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El 4F en Cuba y en Venezuela, en la vanguardia de la emergencia multilateral. Martinho Júnior

O 4F EM CUBA E NA VENEZUELA NA VANGUARDA DA EMERGÊNCIA MULTILATERAL.

 

A MARCA INDELEVEL DOS QUATRO 4F.

Os três 4F de que me debrucei no escrito anterior, são marcas indeléveis na história do Sul Global, mas há um quarto 4F ainda a evocar, a sublinhar e a colocar no lugar devido na longa marcha dos povos em busca de dignidade: o 4 de Fevereiro de 1962, quando em discurso o Comandante Fidel de Castro apresentou a todos os povos do mundo, em plena Praça da Revolução, a Segunda Declaração de Havana!

Se no primeiro 4F, o de 1794 no Haiti, está implícita a libertação da escravatura, o de 1961 em Angola está implícita a libertação do colonialismo, o de 1962 em Cuba está implícita a libertação do imperialismo seguindo uma via socialista e por fim, o de 1992 na Venezuela está implícita a libertação do neoliberalismo, enquanto produto refinado do neocolonialismo e do imperialismo!

Em todos os casos, as datas tornaram-se percussoras de princípios e se algumas delas foram derrotas táticas, casos do 4 de Fevereiro de 1961 em Angola e do 4 de Fevereiro de 1992 na Venezuela, nem por isso a energia humana que elas emanavam deixou de se tornar imprescindível para grandes vitórias estratégicas dos povos que desde logo se propunham nos seus horizontes temporais.

No caso do Haiti a declaração do fim da escravatura feita na Convenção Nacional em época da Revolução Francesa, abriu caminho à Revolução do Haiti para, em função dela, chegar dez anos depois à autodeterminação, à independência e à soberania do estado que só foi possível porque de armas na mão os escravos rebeldes venceram sucessivamente os exércitos de três dos mais poderosos opressores coloniais da época: o britânico, o francês (Napoleão) e o espanhol.

No caso de Cuba, o 4 de Fevereiro de 1992 é por si uma vitória ideológica estratégica num horizonte temporal que acabou por irromper pelo século XXI adentro, como resposta à expulsão da Revolução Cubana da Organização dos Estados Americanos, OEA,

O sentido das quatro memórias, completa-se numa mesma trincheira comum abrangente em todo o Sul Global, mas a de 1962 em Cuba e a de 1992 na Venezuela, trinta anos a separar entre si, merecem a abordagem mais atenta e actualizada por que a luta dos povos oprimidos não terminou com o fim da escravatura, nem com o fim do colonialismo (em Porto Rico e no Sahara a situação é colonial), nem com o fim do “apartheid” sul-africano na África Austral (outros “apartheids” estão em curso recaindo sobre a Palestina e sobre a Rússia)!

Escravatura, colonialismo e “apartheid” são subprodutos do génio maior do imperialismo e os factos demonstram-no: o império consumado em hegemonia unipolar empertigou-se ainda mais no momento em que em função da ganância da aristocracia financeira mundial e das oligarquias avassaladas, se esgota em meio ano aquilo que a Mãe Terra só consegue repor num ano e isso quando a humanidade alcançou mais de 7 mil milhões de seres vivos!

O império da hegemonia unipolar tornou-se na mais irracional, perversa, extensiva e opressiva barbaridade de todos os impérios conhecidos e é o império da hegemonia unipolar que pode ir buscar essas velhas receitas, guardadas nos baús de sua pirataria genocida, para engrossar seus recursos nazis da actualidade!

É essa a esteira da “russofobia” a fim de cativar a parte ocidental da Ásia colocando-a como refém, impedindo o diálogo em busca de consensos com vista a que os povos dessa região crítica cheguem a consensos sobre sua própria segurança vital comum!

Em Cuba passaram-se 61 anos depois da Segunda Declaração de Havana que não só não perdeu actualidade, mas há que continuar a evocar para, em momento de mudança de paradigma, haver um outro discernimento e vigor nos povos de todo o mundo: a multilateralidade deve honrar as vanguardas e a Revolução Cubana destaca-se enquanto farol a iluminar os caminhos do presente e do futuro!

Na Venezuela Bolivariana o 31º aniversário ora comemorado com todo o colorido venezuelano, atesta os avanços conseguidos nas três últimas décadas de luta consequente e coerente, que colocou a aspiração socialista numa posição de vanguarda entre as vanguardas da emergência multilateral e não esconde as vulnerabilidades de quem tem tanto que ver com a passagem duma “democracia representativa” para uma democracia participativa capaz de enfrentar a monstruosidade neocolonial em sua própria casa e numa luta constante, sem tréguas!

Para aqueles que cultivam a consciência do Sul Global, século a século oprimida e devassada pelos que têm levado a cabo os exercícios dominantes sem olhar a escrúpulos ou a meios, os quatro 4F são pedras angulares, mas os 4F em Cuba e na Venezuela vão para além da memória que é dever honrar: transporta-nos para a pertinência da luta que “por ora” há que continuar a travar!

Esses dois 4F, na fecundidade própria das vanguardas, iluminam a experiência em curso do parto sangrento da multilateralidade e conferem-lhe o sentido de libertação animado na lógica com sentido de vida que a humanidade não pode perder sob risco de extinção da própria espécie humana!

Quer dizer: em 1962 a Revolução Cubana pela voz memorável do Comandante Fidel de Castro em plena Praça da Revolução em Havana e perante mais de um milhão de cubanos, ao denunciar o carácter bárbaro do imperialismo fê-lo em nome da dignidade de todos os povos oprimidos ou excluídos, em nome do que hoje se pode considerar como Sul Global alargado, de que fazem parte os povos da Ásia, com os combatentes libertários contemporâneos na sua primeira linha: Rússia, China, Coreia do Norte, Irão… e todos os que estando prontos para, ao respeitar a Carta das Nações Unidas, só o podem e devem fazer pela via da cooperação, da solidariedade, do respeito mútuo, de incessante diálogo, da busca participativa de consensos, de preocupação pela segurança vital comum e do respeito devido à Mãe Terra!

Quer dizer também: a Revolução Bolivariana e Socialista na Venezuela desencadeada com o 4F de 1992, afinal nem na altura foi vencida, porque ética e moralmente a sua identidade cívico-militar (popular) começou-se a afirmar com toda a pujança, legitimidade, dignidade, originalidade e justiça, num processo de luta que subsiste e, a par da Revolução Cubana, passou a ser outro farol de vanguarda, antecipando a mudança de paradigma que anima a humanidade hoje!

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A SEGUNDA DECLARAÇÃO DE HAVANA ENQUANTO UMA PEDRA FILOSOFAL BASILAR PARA TODA A HUMANIDADE CONTEMPORÂNEA!

A Segunda Declaração de Havana foi decorrente da Reunião da Organização dos Estados Americanos, OEA, em Punta del Este, no Uruguai, a 31 de Janeiro de 1962…

Se Cuba foi expulsa dum organismo com carácter de Ministério das Colónias dos Estados Unidos enquanto avassaladora potência neocolonial e imperial, a intervenção do Comandante Fidel de Castro a 4 de Fevereiro de 1962, consumada na Segunda Declaração de Havana, é uma incontornável vitória ideológica que ressoa até hoje e inspira aqueles que sofrem opressão, repressão, exclusão, manipulação, ingerência e todo o tipo de vexames disseminados por todo o mundo, em função da barbaridade em que se constituiu a hegemonia unipolar!

Com a Segunda Declaração de Havana o Comandante Fidel de Castro detalhou a necessidade de luta anti imperialista para todos os povos da Terra em busca da dignidade que conduz inequivocamente à autodeterminação, à independência e à soberania!

Uma das questões pertinentes que levantou com toda a pedagogia que assiste à Revolução Cubana, foi a da “democracia representativa”:

“La palabra de Cuba está respaldada por un pueblo entero; la palabra de la representación de Cuba, allí donde habló para los pueblos y para la historia, estaba respaldada por un pueblo entero.  ¡Por eso vale nuestra palabra, por eso vale ante los ojos del mundo, por eso vale ante la historia!  Porque los que allí hablaron contra nuestra patria sus mentiras, no hicieron más que repetir las consignas criminales de sus amos.  Y detrás de las palabras huecas de los impugnadores de la patria cubana, no había un pueblo; detrás estaban los asesinos de obreros y de estudiantes, de campesinos; detrás estaba lo más corrompido, lo peor de nuestras hermanas naciones.  ¡Pueblo no, sino ausencia de pueblo, vacío de pueblo!  ¿Hasta cuándo tendrán la desvergüenza y el cinismo de hablar de democracia?  ¿Hasta cuándo estarán usando, hasta desgastar, esa pobrecita palabra, infeliz palabra de “democracia representativa”?  Representativa solo de la voluntad del imperialismo, representativa solo de la explotación, representativa solo de la traición; democracia que es la democracia de la ausencia del pueblo.  Porque todos esos gobiernos, los 14, los 14 que votaron contra Cuba, convocan al pueblo, y los 14 no reúnen tanto pueblo como la Revolución Cubana reúne aquí (APLAUSOS).

Si aquello es democracia, ¿qué es esto?  Si aquello donde existe la explotación del hombre, si aquello donde los hombres son discriminados por motivo de raza, si aquello donde los pobres son miserablemente explotados y maltratados es democracia, ¿qué es, entonces, esto?  Si democracia quiere decir pueblo, si democracia quiere decir gobierno del pueblo, entonces, ¿qué es esto?  Si democracia es la expresión  de la voluntad del pueblo, cabe decir lo único que puede decirse:  que el país, el pueblo y el régimen más democrático de América, es este régimen que puede reunir al pueblo en una plaza gigantesca como esta (APLAUSOS), que puede congregar cientos y cientos y cientos de miles, que puede congregar un millón, que puede congregar quién sabe tantos, porque cada vez son más, más y más los que se reúnen, y ya la multitud llega hasta las mismas faldas del Castillo del Príncipe (APLAUSOS).

A este pueblo, que con su presencia demuestra su dignidad y su postura, es al que quieren someter los imperialistas, es al pueblo que quieren dividir y disgregar los imperialistas, es al pueblo que quieren aplastar los imperialistas para que ya nunca más rigiera la voluntad soberana del pueblo, para que ya nunca más se volvieran a congregar las multitudes como aquí se congregan, y para que el destino y la riqueza de la patria fuera dilapidada, y el curso de su historia desviado por la voluntad de las camarillas que se reúnen en la sombra, a espaldas de los pueblos; para que ya nunca más se vieran multitudes gigantescas por las calles de la patria y en las plazas de la patria, levantando con orgullo sus banderas y proclamando al mundo sus hermosas consignas.

Es al pueblo al que quieren ponerle la bota encima los imperialistas, oprimirnos, ultrajarnos, hacer añicos nuestra dignidad nacional, como han hecho añicos la dignidad de muchos pueblos hermanos de este continente.  Es a este pueblo, rebelde y heroico, al que quieren aplastar.  Y he ahí su error, he ahí su gran error, he ahí la causa de su fracaso, porque el imperialismo jamás aplastará a la Revolución Cubana (APLAUSOS), el imperialismo jamás vencerá a la Revolución Cubana (APLAUSOS)”

Percebe-se bem porque nas praças públicas contemporâneas do Haiti, ou de Angola, há cada vez mais ausência de povo na memória do seu próprio 4F e os actos formais se tornam tão fastidiosos, de tão esvaziados de significado vital vão ficando!

Numa Angola que formalizou a sua rendição ao neoliberalismo a 31 de Maio de 1991 em Bicesse depois de processos internos que acabaram com os “Ps” ao longo de toda a década de 80 do século passado e, de decadência em decadência ética e moral, escancara as portas ao neocolonialismo e ao imperialismo da hegemonia unipolar, nenhuma peneira de “democracia representativa” vai poder tapar o sol da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade, nem da Solidariedade, da Cooperação e do Socialismo cuja aspiração mobilizou um dia a República Popular e todo o povo angolano de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste!

Em África os povos não demorarão 200 anos como na América Latina para alcançar a independência real e não se ficarem por uma independência de bandeira, esvaziada nos seus conteúdos éticos, morais, cívicos e vitalmente substantivos por terem seguido a subversão capitalista que se alheira ao colectivo das grandes massas populares e fogem a identificar-se com ela!

A 4 de Fevereiro de 1962 o povo cubano esteve presente na escala de mais de um milhão na Praça da Revolução e é por isso que a vitória ideológica do anti imperialismo ressoa até nossos dias e continua a motivar o Sul Global e os povos que se veem uma vez mais obrigados à luta anti imperialista, quando o império agora se assume como a desesperada barbaridade da hegemonia unipolar!

Moscovo inaugurou justamente uma estátua ao Comandante Fidel de Castro quando o calor das armas ressoava já pela ponta ocidental da Ásia, no momento em que a libertação dos povos dessa região tão crítica para a humanidade, urge e está sobre a mesa nestes anos 20 do século XXI!

Seis décadas depois da Segunda Declaração de Havana, é o exemplo do povo cubano e de sua Revolução que anima a Luta de Libertação de toda a humanidade e a inspira sem barreiras, nem limites no presente e no futuro!

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“POR ORA” O 4F DA VENEZUELA BOLIVARIANA.

Nenhum dos 4F estão esvaziados do seu sentido, todavia a luta exposta nesses marcos, na Venezuela Bolivariana e Socialista consuma-se num quadro de actualidade vibrante, porque é lá que além do mais a esperança não é palavra vã, é lá que, como em Cuba, as mais legítimas aspirações de humanidade se assumem como caminho clarividente a ponto de se ter tornado impossível a alguém subverter!

A memória neste 4F na Venezuela Bolivariana e Socialista, assume-se vibrante e emotiva por que é um encontro-reencontro com a história, olhos nos olhos e a imagem dos presentes está coerente com ela e por isso aponta a dedo a subversão onde a houve, é capaz de medir derrotas e vitórias, é capaz de expor até as traições e é capaz de expor a corrupção dos que se infiltram transversalmente para tentar subverter a própria Revolução!

As intervenções dos dirigentes da Revolução Socialista e Bolivariana na Venezuela traduzem essa imagem porque é assim a aliança cívico-militar, é assim o respeito que a si se deve um estado popular, impulsionador de autodeterminação, independência e soberania, autor e vector de democracia participativa, de protagonismo saudável, impulsionador da generalização da luta como um só povo, uma só nação como resposta a todo o tipo de ameaças do império.

A Revolução Bolivariana e Socialista da Venezuela, inspirada em Simon Bolivar e no Comandante Hugo Chavez, bebeu também da Revolução Cubana inspirada em Marti e em Fidel, num processo original que não sendo cópia, é também apanágio do seu próprio povo:

“Después de dos siglos de represión oligárquica, estaba escrito en la historia de Venezuela, que el 4 de febrero ocurriera lo que ocurrió. Alguien tenía que alzar la voz, y es allí cuando el comandante Chávez y el Movimiento Bolivariano salió a las calles a dar la cara por el pueblo”

(…)

“El imperialismo siempre ha urdido en la traición y el complot. Por siglos, esta práctica ha frustrado las batallas dadas por nuestro Pueblo”

(…)

“Debemos sentirnos complacidos de esta historia vivida. Nos fuimos a las catacumbas del pueblo para construir las bases del Movimiento Revolucionario 200, en los barrios, calles, plazas y se cumplió la profecía en 1998”

(…)

“Porque el camino lo despejó nuestro comandante Chavez y no nos hemos rendido. 31 años después nosotros seguimos alzados contra el imperialismo”

… Agora as dignas revoluções anti imperialistas não estão sós e são uma força inspiradora para a mudança de paradigma multilateral para toda a humanidade!

Desde o Haiti que o rumo da humanidade está bem marcado com esses quatro 4F, à disponibilidade, dimensão e vocação de toda a humanidade!

A Luta Continua!

 

Círculo 4F, Martinho Júnior, 15 de Fevereiro de 2023.

CÍRCULO 4F.

 

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