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¿Quo vadis MPLA? Martinho Júnior

MPLA QUO VADIS?

01- O MPLA ganhou as eleições de 2022 na República de Angola graças à linha de rumo do seu Programa Maior e em reflexo da realização do seu Programa Mínimo, consubstanciado decisivamente na Proclamação da Independência a 11 de Novembro de 1975!

A linha de rumo após a independência foi alimentada com progressivos passos que se reflectiram nos governos que se foram sucedendo atravessando quantas vezes contextos e conjunturas adversas tendentes em fomentar todo o tipo de contraditórios:

  • Com o Presidente Fundador da República Popular de Angola, semeou-se a paz a norte de forma consolidada com o então Zaíre e, por essa via, conseguiu-se a paulatina atracção das sensibilidades da FNLA à causa patriótica angolana, retirando-a do espectro de influências neocoloniais externas; quando o Presidente António Agostinho Neto se aproximava da formulação da paz a sul, o golpe do 27 de Maio de 1977, com sinais de inteligências redundantes do Exercício Alcora, protelou-a para além de sua morte, o que motivou a programação oportunista agenciada por via de Savimbi e da UNITA a favor da pista neocolonial que se estendia e estende desde o fulcro do domínio da hegemonia unipolar;
  • Com o Presidente José Eduardo dos Santos essa paz veio a ser conseguida em termos neoliberais muito desfavoráveis para Angola, espreitando nos princípios da década de 90 do século XX, mas só se consumando em 2002, há apenas 20 anos; o exercício do Presidente angolano, para além das vitórias alcançadas contra o “apartheid” com espectro acentuado por toda a África Austral, levou ao início da construção das barragens em vários rios nacionais, com maior peso no Médio Cuanza, um enorme conjunto de obras que se enquadra no Programa Maior visando alterar profundamente, com o impulso energético daí resultante, o estágio de subdesenvolvimento crónico em que o povo angolano (sobre)vive desde o passado;
  • Com o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço deu-se seguimento a esse esforço e começaram-se além dele a dar passos decisivos para o melhor aproveitamento da água interior do país em termos de segurança vital em benefício de todo o povo angolano, começando pelo sul e pelo sudoeste, algo imprescindível dado o avanço para norte dos desertos do Kalahari e do Namibe e a necessidade de revitalizar antropologicamente as culturas de toda essa imensa região.

Foi nesse MPLA, com essa trilha palpável e substantiva própria dum país com rumo, que votei e parece ser a leitura do próprio eleitorado, desde logo no Cunene das grandes secas, a única Província onde o MPLA ganhou por 5 a 0!…

 

02- Após três sucessivas governações ao longo dos 47 anos da independência nacional, face a tantos contraditórios redundantes dos contextos e conjunturas adversas, o MPLA, ainda que demonstrando seu rumo com a implementação do seu Programa Maior identificado com os superiores interesses do povo angolano, ao sofrer os impactos neoliberais perdeu bastante clarividência na sua manobra antropológica, sociopolítica e psicológica!

No espectro sociopolítico eleitoral essa leitura reforça-se com a perda de voto numa democracia representativa que tende a limitar muitos aspectos da vida nacional ao quebrar desde logo com as potencialidades cívico-militares redundantes do passado de luta popular generalizada que deveria ter sido reaplicável com a paz, adequando aos termos da própria paz.

A paz quando se limita por outro lado a um exercício religioso, perde energia humana substantiva, contrariando, condicionando, ou mesmo prejudicando a capacidade mobilizadora.

O MPLA perdeu muita capacidade de mobilização humana quando se esfriou a vanguarda: acomodou-se quando há tanto para se incomodar!

Perdeu clarividência extensiva que possibilita a base da via da “cientificação” do conhecimento e da acção, a base da sua maturidade e com isso há muitas coisas aconselháveis de se fazer que se tornam cada vez mais desconhecidas da sua direcção; por outro lado as transformações espelhadas até no léxico corrente, em função dos contextos e conjunturas adversas tendem a confundi-lo em relação à sua própria matriz e essência, o que tem sido espelhado em alguns dos contraditórios que lhe são transversais e por isso insuficientemente avisados, prevenidos e/ou digeridos.

O ambiente corrente é também adverso em relação à matriz e à essência dialética inteligente, subjacente aos Programas Mínimo e Maior: em todas as sensibilidades sociopolíticas e no próprio MPLA se intensificam transversalmente e como por osmose, contraditórios de ordem “clânica” que foram “cultivados” com a “abertura ao mercado”, após Bicesse (31 de Maio de 1991), atirando para as calendas gregas muitos conceitos que deram vigor antropológico, histórico e humano ao seu “amplo movimento”, muito antes de qualquer utilitarismo, ou oportunismo!

Não basta cumprir com a realização dum quadro de obras relevantes para um Programa, quando o espectro humano carece tanto das sensibilidades a partir da vanguarda em termos de pedagogia educacional extensiva a todo o território, em termos até de contínua informação, participação e protagonismo, a fim de mobilizar-se com vontade e energia para superar as cargas do subdesenvolvimento, as assimetrias e os aliciamentos, em termos de “soft power” que chegam do exterior, algo inerente aos riscos e desafios próprios deste século XXI.

Neste sentido e a título de exemplo entre os muitos com que poderíamos ilustrar o conjunto de ideias acima relacionados, sob os pontos de vista antropológico e sociopolítico o MPLA indicia não ter interpretado, nem ter precavido as suas opções, levando em consideração a evolução de fluxos humanos gerados na violência dos anos idos que afluíram às cidades aumentando as assimetrias…

Por insuficiência de conhecimento crítico desse fenómeno, de sua amplitude e das opções de outras sensibilidades agora na oposição, geraram-se incapacidades de mobilização de grandes massas jovens particularmente na cidade capital, que de outro modo ficam à mercê duma potencial força-tarefa passível de ser mobilizada por uma qualquer “primavera” de ocasião, conforme indicia o momento!

 

03- O MPLA deve cerrar fileiras desde já no sentido de mobilizar a inteligência patriótica que ainda lhe é afim e começar por decifrar os contextos e as conjunturas que levaram a UNITA em função do caos, do terrorismo e da desagregação, a concentrar em Luanda milhões de refugiados que tenta mobilizar à maneira duma 5ª coluna!

A UNITA conseguiu reunir algumas condições objectivas e subjectivas para a tentativa da eclosão duma “primavera” que se não ocorrer a curto prazo está de qualquer modo pendente.

Isso teria sido evitado se durante a campanha ao invés duma pia e contínua evocação à paz, o MPLA tivesse ao menos vislumbrado essa concentração paulatina de deslocados para posterior aproveitamento, um trabalho paulatino que foi sendo feito em etapas ao longo de décadas, particularmente desde quando os batalhões semi regulares nºs 513, 517 e 360 chegaram à antiga 1ª Região em 1984.

Esse trabalho de vislumbre, informação pública e mobilização deveria ter ocorrido muito antes de pelo menos os últimos pleitos eleitorais.

Como foi impossível ao regime do “apartheid” fazer explodir uma bomba atómica das seis com que estava municiado, em Luanda ou noutro qualquer lugar de Angola e antes do seu colapso, a UNITA indicia ter assumido o compromisso de tentar colocar uma “bomba humana” ao estilo da fermentação das redes “stay behind” da NATO, ou seja, pode fazer eclodir até uma espiral de violência recorrendo progressivamente a métodos de guerrilha urbana ao jeito do que aconteceu com a OAS, que inspirou seus métodos por via das Brigadas de Acção Técnica de Explosivos sincronizados com a pesquisa de informações dos seus serviços.

Desde 1992 que a UNITA põe em causa os resultados das eleições em que participa em Angola e quanto mais não fosse por causa dessa renitência que indicia o seu papel de continuado agente externo desde a Operação Madeira e do Exercício Alcora, deveria ser colocada fora de qualquer pleito e instituição do estado angolano!…

Círculo 4F, Martinho Júnior, 26 de Agosto de 2022.

Imagem – 1ª página do Jornal de Angola – 26 de Agosto de 2022 – https://www.jornaldeangola.ao/ao/capas/detalhe.php?id=1919

Conselho Eleitoral Nacional – https://www.cne.ao/

Pistas inventariadas e recomendadas para consulta:

 

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