La somalización de África
A “SOMALIZAÇÃO DE ÁFRICA”.
A SOMÁLIA É UMA DAS ESCOLAS DE DESAGREGAÇÃO, DE CAOS E DE TERRORISMO…
Desde a própria origem do império, quando a expansão foi a “conquista do oeste selvagem”, que a cultura anglo-saxónica implantada nos Estados Unidos foi moldada no sentido da necessidade de haver um inimigo e por isso, quando se esgotou o espaço a oeste à custa do genocídio dos povos autóctones, os seus vizinhos a sul, que estavam mesmo ali à mão, começaram a sofrer as consequências…
As histórias do México, do Haiti, de Porto Rico, de Cuba, por tabela até da longínqua Filipinas, estão marcadas pelas expansivas agressões “no ultramar”: nessa época a forja do império transvasou as primeiras forças de “intervenção”, já “fora da esquadria” da “conquista do oeste selvagem”, ou seja, muito para além dela – México e os arquipélagos, marcando o fim da colonização espanhola!…
A saga não parou, persistindo a dialética do poder dominante que tão lucrativos resultados comprovadamente garantia: em relação aos outros povos “do ultramar” jamais deixou de se afirmar pela sua barbaridade, sucedendo-se os crimes contra a humanidade, por que sempre havia um inimigo a abater, na maior parte dos casos, aqueles que estavam ali mesmo à mão e quantas vezes sem o saber, em estado de prontidão para o sacrifício.
Essa mentalidade foi também inerente aos impérios coloniais, persistiu durante as duas Grandes Guerras Mundiais e, quando houve a oportunidade para a paz global, inventou-se o combate ao comunismo sob o rótulo cínico da “Guerra Fria”, a fim de escamotear a realidade da IIIª Guerra Mundial contra o Sul Global que perdura com alicerces neocoloniais impressos até na vassalagem da Europa por via da NATO e duma União Europeia exclusivista e elitista!
Na Somália, durante as décadas de 70 e 80 do século XX e tendo como pano de fundo os interesses externos que disputavam influência no “Corno de África”, houve a antecipação “espontânea” da aplicação da doutrina Bush na esteira do que persistiu desde a época do expansionismo, a doutrina Rumsfeld/Cebrowski: desestabilização, caos e terrorismo para os “condenados da Terra”!… (https://afrocentricidade.files.wordpress.com/2012/06/os-condenados-da-terra-frantz-fanon.pdf).
O “modelo” que está hoje a ser aplicado em larga escala ao continente teve também uma das primeiras “escolas” na Somália, desde finais do século XIX com a colonização: acabado o inimigo comunista e o espectro artificioso da “Guerra Fria”, a dialética dominante gerou artificiosamente outro inimigo com todas as “transversalidades” que isso implicava, transformando os “freedom fighters” da ocasião neoliberal do tandem Reagan / Thatcher, em terroristas islâmicos radicais por via da Al Qaeda e dos seus sucedâneos, pois eram eles que estavam ali mesmo à mão, a partir dos vínculos gerados pelo petróleo na Arábia Saudita, sua “naturalmente” coligada e parceira em tão subversivos propósitos de relacionamento global!…
A proximidade do desmantelado Iémen (que até parece um processo siamês ao da Somália) e a posição geoestratégica do Corno de África propiciou o resto!
A Somália teve uma trajectória indexada à artificiosa metamorfose do grande camaleão que, ao agudizarem-se contraditórios na sequência da derrota na guerra pela posse de Ogaden (contra a Etiópia e seus aliados socialistas), foi derivando para a compulsória instalação do caos, da desagregação e do terrorismo.
A partir da “escola” da Somália gerada em paralelo à “escola” do Sudão, está em curso “A SOMALIZAÇÃO DE ÁFRICA”!… (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/09/17/desde-aquel-11-de-septiembre-de-1973/; https://paginaglobal.blogspot.com/2020/09/africa-pantano-neocolonial.html ).
01– As disputas coloniais na Somália nos finais do século XIX e durante a 1ª metade do século XX, foram mais anarquizantes e desagregadoras, se comparadas ao resto do continente africano: italianos, britânicos e franceses, depois da inicial presença efémera dos portugueses, disputaram o espaço no seguimento da Conferência de Berlim, quando os povos autóctones estavam em estado de nomadização com as mais diversas sortes nos conflitos entre clãs e por isso não faltaram justificações para “dividir e dividir, para melhor reinar”… (https://www.infoescola.com/africa/somalia/; https://www.britannica.com/place/Italian-Somaliland; https://www.britannica.com/place/British-Somaliland; https://www.youtube.com/watch?v=8OlcwPvLB3U; https://www.wdl.org/en/item/11787/; http://www.gallimard.fr/Catalogue/GALLIMARD/Geographie-humaine/La-Somalie-francaise; https://www.universalis.fr/encyclopedie/djibouti/2-la-periode-coloniale/).
A colonização fez-se sobretudo com os sentidos postos na “rota das Índias” e no domínio geoestratégico da entrada sul do Mar Vermelho na sua ligação com o Golfo de Aden, a ponto de, por exemplo, a Somália Britânica ser administrativamente dependente de Aden, no Iémen, no lado norte do estreito de Bab el Mandeb. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Golfo_de_Adem; https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/2020071915846884-novo-oceano-esta-se-formando-em-local-unico-na-terra-dizem-cientistas/).
No século XXI o Golfo de Aden tornou-se numa das mais tensas regiões marítimas do globo!… (https://br.sputniknews.com/tags/geo_Golfo_de_Aden/; https://news.un.org/pt/tags/golfo-de-aden; https://sndatun.wordpress.com/2015/12/06/combatting-piracy-off-the-coast-of-somalia-international-community-support-needed/).
Tudo se foi consolidando numa base de valores geoestratégicos que pouco ou nada tinha a ver com o carácter e raio de acção das culturas dos povos autóctones!… (https://ethnomed.org/culture/somali/; http://hdr.undp.org/sites/default/files/hdr2019.pdf; https://core.ac.uk/download/pdf/15601742.pdf).
A pérola que constitui a ilha de Socotra, a nordeste do cabo Guardafui na Somália (Puntland), nessa divisão sempre pertenceu ao também cronicamente desestabilizado Iémen (nesse aspecto um irmão-siamês da Somália), pelo que hoje abriga uma estação de inteligência “de última geração”, que está a ser instalada em função do recente tratado entre os Estados Unidos, Israel, os Emiratos Árabes Unidos e Barein… (https://www.jforum.fr/israel-eau-base-de-renseignements-sur-lile-de-socotra.html; https://medium.com/@fromadic92/somalia-and-israel-do-all-roads-lead-to-tel-aviv-b94efd52aba7; https://www.youtube.com/watch?v=nzIJnZ-jdSg; https://www.youtube.com/watch?v=Ga4DncsyZj8).
As artificiosas rivalidades entre as monarquias arábicas, no rescaldo dos emparceiramentos e das coligações espevitadas pelo sionismo e o império, reflectem-se na Somália… (https://www.nytimes.com/2019/07/22/world/africa/somalia-qatar-uae.html?action=click&module=RelatedCoverage&pgtype=Article®ion=Footer).
… De nada valeu a Socotra o facto de tanto ser necessário preservar o arquipélago como um excepcional Património Natural de toda a humanidade, ao nível das ilhas Galápagos, tornadas célebres com as investigações de Charles Darwin! (https://whc.unesco.org/en/list/1263/; https://www.trtworld.com/magazine/what-is-the-uae-doing-on-the-yemeni-island-of-socotra-39385; https://www.jpost.com/middle-east/socotra-how-a-strategic-island-became-part-of-a-gulf-power-struggle-553599; https://slideplayer.com.br/slide/3805721/).
A Somália Francesa deu outro sinal de desagregação: os franceses adoptaram sucessivamente o nome de Somália Francesa (de 1896 a 1967), o nome de Afars e Issas (de 1967 a 1977) e deram origem ao actual Djibouti, independente desde 27 de Junho de 1977), onde vieram a implantar uma base, Camp Lemonnier, que se tornou extensiva à presença militar dos Estados Unidos na região desde que o Pentágono criou o AFRICOM, (https://www.hoa.africom.mil/) com o estacionamento duma força de intervenção actual na ordem de 4000 efectivos… (https://www.nytimes.com/2012/01/26/world/africa/camp-lemonier-in-djibouti-played-crucial-role-in-somalia-rescue.html; https://www.senat.fr/ga/rapport_djibouti/rapport_djibouti1.html; https://www.naval-technology.com/projects/camplemonnier/; https://www.youtube.com/watch?v=NiB0aL0oLyA; https://www.youtube.com/watch?v=1dZI6wjEsoc; https://militarybases.com/overseas/djibouti/lemonnier/; https://foreignpolicy.com/2019/01/26/u-s-developing-supply-route-along-dangerous-stretch-from-djibouti-to-somalia/).
Essa base, próximo da fronteira sul com a Somalilândia, (https://en.wikipedia.org/wiki/Somaliland; https://www.youtube.com/watch?v=mEGrV_1Pe_w; https://www.youtube.com/watch?v=7xOvc7skpGc; https://www.voanews.com/africa/somaliland-celebrates-independence-despite-lack-international-recognition; https://www.voanews.com/africa/official-somaliland-puntland-clash-leaves-4-dead) é um dos estímulos justificativos para a independência desta parte norte da Somália, que não sendo internacionalmente reconhecida, de facto existe e subsiste com estado e símbolos nacionais próprios, desde 18 de Maio de 1991… (https://www.refworld.org/docid/3ae6ab5620.html; https://nationalinterest.org/feature/it%E2%80%99s-time-pentagon-finds-alternative-djibouti-75966; https://www.busiweek.com/somaliland-and-ethiopia-working-towards-stronger-trade-ties/; https://www.cfr.org/blog/chinas-strategy-djibouti-mixing-commercial-and-military-interests; https://www.portstrategy.com/news101/insight-and-opinion/post-script/The-Berbera-option; https://risingpowersproject.com/quarterly/ethiopia-berbera-port-shifting-balance-power-horn-africa/).
O Djibuti manteve sempre um relacionamento regional de paz, jamais aceitando colocar no seu território factores de desestabilização tendo como alvo seus vizinhos, mas isso à custa da implantação de bases militares das potências França e Estados Unidos, de onde partem intervenções por todo o Leste de África, particularmente na direcção do sul da Somália, por parte das iniciativas do AFRICOM. (https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/dj.html; https://www.hoa.africom.mil/; https://www.wired.com/2009/01/africoms-quie-2/).
Por todas as dilacerantes razões, as potências coloniais foram ficando mais pelas praias, aventurando-se pouco pelo interior inóspito nas profundezas de Ogaden, (https://uca.edu/politicalscience/dadm-project/sub-saharan-africa-region/69-ethiopiaogaden-1948-present/; https://www.youtube.com/watch?v=fDww8H1F8ko; https://www.youtube.com/watch?v=-io_RfLBpgc) deixando um enorme vazio para usufruto exclusivo das nomadizações dos nacionais.
Era a partir desse espaço nacional não ocupado pelas potências coloniais que os clãs da Somália negociavam o estágio de “protectorado” com franceses, britânicos e italianos: a norte o protectorado francês (que evoluiu para o Djibuti) e o britânico (no que é hoje a Somalilândia), por fim a leste e a sul o protectorado italiano (Puntland e o “desgoverno” da Somália, com capital em Mogadíscio). (http://countrystudies.us/somalia/14.htm).
A desagregação da Somália começou efectivamente durante o próprio colonialismo e esse processo-matriz ficou inscrito com sangue e genocídio na história moderna da Somália desde os impérios coloniais como na expansão do império da hegemonia unipolar eminentemente anglo-saxónico que tanto “bebeu” de suas próprias experiências de “conquista do oeste selvagem”, conforme atesta a sua prática de conspiração mundo fora… (https://abcnews.go.com/International/story?id=80454&page=1).
02– Os autóctones, com uma identidade nacional forjada numa cultura de nomadização de largos séculos, em função dum ambiente colonial tão devasso nunca conseguiram estabilizar unidade sociopolítica, mantendo-se a tradição dos clãs desde as negociações com os seus “protectores” coloniais. (https://www.washingtonpost.com/wp-srv/world/countries/somalia.html; https://www.theguardian.com/world/2008/nov/23/somalia-piracy-human-rights).
Com a independência, a nomadização dos clãs autóctones na Somália só com um poder central de facto forte poderia equacionar-se numa relativa paz, num contexto duma tão atribulada herança e numa tão retalhada manta…
Essa paz relativa ocorreu num curto período, durante a segunda metade do século XX, desde o início do exercício de Siad Barre, de 21 de Outubro de 1969 a Julho de 1977, desde o golpe de estado militar até ao início da guerra contra a Etiópia pela posse de Ogaden…
Enquanto a proclamada República Democrática Somali vigorou tendo como órgão de cúpula o Conselho Revolucionário Supremo e a orientação socialista com recurso ao marxismo-leninismo, essa paz relativa foi possível mesmo com a seca em 1975, que provocou a primeira grande onda de refugiados para o sul mais rico em água e por isso mais fértil, assim como para Mogadíscio, a capital, cuja população começou a crescer como nunca antes…
O surgimento de Siad Barre a partir dum golpe militar (21 de Outubro de 1969) tornou-se num exercício autoritário garante inicial de relativa paz, uma excepção acima das tradições nómadas dos clãs (literalmente sobre as suas cabeças), pelo menos enquanto ele manteve a pista socialista, antes de ser, de equívoco em equívoco, atingido pelos artificiosos contraditórios externos e internos, aliando-se a potências como os Estados Unidos e aos factores de desagregação étnica!… (https://www.britannica.com/biography/Mohamed-Siad-Barre).
Quando Siad Barre transigiu em relação ao tribalismo e iniciou o ataque pela posse do Ogaden numa viragem radical, começou-se a alterar de forma negativa e profundamente o quadro, que sintomaticamente foi acompanhado pela mudança de alianças externas: os socialistas apoiaram a Etiópia no outro lado do “front”, na altura já com um governo de orientação próxima (o Derg de Mengistu Mariam) e os Estados Unidos passaram a apoiar Siad Barre, preenchendo o vazio do corte de relações da Somália com a União Soviética… (https://www.ecured.cu/Guerra_del_Ogad%C3%A9n_(Etiop%C3%ADa_y_Somal%C3%ADa,_1977-1978); https://www.telesurtv.net/news/guerra-ogaden-africa-invasion-somalia-etiopia-20180711-0007.html; https://www.blackpast.org/global-african-history/ethiopian-somali-war-over-ogaden-region-1977-1978/; https://www.globalsecurity.org/military/library/report/1986/KCA.htm).
O jogo geoestratégico externo entre as potências e a erosão interna das lutas entre clãs que repartiam as disputas de espaço territorial de influência, foram-se combinando, atingindo um ponto de viragem para o poder de Siad Barre com a derrota na guerra pela posse de Ogaden (1977/1978), que correspondeu desde logo, na altura, ao fim do quimérico projecto da Grande Somália. (https://warwick.ac.uk/fac/arts/history/students/modules/hi277/programme/t2w13/hi277_tareke.pdf; https://www.voanews.com/africa/siad-barres-fall-blamed-somalias-collapse-civil-war).
Essa alteração conjugando factores internos e externos, foi a charneira que, a partir de 1978, iria trazer à Somália um progressivo caminho de desintegração, de terrorismo e de caos, sempre sob a influência e a cumplicidade dos Estados Unidos, nos termos da fluência dos relacionamentos internacionais!… (https://www.pambazuka.org/governance/somalia-al-shabab-extremism-and-us-allies; https://www.jstor.org/stable/41059758).
Durante a colonização e desde a independência, só houve um curto período de paz relativa, enquanto Siad Barre teve orientação socialista… quando ele abandonou esse projecto e ao provar a erosão da opção capitalista sob a égide dos Estados Unidos e de seus vassalos, tudo voltou pouco a pouco ao feudalismo cultural da nomadização e das lutas entre clãs, até se introduzir na Somália o islamismo sunita/wahabita radical!… (https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/71689/000880118.pdf?sequence=1; https://sudantribune.com/spip.php?page=imprimable&id_article=15134).
03– O exercício do poder neoliberal do republicano Presidente Ronald Reagan (https://web.archive.org/web/20061003061613/http://www.reagansheritage.org/html/reagan_speeches.shtml; https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Ciclone; http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/1670089.stm; http://www.rawa.org/cia-talib.htm; https://www.sabrang.com/cc/archive/2001/oct01/cover6.htm; https://archives.globalresearch.ca/articles/CHO404A.html) foi extremamente chocante para com a Somália durante toda a década de 80 do século XX, aproveitando o fim dos relacionamentos com o campo socialista e a derrota no campo de batalha do projecto da Grande Somália, sustentado pelo Presidente Siad Barre. (https://www.jstor.org/stable/27552748; https://www.foreignaffairs.com/articles/1986-03-01/reagan-doctrine-guns-july; https://en.wikipedia.org/wiki/Reagan_Doctrine; https://en.wikipedia.org/wiki/Somalia%E2%80%93United_States_relations; https://history.state.gov/countries/somalia; https://archives.globalresearch.ca/articles/BRZ110A.html).
A guerra terá dizimado 1/3 das forças militares somalis, sacudiu de forma negativa todo o país, debilitando-o e enfraquecendo progressivamente o próprio poder do tão volúvel Presidente Siad Barre. (http://www.country-data.com/cgi-bin/query/r-12043.html; https://www.jstor.org/stable/41931314).
Deu porém oportunidade à Somália em tornar-se numa discreta base para os “freedom fighters” que operavam no Médio Oriente Alargado (sobretudo no AfPaq), desde a subserviência das políticas do Presidente Siad Barre à “doutrina Reagan” em 1982. (https://web.archive.org/web/20061003061759/http://www.reagansheritage.org/html/reagan_panel_kraut.shtml; https://www.c-span.org/video/?125293-1/1985-state-union-address).
Foi essa a “lei da compensação”!
Os enlaces Reagan/Barre, com um encontro entre ambos na Sala Oval da Casa Branca em Washington a 11 de Março de 1982, possibilitou: (https://www.youtube.com/watch?v=VygRbTniy9k; https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1982/03/12/somali-leader-voices-optimism-after-talks/201a10d0-5b58-42b1-9abc-59e155653305/; https://www.reaganlibrary.gov/sites/default/files/digitallibrary/smof/execssecsubject/box-050/40-753-12026365-050-001-2019.pdf).
- Que a Somália ficasse totalmente dependente das geoestratégias dos Estados Unidos no Médio Oriente Alargado (na altura em direcção ao Afeganistão, em reforço dos “freedom fighters”, dos talibãs e da Al Qaeda que combatiam a presença militar soviética no país em apoio ao governo de orientação socialista); (https://en.wikipedia.org/wiki/Soviet%E2%80%93Afghan_War; https://books.google.co.ao/books?id=laG03iJF7t8C&pg=PA248&redir_esc=y; https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0022009416653459?journalCode=jcha; https://www.wired.com/2009/08/former-somaliland-resistance-fighter-arm-us-to-beat-islamists/);
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Que a Somália propiciasse alternativas de peso para o domínio do Oceano Índico Norte, crucial para as grandes rotas internacionais do petróleo e do gás (ainda válido hoje); (https://thediplomat.com/2017/12/the-us-national-security-strategy-implications-for-the-indo-pacific/);
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Que a Somália recebesse apoio sob o rótulo de ajuda às populações deslocadas por efeito das sucessivas secas (o aquecimento global influi fortemente na Somália), da guerra pela posse de Ogaden e de outros conflitos entre clãs que evoluiriam para a rebelião contra o poder; (https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1982/03/12/somali-leader-voices-optimism-after-talks/201a10d0-5b58-42b1-9abc-59e155653305/);
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Que o poder do Presidente Siad Barre, alterado em 180º desde a sua inicial orientação socialista, recebesse o apoio para se manter como se fosse uma “ponte sobre águas turbulentas” entre 1982 a 1991 e isso apesar do genocídio do clã Isaak, no que é hoje conhecido “Vale da Morte”, em Argheisa, a capital da Somalilândia… (https://pulitzercenter.org/reporting/valley-death-somalilands-forgotten-genocide).
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Que em função desses enlaces, os Estados Unidos tornassem o “exemplo” dos relacionamentos com e na Somália, como uma escola para estabelecer os parâmetros do seu domínio no Médio Oriente Alargado e em África, neste caso antes mesmo da formulação do AFRICOM, do jogo entre choque e terapia neoliberal e da panóplia de “Private Military Companies”; (no fundo o império herdou mais um pântano em relação ao qual, a ortodoxia do domínio, sendo rígida, não encontra soluções de fundo); (https://www.usip.org/sites/default/files/sr950000.pdf);
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Que se fosse gerindo, tornando os Estados Unidos cúmplices em pelo menos mais um genocídio durante a vigência da “doutrina Reagan”, a corrosão do poder somali sob regência do Presidente Siad Barre, em termos de direitos humanos, com evidentes sinais cada vez mais gravosos, enquanto durou a designação de “Guerra Fria”; (https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/14682745.2017.1364729?src=recsys&journalCode=fcwh20);
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Que até hoje jamais fosse reconhecida a independência da Somalilândia (região do antigo protectorado britânico que não pretende mais integrar um estado somali com capital em Mogadíscio), a fim de entre utras coisas, ocultar o conhecimento sobre o genocídio contra o clã Isaak, com a silenciosa cumplicidade dos Estados Unidos; (https://www.jpost.com/Opinion/Israel-and-Somaliland-long-lost-brothers-572303);
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Que finalmente, de forma perfeitamente “indexada”, uma mudança de paradigma em Washington propiciasse a saída do Presidente Siad Barre do poder em Mogadíscio face ao crescendo da rebelão somali contra ele (proclamação a 11 de Setembro de 1990 da “New World Order” com o advento do Presidente republicano George H. W. Bush, antes do abandono do poder por parte de Siad Barre, em 1991). (https://kenopalo.com/2019/05/28/the-ethiopia-somalia-war-of-1977/).
Em resultado do exercício de relacionamentos com os Estados Unidos, a Somália foi dos primeiros territórios a sofrer por tabela tácita a crescente influência sunita/wahabita radical que se iniciou com o fortalecimento dos “freedom fighters”, desde cerca de 20 anos antes da doutrina do republicano Bush (Rumnsfeld/Cebrowski)… (https://fas.org/irp/congress/1992_rpt/bcci/; https://fas.org/irp/congress/1992_rpt/bcci/11intel.htm; https://fas.org/irp/congress/1992_rpt/bcci/11intel.htm; https://en.wikipedia.org/wiki/Abu_Mansoor_Al-Amriki).
A proximidade da península arábica e particularmente do Iémen, reflectiu-se por isso em reforço da desagregação, do terrorismo e do caos! (https://www.researchgate.net/publication/299368349_Yemen_Another_Somalia_in_the_Arabian_Peninsula_Academic_and_political_writer_on_the_Horn_of_Africa_and_the_Middle_East).
Em resultado do genocídio do clã Isaak, a Somalilândia declarou a sua independência a 11 de Maio de 1991 (no rescaldo da declaração sobre a “New World Order”do Presidente republicano George H. W. Bush), uma independência ainda hoje internacionalmente não reconhecida, mas de facto subsistente. (https://www.thenation.com/article/archive/in-the-valley-of-death-somalilands-forgotten-genocide/; https://www.aljazeera.com/features/2014/02/06/investigating-genocide-in-somaliland/).
O poder do Presidente Siad Barre, quando o Presidente George H. W. Bush faz a 11 de Setembro de 1990 o seu pronunciamento sobre a “New Woild Order” tinha já os dias contados: os Estados Unidos em África não só “dividem para melhor reinar”, mas também são “useiros e vezeiros” em, “democraticamente”, “usar e deitar fora”!… (https://actualidad.rt.com/actualidad/174097-eeuu-africa-libia-somalia-recursos?fbclid=IwAR2T2w3UHSz26lckUavZiTUiixu-l_oNgp7PJfOYyLeeW3YpJyRrl02FrVw).
04– Quando houve a viragem do século, as premissas de desintegração, de terrorismo e de caos já haviam fermentado amplamente no ambiente humano da cultura de nomadização na Somália particularmente desde o início da década de 90, o que custou o fim do exercício tão profundamente equivocado do Presidente Siad Barre, autêntica ponte sobre águas turbulentas! (https://www.nytimes.com/2019/12/29/world/africa/somalia-attack-shabab.html).
O “exemplo da Somália” já estava em cima da mesa quando o “capitalismo de desastre” se assumiu com o Presidente republicano George W. Bush sob a influência do loby da energia, do armamento e da especulativa dolarização: a Somália tornou-se o expoente dum estado falhado, mergulhado em profundas divisões, em constantes tensões, conflitos, terrorismo e irremediável caos, a par do Iémen! (https://www.theguardian.com/commentisfree/2006/aug/30/comment.hurricanekatrina; http://www.ism-italia.org/wp-content/uploads/GlobalResearch20150301-America%E2%80%99s-%E2%80%9CGlobal-War-on-Terror%E2%80%9D-Al-Qaeda-and-the-Islamic-State-ISIS-A-Review-By-Prof-Michel-Chossudovsky.pdf).
Para tal primeiro emergiu a sensibilidade das Cortes Islâmicas e a partir dela o Al Shabaab que se vincularia por seu turno à Al Qaeda!… (https://www.voanews.com/archive/success-islamist-courts-somalia-raises-questions-about-future-shattered-nation; https://www.cfr.org/backgrounder/al-shabab; https://www.bbc.com/portuguese/topics/cyx5kx4n89jt; https://www.hiiraan.org/2005/feb/op/bashir_goth.htm; https://www.britannica.com/place/Somalia/A-new-government; https://www.govinfo.gov/content/pkg/CHRG-113hhrg87183/html/CHRG-113hhrg87183.htm).
A intervenção militar dos Estados Unidos em jeito de choque neoliberal ficou desde então “permanentemente autojustificada” desde o 11 de Setembro de 2001, assim como as acções dos seus contratistas mercenários (aptos à terapia do choque conforme foi feito no Iraque), as acções “partnership” do AFRICOM a partir de 2008 e a formação de forças africanas de intervenção sob a designação AMISOM, um instrumento subserviente, de facto dependente da “orientação inteligente” do Pentágono… (https://archives.globalresearch.ca/articles/CHO111A.html; https://cisac.fsi.stanford.edu/mappingmilitants/profiles/al-shabaab; https://www.govinfo.gov/content/pkg/CHRG-113hhrg87183/html/CHRG-113hhrg87183.htm).
Entre os contratistas mercenários do âmbito das parcerias público privadas instaladas com a desagregação, o terrorismo e o caos, destaca-se a Bancroft Global Development, da qual fazem parte antigos “barbouzes”, como Richard Rouget, um dos lugares-tenentes de Bob Dénnard… (https://www.bancroftglobal.org/; https://www.nytimes.com/2011/08/11/world/africa/11somalia.html).
São esses “experts” decisivos na criação de forças africanas, no seu treino e nas táticas operativas em curso, contra o inimigo tácito que se radicalizou no Al Shabaab (https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/1057610X.2019.1628622; https://earthleagueinternational.org/wp-content/uploads/2016/02/Report-Ivory-al-Shabaab-Oct2016.pdf; https://www.voanews.com/africa/somalias-shabab-ends-bloody-decade-resurgent-unbowed) e se tem vindo a espalhar em direcção à África Austral seguindo a costa leste do Índico, pelo Quénia, pelo Uganda, pelo leste da RDC, pela Tanzânia, chegando finalmente a Moçambique!…
05– Se antes as conexões com os “freedom fighters” particularmente no Afeganistão foram importantes no jogo geoestratégico da inventada “Guerra Fria” por causa do “combate ao comunismo”, o jogo tácito colocando esses agrupamentos como inimigos no lugar dos comunistas, passou a ser útil para a forja neocolonial que grassa sobre África em nossos dias, utilizando a designação de “combate ao terrorismo” e com isso a justificação-chave para a existência do AFRICOM!…
É evidente que com essa rígida fórmula, manipulando contradições semeadas com seu própri contributo, faz com que o império herde pântanos, de onde não quer nem vai sair, por muito que “terceirize”os conflitos, por muito qu implante “Private Military Companies”!… (https://www.bancroftglobal.org/where/).
… Continuam infrutíferas as tentativas de encontrar soluções de paz para todo o território somali!… (http://jornaldeangola.sapo.ao/mundo/lideres-da-somalia-retomam-negociacoes-para-reunificacao), mas é claro que os Estados Unidos actuam sempre em nome da paz!… (https://web.archive.org/web/20090804122416/http://news.xinhuanet.com/english/2009-07/05/content_11653604.htm; https://www.bbc.com/news/world-africa-46449954).
Da Somália foi possível levar os ensinamentos recolhidos de sua escola para outras regiões de África em especial, na sequência da destruição da Líbia em 2011, (http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/salvar-libia.html; https://rebelion.org/libia-y-la-nueva-division-imperial-de-africa/; https://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=12743:libia-no-grande-jogo-na-estrada-para-a-nova-partilha-da-africa&catid=256:direitos-nacionais-e-imperialismo&Itemid=131) por toda a imensa região de culturas de nomadização do Sahel e áreas próximas garantes de espaço vital sob tensão: do Senegal à Somália, passando pela Mauritánia, o Mali, o Níger, o Chade, o Lago Chade, a República Centro Africana, o troço norte da bacia do Congo, os Grandes Lagos, o Sudão, o Sudão do Sul, o Uganda, o Quénia, a Tanzânia, a Somália, chegando agora a Moçambique…
O Al Shabaab está neste momento a estender-se na direcção da África austral e há sinais até na África do Sul!… (https://issafrica.org/amp/iss-today/south-africa-and-terrorism-the-links-are-real).
A escola de caos, terrorismo e desagregação na Somália, (https://www.cfr.org/backgrounder/al-shabab; https://www.bbc.com/news/world-africa-15336689) foi uma das escolas que tornou tacitamente possível o corrente “modelo” de neocolonização por parte do império da hegemonia unipolar e o seu vassalo FrançAfrique: está-se em plena “SOMALIZAÇÃO DE ÁFRICA”!
Luanda, 23 de Setembro de 2020