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A “doutrina Bush”, na verdade a doutrina Rumsfeld/Cebrowski, gerada a partir do derrube das torres de Nova York a 11 de Setembro de 2001, impulsionou os acontecimentos que fizeram disseminar a jihad radical sunita/wahabita na Somália e depois, por tabela em África, justificando a criação do AFRICOM por parte do Pentágono, em 2008 – O Camp Lemonnier foi a primeira grande base do AFRICOM vocacionada para as intervenções no Corno de África (na Somália e em torno da Somália), Índico Norte, Golfo de Aden e Mar Vermelho, assim como no sul da península arábica, em especial no Iémen – Camp Lemonnier is the primary base of operations for U.S. Africa Command in the Horn of Africa. It is the only permanent US base in Africa; it was refurbished in 2001 and still active today at Dijibouti’s Dijibouti-Ambouli international Airport. This camp bears around 4,000 joint and allied forces military and civilian personnel and the US Department of Defense contractors while providing employment for 100 regional and third country nation workers. Camp Lemonnier sustains higher-level service in support of combat readiness and security of ships, aircraft, detachments and personnel for regional and combatant command requirements while also equipping operations in the Horn of Africa while still encouraging positive U.S.-African Nation relations. Camp Lemonnier is a U.S. Navy led base operated by Commander, Navy Region Europe, Africa, Southwest Asia via U.S. Naval Forces Africa and Commander, Navy Installations Command – https://milit
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La somalización de África

A “SOMALIZAÇÃO DE ÁFRICA”.

A SOMÁLIA É UMA DAS ESCOLAS DE DESAGREGAÇÃO, DE CAOS E DE TERRORISMO…

Desde a própria origem do império, quando a expansão foi a “conquista do oeste selvagem”, que a cultura anglo-saxónica implantada nos Estados Unidos foi moldada no sentido da necessidade de haver um inimigo e por isso, quando se esgotou o espaço a oeste à custa do genocídio dos povos autóctones, os seus vizinhos a sul, que estavam mesmo ali à mão, começaram a sofrer as consequências…

As histórias do México, do Haiti, de Porto Rico, de Cuba, por tabela até da longínqua Filipinas, estão marcadas pelas expansivas agressões “no ultramar”: nessa época a forja do império transvasou as primeiras forças de “intervenção”, já “fora da esquadria” da “conquista do oeste selvagem”, ou seja, muito para além dela – México e os arquipélagos, marcando o fim da colonização espanhola!…

A saga não parou, persistindo a dialética do poder dominante que tão lucrativos resultados comprovadamente garantia: em relação aos outros povos “do ultramar” jamais deixou de se afirmar pela sua barbaridade, sucedendo-se os crimes contra a humanidade, por que sempre havia um inimigo a abater, na maior parte dos casos, aqueles que estavam ali mesmo à mão e quantas vezes sem o saber, em estado de prontidão para o sacrifício.

Essa mentalidade foi também inerente aos impérios coloniais, persistiu durante as duas Grandes Guerras Mundiais e, quando houve a oportunidade para a paz global, inventou-se o combate ao comunismo sob o rótulo cínico da “Guerra Fria”, a fim de escamotear a realidade da IIIª Guerra Mundial contra o Sul Global que perdura com alicerces neocoloniais impressos até na vassalagem da Europa por via da NATO e duma União Europeia exclusivista e elitista!

Na Somália, durante as décadas de 70 e 80 do século XX e tendo como pano de fundo os interesses externos que disputavam influência no “Corno de África”, houve a antecipação “espontânea” da aplicação da doutrina Bush na esteira do que persistiu desde a época do expansionismo, a doutrina Rumsfeld/Cebrowski: desestabilização, caos e terrorismo para os “condenados da Terra”!… (https://afrocentricidade.files.wordpress.com/2012/06/os-condenados-da-terra-frantz-fanon.pdf).

O “modelo” que está hoje a ser aplicado em larga escala ao continente teve também uma das primeiras “escolas” na Somália, desde finais do século XIX com a colonização: acabado o inimigo comunista e o espectro artificioso da “Guerra Fria”, a dialética dominante gerou artificiosamente outro inimigo com todas as “transversalidades” que isso implicava, transformando os “freedom fighters” da ocasião neoliberal do tandem Reagan / Thatcher, em terroristas islâmicos radicais por via da Al Qaeda e dos seus sucedâneos, pois eram eles que estavam ali mesmo à mão, a partir dos vínculos gerados pelo petróleo na Arábia Saudita, sua “naturalmente” coligada e parceira em tão subversivos propósitos de relacionamento global!…

A proximidade do desmantelado Iémen (que até parece um processo siamês ao da Somália) e a posição geoestratégica do Corno de África propiciou o resto!

A Somália teve uma trajectória indexada à artificiosa metamorfose do grande camaleão que, ao agudizarem-se contraditórios na sequência da derrota na guerra pela posse de Ogaden (contra a Etiópia e seus aliados socialistas), foi derivando para a compulsória instalação do caos, da desagregação e do terrorismo.

A partir da “escola” da Somália gerada em paralelo à “escola” do Sudão, está em curso “A SOMALIZAÇÃO DE ÁFRICA”!… (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/09/17/desde-aquel-11-de-septiembre-de-1973/; https://paginaglobal.blogspot.com/2020/09/africa-pantano-neocolonial.html ).

 

01– As disputas coloniais na Somália nos finais do século XIX e durante a 1ª metade do século XX, foram mais anarquizantes e desagregadoras, se comparadas ao resto do continente africano: italianos, britânicos e franceses, depois da inicial presença efémera dos portugueses, disputaram o espaço no seguimento da Conferência de Berlim, quando os povos autóctones estavam em estado de nomadização com as mais diversas sortes nos conflitos entre clãs e por isso não faltaram justificações para “dividir e dividir, para melhor reinar”… (https://www.infoescola.com/africa/somalia/; https://www.britannica.com/place/Italian-Somaliland; https://www.britannica.com/place/British-Somaliland; https://www.youtube.com/watch?v=8OlcwPvLB3U; https://www.wdl.org/en/item/11787/; http://www.gallimard.fr/Catalogue/GALLIMARD/Geographie-humaine/La-Somalie-francaise; https://www.universalis.fr/encyclopedie/djibouti/2-la-periode-coloniale/).

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A Somália foi simultaneamente colonizada por 3 potências coloniais europeias: a França, a Grã-Bretanha e a Itália – https://twitter.com/Ahmedja38087594; https://twitter.com/Ahmedja38087594/status/1273226271527448576/photo/1

A colonização fez-se sobretudo com os sentidos postos na “rota das Índias” e no domínio geoestratégico da entrada sul do Mar Vermelho na sua ligação com o Golfo de Aden, a ponto de, por exemplo, a Somália Britânica ser administrativamente dependente de Aden, no Iémen, no lado norte do estreito de Bab el Mandeb. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Golfo_de_Adem; https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/2020071915846884-novo-oceano-esta-se-formando-em-local-unico-na-terra-dizem-cientistas/).

No século XXI o Golfo de Aden tornou-se numa das mais tensas regiões marítimas do globo!… (https://br.sputniknews.com/tags/geo_Golfo_de_Aden/; https://news.un.org/pt/tags/golfo-de-aden; https://sndatun.wordpress.com/2015/12/06/combatting-piracy-off-the-coast-of-somalia-international-community-support-needed/).

Tudo se foi consolidando numa base de valores geoestratégicos que pouco ou nada tinha a ver com o carácter e raio de acção das culturas dos povos autóctones!… (https://ethnomed.org/culture/somali/; http://hdr.undp.org/sites/default/files/hdr2019.pdf; https://core.ac.uk/download/pdf/15601742.pdf).

A pérola que constitui a ilha de Socotra, a nordeste do cabo Guardafui na Somália (Puntland), nessa divisão sempre pertenceu ao também cronicamente desestabilizado Iémen (nesse aspecto um irmão-siamês da Somália), pelo que hoje abriga uma estação de inteligência “de última geração”, que está a ser instalada em função do recente tratado entre os Estados Unidos, Israel, os Emiratos Árabes Unidos e Barein… (https://www.jforum.fr/israel-eau-base-de-renseignements-sur-lile-de-socotra.html; https://medium.com/@fromadic92/somalia-and-israel-do-all-roads-lead-to-tel-aviv-b94efd52aba7; https://www.youtube.com/watch?v=nzIJnZ-jdSg; https://www.youtube.com/watch?v=Ga4DncsyZj8).

As artificiosas rivalidades entre as monarquias arábicas, no rescaldo dos emparceiramentos e das coligações espevitadas pelo sionismo e o império, reflectem-se na Somália… (https://www.nytimes.com/2019/07/22/world/africa/somalia-qatar-uae.html?action=click&module=RelatedCoverage&pgtype=Article&region=Footer).

… De nada valeu a Socotra o facto de tanto ser necessário preservar o arquipélago como um excepcional Património Natural de toda a humanidade, ao nível das ilhas Galápagos, tornadas célebres com as investigações de Charles Darwin! (https://whc.unesco.org/en/list/1263/; https://www.trtworld.com/magazine/what-is-the-uae-doing-on-the-yemeni-island-of-socotra-39385; https://www.jpost.com/middle-east/socotra-how-a-strategic-island-became-part-of-a-gulf-power-struggle-553599; https://slideplayer.com.br/slide/3805721/).

A Somália Francesa deu outro sinal de desagregação: os franceses adoptaram sucessivamente o nome de Somália Francesa (de 1896 a 1967), o nome de Afars e Issas (de 1967 a 1977) e deram origem ao actual Djibouti, independente desde 27 de Junho de 1977), onde vieram a implantar uma base, Camp Lemonnier, que se tornou extensiva à presença militar dos Estados Unidos na região desde que o Pentágono criou o AFRICOM, (https://www.hoa.africom.mil/) com o estacionamento duma força de intervenção actual na ordem de 4000 efectivos… (https://www.nytimes.com/2012/01/26/world/africa/camp-lemonier-in-djibouti-played-crucial-role-in-somalia-rescue.html; https://www.senat.fr/ga/rapport_djibouti/rapport_djibouti1.html; https://www.naval-technology.com/projects/camplemonnier/; https://www.youtube.com/watch?v=NiB0aL0oLyA; https://www.youtube.com/watch?v=1dZI6wjEsoc; https://militarybases.com/overseas/djibouti/lemonnier/; https://foreignpolicy.com/2019/01/26/u-s-developing-supply-route-along-dangerous-stretch-from-djibouti-to-somalia/).

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A “doutrina Bush”, na verdade a doutrina Rumsfeld/Cebrowski, gerada a partir do derrube das torres de Nova York a 11 de Setembro de 2001, impulsionou os acontecimentos que fizeram disseminar a jihad radical sunita/wahabita na Somália e depois, por tabela em África, justificando a criação do AFRICOM por parte do Pentágono, em 2008 – O Camp Lemonnier foi a primeira grande base do AFRICOM vocacionada para as intervenções no Corno de África (na Somália e em torno da Somália), Índico Norte, Golfo de Aden e Mar Vermelho, assim como no sul da península arábica, em especial no Iémen – Camp Lemonnier is the primary base of operations for U.S. Africa Command in the Horn of Africa. It is the only permanent US base in Africa; it was refurbished in 2001 and still active today at Dijibouti’s Dijibouti-Ambouli international Airport. This camp bears around 4,000 joint and allied forces military and civilian personnel and the US Department of Defense contractors while providing employment for 100 regional and third country nation workers. Camp Lemonnier sustains higher-level service in support of combat readiness and security of ships, aircraft, detachments and personnel for regional and combatant command requirements while also equipping operations in the Horn of Africa while still encouraging positive U.S.-African Nation relations. Camp Lemonnier is a U.S. Navy led base operated by Commander, Navy Region Europe, Africa, Southwest Asia via U.S. Naval Forces Africa and Commander, Navy Installations Command – https://militarybases.com/overseas/djibouti/lemonnier/

Essa base, próximo da fronteira sul com a Somalilândia, (https://en.wikipedia.org/wiki/Somaliland; https://www.youtube.com/watch?v=mEGrV_1Pe_w; https://www.youtube.com/watch?v=7xOvc7skpGc; https://www.voanews.com/africa/somaliland-celebrates-independence-despite-lack-international-recognition; https://www.voanews.com/africa/official-somaliland-puntland-clash-leaves-4-dead) é um dos estímulos justificativos para a independência desta parte norte da Somália, que não sendo internacionalmente reconhecida, de facto existe e subsiste com estado e símbolos nacionais próprios, desde 18 de Maio de 1991… (https://www.refworld.org/docid/3ae6ab5620.html; https://nationalinterest.org/feature/it%E2%80%99s-time-pentagon-finds-alternative-djibouti-75966; https://www.busiweek.com/somaliland-and-ethiopia-working-towards-stronger-trade-ties/; https://www.cfr.org/blog/chinas-strategy-djibouti-mixing-commercial-and-military-interests; https://www.portstrategy.com/news101/insight-and-opinion/post-script/The-Berbera-option; https://risingpowersproject.com/quarterly/ethiopia-berbera-port-shifting-balance-power-horn-africa/).

O Djibuti manteve sempre um relacionamento regional de paz, jamais aceitando colocar no seu território factores de desestabilização tendo como alvo seus vizinhos, mas isso à custa da implantação de bases militares das potências França e Estados Unidos, de onde partem intervenções por todo o Leste de África, particularmente na direcção do sul da Somália, por parte das iniciativas do AFRICOM. (https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/dj.html; https://www.hoa.africom.mil/; https://www.wired.com/2009/01/africoms-quie-2/).

Por todas as dilacerantes razões, as potências coloniais foram ficando mais pelas praias, aventurando-se pouco pelo interior inóspito nas profundezas de Ogaden, (https://uca.edu/politicalscience/dadm-project/sub-saharan-africa-region/69-ethiopiaogaden-1948-present/; https://www.youtube.com/watch?v=fDww8H1F8ko; https://www.youtube.com/watch?v=-io_RfLBpgc) deixando um enorme vazio para usufruto exclusivo das nomadizações dos nacionais.

Era a partir desse espaço nacional não ocupado pelas potências coloniais que os clãs da Somália negociavam o estágio de “protectorado” com franceses, britânicos e italianos: a norte o protectorado francês (que evoluiu para o Djibuti) e o britânico (no que é hoje a Somalilândia), por fim a leste e a sul o protectorado italiano (Puntland e o “desgoverno” da Somália, com capital em Mogadíscio). (http://countrystudies.us/somalia/14.htm).

A desagregação da Somália começou efectivamente durante o próprio colonialismo e esse processo-matriz ficou inscrito com sangue e genocídio na história moderna da Somália desde os impérios coloniais como na expansão do império da hegemonia unipolar eminentemente anglo-saxónico que tanto “bebeu” de suas próprias experiências de “conquista do oeste selvagem”, conforme atesta a sua prática de conspiração mundo fora… (https://abcnews.go.com/International/story?id=80454&page=1).

 

02– Os autóctones, com uma identidade nacional forjada numa cultura de nomadização de largos séculos, em função dum ambiente colonial tão devasso nunca conseguiram estabilizar unidade sociopolítica, mantendo-se a tradição dos clãs desde as negociações com os seus “protectores” coloniais. (https://www.washingtonpost.com/wp-srv/world/countries/somalia.html; https://www.theguardian.com/world/2008/nov/23/somalia-piracy-human-rights).

Com a independência, a nomadização dos clãs autóctones na Somália só com um poder central de facto forte poderia equacionar-se numa relativa paz, num contexto duma tão atribulada herança e numa tão retalhada manta…

Essa paz relativa ocorreu num curto período, durante a segunda metade do século XX, desde o início do exercício de Siad Barre, de 21 de Outubro de 1969 a Julho de 1977, desde o golpe de estado militar até ao início da guerra contra a Etiópia pela posse de Ogaden…

Enquanto a proclamada República Democrática Somali vigorou tendo como órgão de cúpula o Conselho Revolucionário Supremo e a orientação socialista com recurso ao marxismo-leninismo, essa paz relativa foi possível mesmo com a seca em 1975, que provocou a primeira grande onda de refugiados para o sul mais rico em água e por isso mais fértil, assim como para Mogadíscio, a capital, cuja população começou a crescer como nunca antes…

O surgimento de Siad Barre a partir dum golpe militar (21 de Outubro de 1969) tornou-se num exercício autoritário garante inicial de relativa paz, uma excepção acima das tradições nómadas dos clãs (literalmente sobre as suas cabeças), pelo menos enquanto ele manteve a pista socialista, antes de ser, de equívoco em equívoco, atingido pelos artificiosos contraditórios externos e internos, aliando-se a potências como os Estados Unidos e aos factores de desagregação étnica!… (https://www.britannica.com/biography/Mohamed-Siad-Barre).

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A viragem de 180º por parte de Siad Barre, em função da tentativa de conquistar à Etiópia o território de Ogaden, teve o apoio do Presidente Ronald Reagan, no quadro de suas políticas de inteligência em suporte dos “freedom fighters” (Afeganistão, Nicarágua e Angola) – President Siad Barre Meeting with U.S President Ronald Reagan in the Oval office – https://www.youtube.com/watch?v=E_DtbuWDXLA

Quando Siad Barre transigiu em relação ao tribalismo e iniciou o ataque pela posse do Ogaden numa viragem radical, começou-se a alterar de forma negativa e profundamente o quadro, que sintomaticamente foi acompanhado pela mudança de alianças externas: os socialistas apoiaram a Etiópia no outro lado do “front”, na altura já com um governo de orientação próxima (o Derg de Mengistu Mariam) e os Estados Unidos passaram a apoiar Siad Barre, preenchendo o vazio do corte de relações da Somália com a União Soviética… (https://www.ecured.cu/Guerra_del_Ogad%C3%A9n_(Etiop%C3%ADa_y_Somal%C3%ADa,_1977-1978); https://www.telesurtv.net/news/guerra-ogaden-africa-invasion-somalia-etiopia-20180711-0007.html; https://www.blackpast.org/global-african-history/ethiopian-somali-war-over-ogaden-region-1977-1978/; https://www.globalsecurity.org/military/library/report/1986/KCA.htm).

O jogo geoestratégico externo entre as potências e a erosão interna das lutas entre clãs que repartiam as disputas de espaço territorial de influência, foram-se combinando, atingindo um ponto de viragem para o poder de Siad Barre com a derrota na guerra pela posse de Ogaden (1977/1978), que correspondeu desde logo, na altura, ao fim do quimérico projecto da Grande Somália. (https://warwick.ac.uk/fac/arts/history/students/modules/hi277/programme/t2w13/hi277_tareke.pdf; https://www.voanews.com/africa/siad-barres-fall-blamed-somalias-collapse-civil-war).

Essa alteração conjugando factores internos e externos, foi a charneira que, a partir de 1978, iria trazer à Somália um progressivo caminho de desintegração, de terrorismo e de caos, sempre sob a influência e a cumplicidade dos Estados Unidos, nos termos da fluência dos relacionamentos internacionais!… (https://www.pambazuka.org/governance/somalia-al-shabab-extremism-and-us-allies; https://www.jstor.org/stable/41059758).

Durante a colonização e desde a independência, só houve um curto período de paz relativa, enquanto Siad Barre teve orientação socialista… quando ele abandonou esse projecto e ao provar a erosão da opção capitalista sob a égide dos Estados Unidos e de seus vassalos, tudo voltou pouco a pouco ao feudalismo cultural da nomadização e das lutas entre clãs, até se introduzir na Somália o islamismo sunita/wahabita radical!… (https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/71689/000880118.pdf?sequence=1; https://sudantribune.com/spip.php?page=imprimable&id_article=15134).

 

03– O exercício do poder neoliberal do republicano Presidente Ronald Reagan (https://web.archive.org/web/20061003061613/http://www.reagansheritage.org/html/reagan_speeches.shtml; https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Ciclone; http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/1670089.stm; http://www.rawa.org/cia-talib.htm; https://www.sabrang.com/cc/archive/2001/oct01/cover6.htm; https://archives.globalresearch.ca/articles/CHO404A.html) foi extremamente chocante para com a Somália durante toda a década de 80 do século XX, aproveitando o fim dos relacionamentos com o campo socialista e a derrota no campo de batalha do projecto da Grande Somália, sustentado pelo Presidente Siad Barre. (https://www.jstor.org/stable/27552748; https://www.foreignaffairs.com/articles/1986-03-01/reagan-doctrine-guns-july; https://en.wikipedia.org/wiki/Reagan_Doctrine; https://en.wikipedia.org/wiki/Somalia%E2%80%93United_States_relations; https://history.state.gov/countries/somalia; https://archives.globalresearch.ca/articles/BRZ110A.html).

A guerra terá dizimado 1/3 das forças militares somalis, sacudiu de forma negativa todo o país, debilitando-o e enfraquecendo progressivamente o próprio poder do tão volúvel Presidente Siad Barre. (http://www.country-data.com/cgi-bin/query/r-12043.html; https://www.jstor.org/stable/41931314).

Deu porém oportunidade à Somália em tornar-se numa discreta base para os “freedom fighters” que operavam no Médio Oriente Alargado (sobretudo no AfPaq), desde a subserviência das políticas do Presidente Siad Barre à “doutrina Reagan” em 1982. (https://web.archive.org/web/20061003061759/http://www.reagansheritage.org/html/reagan_panel_kraut.shtml; https://www.c-span.org/video/?125293-1/1985-state-union-address).

Foi essa a “lei da compensação”!

Os enlaces Reagan/Barre, com um encontro entre ambos na Sala Oval da Casa Branca em Washington a 11 de Março de 1982, possibilitou: (https://www.youtube.com/watch?v=VygRbTniy9k; https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1982/03/12/somali-leader-voices-optimism-after-talks/201a10d0-5b58-42b1-9abc-59e155653305/; https://www.reaganlibrary.gov/sites/default/files/digitallibrary/smof/execssecsubject/box-050/40-753-12026365-050-001-2019.pdf).

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A “Nova Ordem Global”, lançada pelo Presidente republicano Gerge H. W. Bush, foi um incentivo não só à desintegração e decomposição da Somália, mas também marcou a época de transição entre os “freedom fighters” e os novos inimigos, assim declarados com o fim da “Guerra Fria” – a jihad radical sunita/wahabita financiada a partir dos parceiros coligados das monarquias arábicas sob incentivo sionista, criou as bases para se afirmar com caos e terror na Somália, antes do 11 de Setembro de 2001, antecipando esse processo em África – The World Economic Forum – A New World Order Big Boys Club – https://eyreinternational.wordpress.com/2013/01/25/the-world-economic-forum-a-new-world-order-big-boys-club/

Em resultado do exercício de relacionamentos com os Estados Unidos, a Somália foi dos primeiros territórios a sofrer por tabela tácita a crescente influência sunita/wahabita radical que se iniciou com o fortalecimento dos “freedom fighters”, desde cerca de 20 anos antes da doutrina do republicano Bush (Rumnsfeld/Cebrowski)… (https://fas.org/irp/congress/1992_rpt/bcci/; https://fas.org/irp/congress/1992_rpt/bcci/11intel.htm; https://fas.org/irp/congress/1992_rpt/bcci/11intel.htm; https://en.wikipedia.org/wiki/Abu_Mansoor_Al-Amriki).

A proximidade da península arábica e particularmente do Iémen, reflectiu-se por isso em reforço da desagregação, do terrorismo e do caos! (https://www.researchgate.net/publication/299368349_Yemen_Another_Somalia_in_the_Arabian_Peninsula_Academic_and_political_writer_on_the_Horn_of_Africa_and_the_Middle_East).

Em resultado do genocídio do clã Isaak, a Somalilândia declarou a sua independência a 11 de Maio de 1991 (no rescaldo da declaração sobre a “New World Order”do Presidente republicano George H. W. Bush), uma independência ainda hoje internacionalmente não reconhecida, mas de facto subsistente. (https://www.thenation.com/article/archive/in-the-valley-of-death-somalilands-forgotten-genocide/; https://www.aljazeera.com/features/2014/02/06/investigating-genocide-in-somaliland/).

O poder do Presidente Siad Barre, quando o Presidente George H. W. Bush faz a 11 de Setembro de 1990 o seu pronunciamento sobre a “New Woild Order” tinha já os dias contados: os Estados Unidos em África não só “dividem para melhor reinar”, mas também são “useiros e vezeiros” em, “democraticamente”, “usar e deitar fora”!… (https://actualidad.rt.com/actualidad/174097-eeuu-africa-libia-somalia-recursos?fbclid=IwAR2T2w3UHSz26lckUavZiTUiixu-l_oNgp7PJfOYyLeeW3YpJyRrl02FrVw).

 

04– Quando houve a viragem do século, as premissas de desintegração, de terrorismo e de caos já haviam fermentado amplamente no ambiente humano da cultura de nomadização na Somália particularmente desde o início da década de 90, o que custou o fim do exercício tão profundamente equivocado do Presidente Siad Barre, autêntica ponte sobre águas turbulentas! (https://www.nytimes.com/2019/12/29/world/africa/somalia-attack-shabab.html).

O “exemplo da Somália” já estava em cima da mesa quando o “capitalismo de desastre” se assumiu com o Presidente republicano George W. Bush sob a influência do loby da energia, do armamento e da especulativa dolarização: a Somália tornou-se o expoente dum estado falhado, mergulhado em profundas divisões, em constantes tensões, conflitos, terrorismo e irremediável caos, a par do Iémen! (https://www.theguardian.com/commentisfree/2006/aug/30/comment.hurricanekatrina; http://www.ism-italia.org/wp-content/uploads/GlobalResearch20150301-America%E2%80%99s-%E2%80%9CGlobal-War-on-Terror%E2%80%9D-Al-Qaeda-and-the-Islamic-State-ISIS-A-Review-By-Prof-Michel-Chossudovsky.pdf).

Para tal primeiro emergiu a sensibilidade das Cortes Islâmicas e a partir dela o Al Shabaab que se vincularia por seu turno à Al Qaeda!… (https://www.voanews.com/archive/success-islamist-courts-somalia-raises-questions-about-future-shattered-nation; https://www.cfr.org/backgrounder/al-shabab; https://www.bbc.com/portuguese/topics/cyx5kx4n89jt; https://www.hiiraan.org/2005/feb/op/bashir_goth.htm; https://www.britannica.com/place/Somalia/A-new-government; https://www.govinfo.gov/content/pkg/CHRG-113hhrg87183/html/CHRG-113hhrg87183.htm).

A intervenção militar dos Estados Unidos em jeito de choque neoliberal ficou desde então “permanentemente autojustificada” desde o 11 de Setembro de 2001, assim como as acções dos seus contratistas mercenários (aptos à terapia do choque conforme foi feito no Iraque), as acções “partnership” do AFRICOM a partir de 2008 e a formação de forças africanas de intervenção sob a designação AMISOM, um instrumento subserviente, de facto dependente da “orientação inteligente” do Pentágono… (https://archives.globalresearch.ca/articles/CHO111A.html; https://cisac.fsi.stanford.edu/mappingmilitants/profiles/al-shabaab; https://www.govinfo.gov/content/pkg/CHRG-113hhrg87183/html/CHRG-113hhrg87183.htm).

Entre os contratistas mercenários do âmbito das parcerias público privadas instaladas com a desagregação, o terrorismo e o caos, destaca-se a Bancroft Global Development, da qual fazem parte antigos “barbouzes”, como Richard Rouget, um dos lugares-tenentes de Bob Dénnard… (https://www.bancroftglobal.org/; https://www.nytimes.com/2011/08/11/world/africa/11somalia.html).

São esses “experts” decisivos na criação de forças africanas, no seu treino e nas táticas operativas em curso, contra o inimigo tácito que se radicalizou no Al Shabaab (https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/1057610X.2019.1628622; https://earthleagueinternational.org/wp-content/uploads/2016/02/Report-Ivory-al-Shabaab-Oct2016.pdf; https://www.voanews.com/africa/somalias-shabab-ends-bloody-decade-resurgent-unbowed) e se tem vindo a espalhar em direcção à África Austral seguindo a costa leste do Índico, pelo Quénia, pelo Uganda, pelo leste da RDC, pela Tanzânia, chegando finalmente a Moçambique!…

 

05– Se antes as conexões com os “freedom fighters” particularmente no Afeganistão foram importantes no jogo geoestratégico da inventada “Guerra Fria” por causa do “combate ao comunismo”, o jogo tácito colocando esses agrupamentos como inimigos no lugar dos comunistas, passou a ser útil para a forja neocolonial que grassa sobre África em nossos dias, utilizando a designação de “combate ao terrorismo” e com isso a justificação-chave para a existência do AFRICOM!…

É evidente que com essa rígida fórmula, manipulando contradições semeadas com seu própri contributo, faz com que o império herde pântanos, de onde não quer nem vai sair, por muito que “terceirize”os conflitos, por muito qu implante “Private Military Companies”!… (https://www.bancroftglobal.org/where/).

… Continuam infrutíferas as tentativas de encontrar soluções de paz para todo o território somali!… (http://jornaldeangola.sapo.ao/mundo/lideres-da-somalia-retomam-negociacoes-para-reunificacao), mas é claro que os Estados Unidos actuam sempre em nome da paz!… (https://web.archive.org/web/20090804122416/http://news.xinhuanet.com/english/2009-07/05/content_11653604.htm; https://www.bbc.com/news/world-africa-46449954).

Da Somália foi possível levar os ensinamentos recolhidos de sua escola para outras regiões de África em especial, na sequência da destruição da Líbia em 2011, (http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/salvar-libia.html; https://rebelion.org/libia-y-la-nueva-division-imperial-de-africa/; https://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=12743:libia-no-grande-jogo-na-estrada-para-a-nova-partilha-da-africa&catid=256:direitos-nacionais-e-imperialismo&Itemid=131) por toda a imensa região de culturas de nomadização do Sahel e áreas próximas garantes de espaço vital sob tensão: do Senegal à Somália, passando pela Mauritánia, o Mali, o Níger, o Chade, o Lago Chade, a República Centro Africana, o troço norte da bacia do Congo, os Grandes Lagos, o Sudão, o Sudão do Sul, o Uganda, o Quénia, a Tanzânia, a Somália, chegando agora a Moçambique…

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A última palavra – em acordo tácito, o Presidente Donald Trump encontra-se em Julho de 2019 com o emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, um dos presumíveis financiadores não só da contínua desintegração e desestabilização da Somália, mas também da desestabilização do continente africano (jihad radical sunita/wahabita) – With Guns, Cash and Terrorism, Gulf States Vie for Power in Somalia – President Trump welcomed Qatar’s emir, Sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, to the White House this month. Credit…Pool photo by Kevin Dietsch – https://www.nytimes.com/2019/07/22/world/africa/somalia-qatar-uae.html?action=click&module=RelatedCoverage&pgtype=Article&region=Footer

O Al Shabaab está neste momento a estender-se na direcção da África austral e há sinais até na África do Sul!… (https://issafrica.org/amp/iss-today/south-africa-and-terrorism-the-links-are-real).

A escola de caos, terrorismo e desagregação na Somália, (https://www.cfr.org/backgrounder/al-shabab; https://www.bbc.com/news/world-africa-15336689) foi uma das escolas que tornou tacitamente possível o corrente “modelo” de neocolonização por parte do império da hegemonia unipolar e o seu vassalo FrançAfrique: está-se em plena “SOMALIZAÇÃO DE ÁFRICA”!

Luanda, 23 de Setembro de 2020

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