propaganda e na contrapropaganda;
  • Defesa da periferia próxima do Morro da Luz (Estado-Maior Geral das FAPLA), de forma a estender o perímetro tático do MPLA naquela zona sul de Luanda;
  • Segurança a chefes internacionalistas cubanos das FAR e do MININT que, ainda com a bandeira portuguesa ao alto, vieram corresponder clandestinamente aos parâmetros “no terreno” da Operação Carlota (acções nas batalhas de Quifangondo e Ebo); entre eles terá estado o Comandante Arguelles;
  • Preparação combativa para missões táticas militares alargadas: treino de infantaria, treino de fuzileiros, de tropas transportadas em movimentos de blindados, de pequenas unidades de forças especiais e de guerrilheiros na Camuxiba (1975), na Fazenda SAGRI (1975), Dembos, na ilha Cazanga, ilha dos Padres, no início de 1976, no Campo de Instrução Revolucionária da Funda (1977), onde receberam instrução efectivos do Peoples Liberation Army of Namibia (PLAN) da SWAPO e Umkhonto we Sizwe, braço armado do ANC e, ainda em 1977, o treino do 1º Batalhão das Foças Especiais do Bié;
  • Participação em combates na Barra do Dande, inviabilizando a progressão da FNLA na direcção de Luanda;
  • Participação nas batalhas de Quifangondo e na sua asa nordeste, Dembos; participação em combates nos Dembos (quarto trimestre de 1975), posteriormente participação nas ofensivas no norte, contra a Operação Iafeature em 1976 (FNLA-ELNA-ELP-SADF-Mercenários) e Combates no Bié (1977), desarticulando bases da UNITA (Região Militar 89 situada na área comunal de Sande, a norte de Catabola e bases de Sector dessa estrutura inimiga, um deles próximo da comuna da Chipeta).

O camarada N`Zage e outros camaradas, puseram-me constantemente à prova nas horas decisivas, pois eu tinha passado como oficial miliciano (alferes) pelas Forças Armadas Portuguesas e por isso participei em muitas missões de elevado risco do âmbito das FAPLA, na espectativa da proclamação da independência de Angola por parte do MPLA; devo dizer que se eu estivesse no lugar deles, em relação a mim teria sido ainda mais exigente!…

Com o 25 de Abril de 1974 o colonial-fascismo teve institucionalmente fim, mas com o colapso do Governo de Transição e até ao 11 de Novembro de 1974, data da Proclamação da Independência, ainda com a bandeira portuguesa hasteada, foi necessário que o MPLA tomasse de facto Luanda (a limpasse de inimigos), ainda que à custa da perda de posições a norte e no centro-sul do território nacional, conforme aconteceu; em Luanda houve guerrilha urbana como nunca antes, a fim de expulsar o ELNA, acabar com as bases da FNLA, algumas delas guarnecidas por zairenses e impedir qualquer veleidade de natureza colonial ou neocolonial, tendo o GOE/SEMG/FAPLA cumprido com muitas missões nesse esforço.

Os sectores progressistas do MFA contribuíram com bastante identidade para a realização do plano do MPLA, particularmente durante o 2º semestre de 1975 (na altura o Presidente António Agostinho Neto chegou a considerar o MFA como outro movimento de libertação implicado em Portugal e com a descolonização em mãos e em curso).

A facção Chipenda acabou por não ser reconhecida e ter uma integração de transição da FNLA para o Batalhão Búfalo das South African Defence Forces (SADF), sendo banida de Luanda e “acantonada” no sudeste.

De notar que esse curto período de guerrilha urbana em Luanda, nunca antes teve um antecedente similar enquanto houve luta clandestina (de 4 de Fevereiro de 1961 a 25 de Abril de 1974), mas se não houvesse essa intensa guerrilha, que por vezes acarretou escaramuças contundentes, teria sido impossível declarar a independência conforme aos planificados actos que ocorreram a 11 de Novembro de 1975.

Na capital essa foi a disputa decisiva contra os dois etno-nacionalismos, a facção Chipenda e seu caudal de alianças representando interesses neocoloniais, imperialistas e do “apartheid”, incluindo o “spinolismo” de ”Portugal e o Futuro”, protagonizado pelo general António Sebastião Ribeiro de Spínola e seu leque de seguidores de várias correntes de pensamento e acção, assim como de resíduos coloniais no seio do Exército de Libertação de Portugal, ELP, (coronel Santos e Castro), Frente Revolucionária Angolana, FRA, (Jaime Nogueira Pinto, o sempre disponível “freelancer” do “Le Cercle” na África Austral), grupúsculos ESINA, PCDA e franjas do FUA, além dos aproveitamentos da revolta de Chipenda para, sob o rótulo da FNLA, propiciar às SADF o Batalhão Búfalo, em conexão com o aproveitamento dos Flechas do Inspector Óscar Cardoso para a formação do batalhão 101 (Operação Savannah).

A vitória prévia do MPLA na capital, sobre os escombros dum Governo de Transição que seguia no caminho do neocolonialismo em redundância do Acordo de Alvor, foi indispensável para o momento tático da definitiva viragem, que antecedeu a Declaração da independência a 11 de Novembro de 1975.

As respostas estratégicas e táticas transitaram para a República Popular de Angola sob a forma de embriões organizativos e estruturais, ainda que continuassem em regime transitório e experimental, tirando partido das mobilizações humanas antes feitas, do quadro operativo vivido entre o 25 de Abril de 1974 e o 11 de Novembro de 1975, de toda a experiência acumulada a partir da guerrilha e clandestinidade e, nessa base, do acumular de experiências no processamento de dados de ordem estratégica e de ordem tática.

A Direcção de Informação e Segurança de Angola (DISA), foi projectada nessa época, a partir do MPLA (depois do Governo de Transição) e das FAPLA e coligiria mobilizações operativas redundantes, procurando estabilizar os primeiros anos da RPA, antes de dar origem a um Ministério.

Por essa razão a transferência de quadros não foi um processo automático, mas um processo proactivo, reflectido, selectivo e paulatino, tendo em conta a tarimba de cada um, medida em função de suas capacidades e empenhamento, sob a bitola dos exigentes padrões de segurança em época revolucionária sem precedentes, de que se encarregariam pessoalmente camaradas como os comandantes Iko Carreira, N’Zage, Ludy e Onambwe, assim como o camarada Helder Neto, (perito em contrainformação, contra inteligência, propaganda e contrapropaganda, conforme demonstrou no GINFANAL), entre outros quadros provenientes da guerrilha, das prisões e da clandestinidade.

Por outro lado, a generalização da luta face às ameaças, aos riscos e às alterações rápidas que ocorriam, tanto na ordem estratégica como na redundância tática, possibilitaram a fermentação de contraditórios ao nível da Revolta Activa e da Revolta de Chipenda, mas também de outros ao nível da fermentação “nitista” (também em resultado da asfixia em que viveu a 1ª RPM), assim como de correntes trotsquistas, maoistas e outras que estiveram na origem da OCA, do Comité Henda, dos CAC (Comités Amílcar Cabral) e de outros grupúsculos.

O inventário-balanço transitou para os primeiros dias da RPA, dando origem logo a seguir às emoções da independência, à agudização das contradições internas que resultariam na sangrenta tentativa do golpe de estado de 27 de Maio de 1977 (a URSS aproveitou para procurar veladamente desvirtuar o Não Alinhamento Activo protagonizado pelo líder, o Presidente Agostinho Neto);

Os do “interior” queriam ser os que, com exclusividade, deveriam assumir as rédeas do país, o que os motivou contra a liderança do Presidente António Agostinho Neto, algo que alguns círculos da URSS procuraram aproveitar contrariando o carácter do Não Alinhamento Activo protagonizado pelo líder, o Presidente Agostinho Neto.

As sucessivas convulsões e seu alargado e fluido espectro, impediram fazer, de forma suficiente, o acompanhamento da evolução da situação sociopolítica na potência colonizadora em fase de descolonização, pelo que acontecimentos como o 28 de Setembro de 1974, o “verão quente” (que duraria de 1975 a 1977) e o 25 de Novembro de 1975, tiveram insuficiência de dados que redundaram muitas vezes em apreciações e conclusões ligeiras, ou mesmo em alheamentos, ou desconhecimentos.

O mesmo aconteceu em relação à necessidade dum melhor acompanhamento de correntes como o “spinolismo” (de “Portugal e o Futuro”), que colectava franjas importantes da sociedade portuguesa com ligações ultraconservadoras em Angola, entre eles alguns sectores da hierarquia das FAP, alguns grupos de “retornados”, as células do Exército de Libertação de Portugal, ELP, em Angola e os enredos próximos da FNLA e da UNITA.

A corrente fraccionista evoluiu em tempo de guerra e tirando partido da complexidade do momento tático que se seguiu à Proclamação da Independência, tentando de facto impedir que Angola se tornasse na “trincheira firme da revolução em África”

Era evidente que se a descolonização institucional foi relativamente rápida (do 25 de Abril de 1974 ao 11 de Novembro de 1975), a descolonização mental levaria muito mais tempo a efectivamente realizar, tanto na metrópole colonial (que veria eclodir o golpe do 25 de Novembro de 1975 instalando os refractários e saudosistas do passado no poder em representação dos interesses da oligarquia portuguesa e da NATO), como em Angola, na ressaca da multiplicidade de expedientes da africanização da guerra por parte do colonial-fascismo em estreita consonância com o “apartheid”.

Foi também insuficiente o acompanhamento de espectros como o “Bilderberg”, ou o “Le Cercle” que influíam na evolução da situação da África Austral no período da descolonização e depois, para além dos serviços de inteligência implicados mais directamente na evolução da situação em Angola, entre os quais se destacaram a CIA dos Estados Unidos, a BOSS/NIS do “apartheid”, o MI6 britânico, o SDECE francês, os serviços de inteligência portugueses (NATO), as Forças Armadas Zairenses e o CND do regime de Mobutu e as South African Defence Forces.

O processo de descolonização deu sequência à luta contra o “apartheid” e sua “border war” implantada no âmbito do Exercício Alcora, ou seja a luta armada popular de libertação subia a fasquia dos seus esforços instalando uma luta popular generalizada, conjugando as alianças com Cuba Revolucionária e suas Forças Armadas Revolucionárias, assim como com todas as organizações progressistas em armas na África Austral, o que possibilitou a formalização da Linha da Frente que daria origem à SADC.

F:\PRODUÇÕES\2021\MJ - JUL 21\rpa - 04..jpg

War in Angola – The headline of the day – The MPLA’s position – As South Africa Defence Forces, em função do Exercício Alcora, sabiam tudo o que se passava dentro de Angola – https://www.warinangola.com

 

18- Seria de supor que os que começassem a fazer a narrativa histórica do colonial-fascismo de 1961 a 1974, ainda que de acordo com uma visão estruturalista, conseguissem fazer abordagens tão amplas quanto o possível e nelas pudessem tratar das questões inerentes ao papel das Forças Armadas Portuguesas, todavia isso não acontece a contento, porque houve sempre informação incompleta, que raramente foi reconhecida pelos autores e muito menos considerada.

Só em 1988 se publicaram os 8 tomos da “Resenha histórico-militar das campanhas de África, 1961-1974”… um trabalho exaustivo mas voltado apenas para os detalhes intrínsecos da actividade militar das FAP, esquecendo tudo o mais.

Por exemplo, não há nada nesse trabalho que se refira ao Exercício Alcora tão importante para a actuação das FAP e do colonial-fascismo na África Central e Austral e o livro “Alcora, acordo secreto do colonialismo”, escrito também por militares, só foi publicado em 1ª Edição, em Setembro de 2016, vinte e oito anos depois…

Tanto pior para se conhecer o papel do “Le Cercle” no que diz respeito por exemplo, ao fornecimento de equipamentos militares aos países do âmbito Alcora, Portugal incluído: seria necessário esperar pelo livro de Jaime Nogueira Pinto, que também foi militar das FAP em Angola, cuja 1ª edição ocorreu em Novembro de 2008, dez anos depois…

Outros livros poderiam ser citados, todos eles referentes ao mesmo período, mas uma visão abrangente em nenhum deles é possível, tanto pior para livros que detalhem os esforços de inteligência, como o caso de “A PIDE no xadrez africano, conversas com o Inspector Fragoso Allas”, de Maria José Tiscar Santiago, cuja 1ª publicação foi em 2017, vinte e nove anos depois…

As visões estruturalistas mais abrangentes ocorreram em alguns livros, todavia sempre com notáveis omissões…

Pode-se citar por exemplo o livro “Contrainsurreição em África, 1961-1974, o modo português de fazer a guerra” da autoria de John P. Cann (1ª edição portuguesa em Julho de 1998), que sendo elogioso no que diz respeito às FAP, além das omissões escapam os detalhes em relação á zonas cinzentas como o reordenamento forçado das populações e os resultados pouco satisfatórios com eles conseguidos por parte do colonial-fascismo…

Apesar de tudo, John P. Cann foi talvez o que mais avançou sobre os relacionamentos do colonial-fascismo com os regimes de Mobutu e de Kaunda, respectivamente no Congo/Zaíre e Zâmbia, ainda que nada detalhando em relação ao Exercício Alcora e ao trabalho da PIDE/DGS nessas relações…

Avançou também no conhecimento dos sistemas fluidos para dentro dos dois Congo, mas sem fazer referência à inteligência da PIDE, sobretudo em Kinshasa (casos de Alexandre Taty e das Tropas Especiais então formadas, dos katangueses, “Fieis” e dos zambianos “Leais”)…

Outro exemplo é “Angola, 1966/1974, vitória militar no leste” de António Pires Nunes (2002), que em relação a Angola argumenta que foram os políticos portugueses que perderam a guerra, não os militares…

É evidente que as narrativas históricas que se cingem às abordagens sobre a tese colonial-fascista, se tornaram, muitos deles, apologéticos e seus autores nem sequer se dão a aperceber da tipologia das ameaças e dos riscos, ainda que houvesse uma antítese de largo espectro de mobilização e acção disposta a resistir perante todo o tipo de obstáculos e capaz de lançar suas próprias geoestratégias de ruptura e libertação com o tempo a seu favor.

… De facto e comparativamente, o colonial-fascismo e o “apartheid” jamais possuíram capacidade de análise dialética ao nível do Presidente Agostinho Neto e do núcleo duro que o rodeou…

A documentação do MPLA, ou o acervo documental da Associação Tchiweka de Documentação não são tidos nem achados quando são produzidas as narrativas históricas dos autores portugueses, nem sequer em notas de rodapé…

As narrativas históricas assim delineadas, têm sido por conseguinte, ao longo do tempo, meio-caminho andado para, de enredo em enredo, se escolherem os temas principais da propaganda contra Angola, com o sacrifício desde logo da República Popular de Angola um alvo ainda hoje a abater e daí o caudal de iniciativas favoráveis, até aos nossos dias, às motivações do fraccionismo que desembocou no 27 de Maio de 1977!…

É evidente que, quando se atinge uma continuada parada com esse carácter, tornam-se evidentes os indícios da actividade inteligente contra Angola, até porque em relação a África, não tendo sido desmantelada a PIDE/DGS (que foi transferida com armas e bagagens para a inteligência diplomática, económica e militar), a superestrutura ideológica dos sucessivos intérpretes do “arco de governação” acabam por assim demonstrar que não foi realizada em toda a sua plenitude a descolonização mental devida às boas relações Angola-Portugal e vice-versa, entre as nações, os estados e os povos!

A vitória da sobrevivência da PIDE no Portugal avassalado pelo “hegemon”, pela União Europeia ao jeito das poderosas oligarquias da Europa e pela NATO, está a acontecer em função da superestrutura ideológica de que se serve o poder quando o alvo é Angola e os interesses da aninhada e alinhada oligarquia portuguesa nesse sentido são também por demais evidentes!

F:\PRODUÇÕES\2021\MJ - JUL 21\RPA - 05..jpg

Fundação Dr. António Agostinho Neto – António Agostinho Neto e Avelino Henrique Vieira Dias Mingas «Saydi Mingas», em Abril de 1974 – MEMÓRIA DA BARBARIDADE FRACCIONISTA!… No dia 27 de Maio de 2977, eu próprio debaixo de detenção pela força das armas, assisti à detenção sem nada poder fazer em contrário, do camarada Saydi Mingas no Eixo Viário um pouco acima da traseira da capela da Senhora da Nazaré, junto ao edifício onde anos mais tarde surgiria a Angoship… Fui assim testemunho da barbárie do fraccionismo… Essa memória obriga-me à objecção de consciência em relação ao perdão de hoje! Naquele tempo, quando ocorreu a traição, recordo, a luta popular generalizada que continuava contra o «apartheid» e Angola estava numa situação de guerra que obrigava à unidade e coesão em torno da vanguarda e do Presidente Dr. António Agostinho Neto…– https://www.facebook.com/fundagostinhoneto/

 

MEMÓRIA DA “HISTÓRIA DE ANGOLA” PUBLICADA EM ARGEL EM JULHO DE 1966 – CENTRO DE ESTUDOS ANGOLANOS – GRUPO DE TRABALHO HISTÓRIA E ETNOLOGIA.

EXTRACTO DA ÚLTIMA PARTE, “COMENTÁRIO FINAL”.

“… A História de Angola desmistifica o tribalismo, quer dizer, mostra tudo o que há de errado no tribalismo, mostra a sua natureza, mostra como o tribalismo só ajuda os colonialistas. A História de Angola desmistifica o racismo, o sectarismo, etc. A História de Angola mostra como as antigas organizações monárquicas e atrasadas não podiam lutar de forma definitiva contra o colonialismo poderoso. Mostra como só a unidade do povo, feita através da luta do povo, é capaz de conduzir o colonialismo a um estado cada vez mais apodrecido, até que cairá completamente.

A História de Angola mostra ainda como o colonialismo foi um facto de aumento de exploração das massas trabalhadoras e camponesas. Mostra, enfim, que as massas só se libertarão quando elas próprias tomarem conta do poder e aniquilarem todas as tentativas reacionárias de sabotagem.

Desde sempre o Povo Angolano lutou contra o colonialismo. Essa luta já dura há mais de 400 anos e entrou, agora, na sua fase final. Esta fase final, a luta de libertação, poderá ser ainda longa. Mas é numa luta longa que as massas exploradas angolanas ganharão força e experiência. É nesta luta longa que as massas angolanas reforçarão o partido político que as representa e que dirige a luta para a conquista do poder pelas massas trabalhadoras angolanas.

Só a luta dirigida pelas massas trabalhadoras e exploradas, permitirá que a Colónia de Angola se transforme de facto em Angola, na Pátria Angolana livre e independente, pronta a progredir até às fases mais avançadas da sociedade humana”.

1 de Julho de 2021.



Alguns documentos a consultar:

1 Comment

  1. […] (Continuación de Angola, ruptura, liberación y vida – IV) […]

Comments are closed.