Capitalismo cancerígeno. Martinho Junior
CAPITALISMO CANCERÍGENO.
O vírus do capitalismo é o pior que alguma vez a humanidade sofreu, é um autêntico camcro e por isso é o modo bárbaro que se opõe à ampla necessidade do homem se ter de reger cada vez mais por lógica com sentido de vida, sob pena de desaparecimento da própria espécie da face da Terra!
A disfunção capitalista na Rússia e nos países criados a partir da URSS, injectada a partir da sua implosão e do fim do socialismo na Europa, está intimamente associada às crescentes tensões nas placas tectónicas socioculturais da EurÁsia e é o fluido cancerígeno onde se movem os protagonistas-alvo de contínuos expedientes de desestabilização do “hegemon”, a começar pela própria Federação Russa.
Alinhar piamente no capitalismo já está a sair demasiado caro a todos eles e não é com ilusões que se podem melhor equacionar e defender no concerto das nações e dos povos por que de facto estão à mercê do génio da barbaridade!
Num concerto dessa natureza é a China que vai arcar com os quesitos geoestratégicos de estabilidade e segurança, por que além do mais o grau de equívocos é, pelo seu desencantamento histórico e antropológico, muito menor…
01- De todos os emergentes do imenso continente EurÁsia, apenas a República Popular da China indicia estar vacinada de algum modo contra o vírus do capitalismo selvagem, ainda que segundo o filtro das regras de “um estado, dois sistemas”!
Para a China seria impossível o salto que se deu em benefício do seu povo em desagravo colonial e o surgimento de sua imensa classe média, sem a absorção de tecnologias na escala em que foi feita, acompanhada pelos investimentos industriais e de serviços de toda a ordem que surgiram desde o exterior, atraídos por mão-de-obra na altura barata e por um imenso “mercado em expansão”.
Agora que a China pode já caminhar por si e assumir-se no relacionamento pacífico para com os outros, os mecanismos reguladores vão ter de responder mais incisivamente a quem impõe o capitalismo selvagem que corresponde à própria génese e “diktat” omnipresente do “hegemon” unipolar, o que se faz sentir também no “mercado” interno na mão de privados, particularmente quando eles procuram não cumprir com as regras que o determinam, colocando-se contra as capacidades colectivas.
A capacidade do Partido Comunista Chinês vai ao ponto de, com base em endógenas culturas milenares que são filosoficamente respeitadas pelo seu imenso saber acumulado, conseguir reger soberanamente o “mercado” que não pode ser o capitalismo neoliberal selvagem que na China o “hegemon” pretendia que fosse.
A absorção de Macau e Hong Kong inscrevem-se nesses pressupostos e, se Macau foi um assunto relativamente pacífico, Hong Kong reflecte os poderosos vínculos, agora mais evidentes nos sistemas financeiros, com cujo eixo mental é todavia ainda próxima daquela do poder que os britânicos detinham na China, quando desencadearam as duas “guerras do ópio”.
Neutralizar a bolha de tendência neoliberal que dá pelo nome de Hong Kong é determinante para que a RPC não caia na tentação do canto neoliberal selvagem e consiga encontrar formas de dominar os monstros (eles fluentemente usam a imagem de dragões)!
O “mercado” nestes termos não é filosofia alguma para além do utilitarismo do “savoir faire” e por isso não vincula o carácter das instituições, nem modela a ideologia corrente, aberta à colectividade e ao imenso respeito que o colectivo merece por razões de identidade, de princípio, de antropologia e de história.
Na China o campo socialista constrói-se a pulso durante décadas sobre as ruínas coloniais sofridas pelo povo chinês e o capitalismo tem sido apenas uma alavanca para se acelerar o processo e para melhor facilitar as acções de relacionamentos com os outros estados e povos, até por que os relacionamentos comerciais de longa distância são parte integrante das milenares culturas chinesas!
02- Todos os outros emergentes EurAsiáticos, quer a Federação Russa, quer os países saídos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, quer os que antes tinham orientação enquadrada no “socialismo real”, enveredaram pelo capitalismo e adoptaram em geometria variável uma formatação institucional conforme à receita da “democracia representativa” padronizada pelo “hegemon” unipolar a ponto de alguns integrarem a NATO.
A “democracia representativa” é a primeira das tentações capitalistas institucionalizadas no estado afim ao “hegemon” e mesmo que a barbárie neoliberal não penetre, elas fazem parte das vulnerabilidades que podem atrair as tentações das “revoluções coloridas”, também elas estimuladas por filosofias de especialidade eminentemente anglo-saxónicas, de que aliás se serve profusamente o “hegemon” quando distende suas capacidades de inteligência agressiva e ofensiva em função de suas próprias apetências imperiais!
Ainda que tenham de certo modo conseguido não se deixar contaminar pela selvageria neoliberal, essa deriva foi pelo menos inicialmente impulsionada pelo campo neoliberal, até por que a “implosão” da URSS assemelhou-se ao paradigma do que viria a ser a referente “revolução colorida”, que na Rússia só foi ultrapassada (pelo menos até agora), com o fim da era do tandem Gorbatchov-Ieltsin!
Desde esse impulso que suas complexas sociedades sofrem disfunções e desestruturações de ordem filosófica, mental e prática, umas mais subtis, outras mais evidentes, mesmo que hajam realizações de grande vulto em vários campos de actividade e isso num ambiente antropológico que em muitos casos integram placas tectónicas socioculturais de referência, originadas por nomadizações e migrações milenares de toda a ordem, que face aos acontecimentos contemporâneos estão a ser indelevelmente tocadas pelas transformações “sistémicas” em curso.
Procurar refúgio na história, nas tradições e na religião, conforme acontece na superestrutura ideológica do poder na Rússia, por si não está suficientemente adequado em relação aos riscos, por que a necessidade de cerrar fileiras se impõe em toda a extensão do território.
Assim abandonar o socialismo traz problemas acrescidos nos subterrâneos das sociedades que em muitos aspectos ficam à mercê, em suas múltiplas transversalidades do cortante fio da navalha duma sempre latente “revolução colorida” e não há tratado de defesa mútua que o valha para impedir que isso alguma vez aconteça enquanto houver “hegemon” unipolar.
03- Supostamente o Presidente Putin tem respondido ao impacto neoliberal, neutralizando ao longo dos anos instituições que dão corpo a propósitos que não foram tidos em conta logicamente pelo tandem seu antecessor, todavia o fenómeno inerente a uma Federação Russa afim ao capitalismo sofre para além disso de disfunções e desestruturações sistémicas provocadas pelo capitalismo e esse fenómeno acontece também nos outros países saídos da URSS, como a Ucrânia (“revoluções coloridas” em 2004/5, “Revolução Laranja” e 2014/15, “EuroMaidan”) ou o Cazaquistão.
Em capitalismo será sempre impraticável neutralizar os rejuvenescidos tentáculos fomentados pelo “hegemon” unipolar, os visíveis e os “adormecidos”.
O “hegemon” pode esperar o tempo que for preciso para fazer surgir os “adormecidos” aparentemente do nada!
No Cazaquistão há uma imensa panóplia de organizações subservientes, para além da presença das maiores multinacionais estado-unidenses, capazes de alimentar os subterrâneos das disfunções e desestruturações, entre elas a Fundação Soros, a National Endowment for Democracy, ou a USAID…
Fazer aberturas como a relativamente harmoniosa RPC fez é para todos os da EurÁsia uma tentação emergente, mas de forma alguma isso pode conduzir a um salutar resultado, ou pelo menos a um resultado ao nível do que a China até agora alcançou, até por que a China sendo sempre uma incomparável aliciante, ganhou os anticorpos históricos e organizativos a partir de sua própria cultura de forma sensível e de modo a garantir a relativa estabilidade de suas placas tectónicas antropológicas.
Na Ucrânia e no Cazaquistão, a institucionalização do “capitalismo de mercado” afim aos parâmetros da “democracia representativa”, dada a apetência do “hegemon” unipolar, exclusivista e reitor da NATO, abre latente caminho à “revolução colorida”, como aconteceu com a “revolução laranja”, a da “Praça Maidan” e a que “rebentou” agora no Cazaquistão, aparentemente despoletada por uma subida de preços de produtos energéticos no país (na mídia afim ao poder do “hegemon” há sempre um argumento avulso para um primeiro passo “pacífico” que depois dá azo ao rápido crescer da violência até à ameaça ou tomada do poder).
De facto as tensões entre campo e cidade esbatem-se nos processos culturais desses países que nas suas raízes têm que ver com amplas migrações e nomadizações em espaços enormes, em especial o Cazaquistão, dada a sua posição geográfica estratégica.
Por outro lado, o que aconteceu após o fim da União Soviética, aos processos de produção, às actividades do país,. Às classes trabalhadoras e às suas relações com o poder com sinal capitalista?
Para lá das tensões socioculturais de fundo, atente-se nas posições sobre os acontecimentos por parte do Movimento Socialista e por parte da atenção do Partido Comunista da Federação Russa solidário à causa dos trabalhadores cazaques.
04- De entre os factores que podem influenciar utilizando métodos ambíguos em função da pressão do “hegemon” está por exemplo a Turquia alinhada na NATO e nas filosofias e práticas dos Irmãos Muçulmanos segundo o seu actual Presidente Erdogan, uma entidade que tende ao expansionismo tirando partido do raio de acção das culturas turcas que se expandiram até às fronteiras da Rússia, da Mongólia e da China.
Erdogan vai colecionando iniciativas na Ucrânia, na Síria, na Líbia desintegrada, no Azerbeijão e, por tabela, a leste do Mar Cáspio, nos componentes da Ásia Central, incluindo o Cazaquistão.
As redes de inteligência do “hegemon” movem-se por dentro dessas influências ambíguas onde escondem seus operacionais da crise e do caos, uma aprendizagem que foi conseguida no Afeganistão, no Iraque, ou na Síria; uma parte delas são peritas em provocar a anestesia que antecipa as “revoluções coloridas” e as “primaveras árabes”, para depois tacitamente aplicarem a espiral de caos, terrorismo e desagregação aproveitando um qualquer movimento legítimo da classe trabalhadora esteja esta organizada ou não.
As mesmas redes de inteligência de tendência eminentemente anglo-saxónica e turca podem-se encontrar quer na Ucrânia, quer no Cazaquistão e estão comprovadamente a ter o papel de aceleradores das tensões das placas tectónicas socioculturais duma maneira capaz de desestruturar instituições a fim de a partir delas já desestruturadas, desestruturar os estados e colocar no poder uma entidade afim emergindo das crises e do caos, de preferência uma entidade que multiplique o fenómeno da desagregação e do caos!…
05– Ao indiciar não levar em conta de forma mais consequente essa tipologia de riscos ao nível da apreciação antropológica, sociológica e política de primeiro plano, as insuficiências ou as falências de apreciação alteraram profundamente o amplo quadro da apreciação filosófica, ideológica e prática o que impossibilita a aproximação à harmonia que só o socialismo pode comportar, conforme acontece com a China!
É nessa situação onde se move o Partido Comunista da Federação Russa e onde foram banidos os Partidos Comunistas da Ucrânia e do Cazaquistão, onde mesmo o Movimento Socialista tem de assumir um carácter semi-clandestino!
O Presidente Putin está nesses termos a ficar a meio das próprias capacidades de mobilização geoestratégica, sempre susceptível de ser envolvido nas ambiguidades, o que em parte explica que a Rússia foi enganado pela NATO cinco vezes sucessivas pelo modo como foram feitos os alargamentos paulatinos a leste daquela organização até ela chegar às suas fronteiras.
É verdade que a Rússia tem uma enorme base de dados sobre o comportamento das redes de inteligência anglo-saxónicas, da União Europeia e da Turquia, implicadas nos tentáculos das “revoluções coloridas” das “primaveras árabes” e dos seus sucedâneos de caos, de terrorismo e de desagregação, todavia a intensidade de desrespeito para com as classes trabalhadoras e as ideologias que com elas se identificam, vão acabar por levar os estados à desagregação, que já se evidencia na Ucrânia!
Por outro lado, situações como as actualmente verificadas no Cazaquistão estão latentes por todo o mundo e são poucos os que as conseguem detectar a ponto de melhor organizar capacidades de prevenção e resposta, incluindo as classes trabalhadoras apesar de sua sensibilidade!
A Federação Russa e todos os componentes da Organização do Tratado de Segurança Mútua, têm ainda muito que aprender, sobretudo com o bastião que é Cuba Revolucionária!
Esses estados estão muito mais à mercê dos desígnios do “hegemon” unipolar do que à primeira vista estão a fazer transparecer, tendo em conta as assimetrias semeadas e os desequilíbrios sociais de toda a ordem depois da implosão da URSS e o caminho de todos eles não pode ser mais o de ostracizar, marginalizar ou hostilizar o movimento comunista e socialista, antes abrir imediatamente mais espaço a eles e aos sindicatos que lhes são afins de forma a se poder melhor fortalecer esses estados e realizar capacidade preventiva que eles cada vez têm menos!
10 de Janeiro de 2022
Anexos relevantes para ler e estudar:
- Declaração do Movimento Socialista do Cazaquistão – https://pcb.org.br/portal2/28256/declaracao-do-movimento-socialista-do-cazaquistao/;
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“A voz dos trabalhadores do Cazaquistão deve ser ouvida, apesar dos provocadores!” – https://pcb.org.br/portal2/28275/a-voz-dos-trabalhadores-do-cazaquistao-deve-ser-ouvida-apesar-dos-provocadores/;
-
Statement by the Socialist Movement of Kazakhstan on the situation in the country – http://www.idcommunism.com/2022/01/statement-by-socialist-movement-of-kazakhstan-on-the-situation-in-the-country.html?m=1;
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Quem “perdeu” o Cazaquistão e para quem? – https://resistir.info/asia/cazaquistao_09jan22.html;
-
O que o Cazaquistão não é – https://resistir.info/asia/murray_07jan22.html;
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Estepe em chamas: revolução colorida no Cazaquistão – https://dossiersul.com.br/estepe-em-chamas-revolucao-colorida-no-cazaquistao-pepe-escobar/.
ANEXO
A 20 de Dezembro de 2003, o nº 376 do semanário “ACTUAL” de Luanda, publicou este texto de minha autoria, cuja memória remonta ao desmantelar do “cavalo de Tróia” que perfazia os restos da “revolução colorida” que levou a cabo, com o tandem Gorbatchov-Ieltsin, a “revolução colorida” que marcou a implosão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Desde então, esse tipo de armas nunca deixou de ser utilizado e no Sul Global ela ganhou corpo sob o rótulo de “primavera árabe”.
Na África Austral preconiza a política e as geoestratégias elitistas, correspondendo aos estímulos financeiros de, entre outros “filantropistas”, da casa Rothchield (Lorde Jacobus Rothschield foi membro da Open Russia Foundation)
Em Angola o choque neoliberal protagonizado por Savimbi (instrumento dos elitistas sob o signo de Rhodes) entre 1992 e 2002, assim como a terapia neoliberal que se desencadeou de 2002 para cá, abriram espaço para o tentáculo de ingerência que tem corpo na UNITA tirar partido da bomba humana semeada pela aglomeração de milhões de refugiados internos que hoje, em ano de eleições em Angola, são um potencial para uma “primavera no Trópico de Capricórnio” (a leitura correcta dos últimos acontecimentos).
A bomba humana nesses termos começou a ser instalada a partir de 1978 e, entre 1992 e 2002 ganhou um impulso maior ao sabor das ingerências neoliberais, que foram beber muito de inspiração ao “brotherbond” aqui na África Austral!
De facto, não tendo utilizado uma das 6 bombas atómicas que construíram em Pelindaba, desde 1978 que o “apartheid” fez tudo para Savimbi lançar a sua bomba humana: milícias, batalhões semi-regulares e por fim batalhões regulares, que semearam o terrorismo, o caos e a desagregação em todo o território angolano e integram a “primeira guerra mundial africana” por via da “guerra dos diamantes de sangue”!
O texto de 2003 que se referia à resposta de Putin ao “cavalo de Tróia” na Rússia, continua oportuno e pertinente com os olhos do sul, particularmente em países onde as sensibilidades à esquerda têm sido fustigadas, desarticuladas e votadas à marginalidade: aqui em Angola o “cavalo de Tróia” é a linha de conduta “savimbiesca” que ainda mina a UNITA instrumentalizada a partir do exterior com reflexos neste ano de eleições em Angola, mas a sociedade, sob os impactos do capitalismo neoliberal, tem de ser imediatamente cuidada em termos de lógica com sentido de vida!
A PETROLÍFERA “YUKOS” ENQUANTO UM FALÍVEL “CAVALO DE TRÓIA” .
Em simultâneo à jogada geo estratégica dos Americanos do “lobby” do petróleo, tirando partido da aristocracia financeira Mundial de que faz parte integrante, no Cáucaso não passou despercebida a situação de “volte face” do Presidente Russo Vladimir Putin em relação à quinta maior Empresa petrolífera do Mundo, a “Yukos”, que levou à prisão , a 25 de Outubro de 2003 do seu Director Executivo Mikhail Khodorkovsky, com várias acusações, entre elas as de fraude e fuga ao fisco.
A decisão que no entanto tem também carácter político, pois Mikhail Khodorkovsky apoia Partidos de oposição a Vladimir Putin que utilizam as bases de apoio externas do Poder Hegemónico e por dentro dos processos e interesses da aristocracia financeira Mundial, no quadro da “globalização” era um sinal de que o Presidente Russo procura parar a fragilização dos interesses Nacionais num sector vital para o seu País, fragilização essa que havia influenciado negativamente, segundo a visão geo estratégica do Estado da Rússia, na crítica Região do Cáucaso.
De facto, a 3 de Novembro de 2003 a “BBC” publicava o perfil de Mikhail Khodorkovsky, um magnata Russo do petróleo com uma riqueza estimada em 8 mil milhões de USD, apoiante dos Partidos “Yabloco” e o “União das Forças de Direita” (“SPS”), incluindo com apoios de carácter financeiro, qualquer deles de tendência liberal, que participaram nas eleições Russas de princípios deste mês, não fazendo alguma vez segredo disso.
A “BBC” referia também que o apoio financeiro fornecido àqueles Partidos por parte da Empresa petrolífera feria o seu papel na sociedade.
Por outro lado Vladimir Putin, que parece pautar as suas opções por uma visão multipolar do poder económico em contraste com as pretensões que a aristocracia financeira Mundial sustenta ao concentrar seus interesses num Poder Hegemónico unipolar, punha em guarda a elite muito estrita dos “novos” oligarcas Russos cujo papel é similar ao de “um cavalo de Tróia” ao serviço desses interesses, numa altura em que na Rússia, tal como na Geórgia, se aproximava a atmosfera das eleições.
A CNN foi dando imediatos sinais do desacordo das “elites globais” à decisão do Presidente Russo:
A 4 de Novembro de 2003 evidenciava que o senador John McCain considerava que “o Governo Russo sob as ordens de Vladimir Putin estava-se rapidamente a mover na direcção errada”, pois interpretava a prisão de Khodorkovsky como uma amostra do que “aos olhos do Kremlin havia o pior dos crimes – o apoio à oposição política do Presidente Putin e um centro de poder alternativo que era interpretado como uma ameaça ao controlo político supremo do Kremlin”.
O Senador John McCain concluía: “é tempo de enviar um sinal ao Governo do Presidente Putin, que uma atitude não democrática excluirá a Rússia da companhia das democracias Ocidentais”.
O Departamento de Estado, encetando contactos com os Russos, obtiveram a confirmação do ponto de vista Russo:
“É evidente que há um factor político aqui que se tornou no factor crítico, de acordo com o nosso ponto de vista e explica as razões da aplicação da lei efectivamente em relação a um oligarca e não em relação a qualquer outro, pelo menos por agora”.
Desse modo ficava implícito que Khodorkovsky, ao apoiar “actividades muito abertas e agressivas”, incluindo apoios a partidos políticos e a direcção duma fundação de apoio à democracia e à sociedade civil, representou “uma ameaça à autoridade do Estado”, apesar do Estado Russo pretender manter o quadro dos seus relacionamentos estratégicos com os Estados Unidos continuando a implementar uma economia de mercado e tendo em conta os “dossiers” mais quentes, entre eles os que se prendem com a evolução da situação no Cáucaso.
As acusações de fraude, fuga ao fisco e “lavagem de dinheiro” tornaram-se extensivas para além da “Yukos” sob a direcção de Mikhail Khodorkovsky, a Bancos como o “Menatep” (que foi por si fundado em 1987), conforme acompanhamento do caso por parte do “The Rússia Daily Journal” de 10 de Novembro de 2003 e com base em provas que estão a ser divulgadas até hoje, implicando idênticas acções no exterior, como na Suiça, no Luxemburgo, nas ilhas Virgens Britânicas, nas Seychelles, no Panamá e nas Bahamas, em benefício de Bancos como o “J. P. Morgan” Chase” o “Banco de Nova York”, o “Citibank”, o “Finter Bank”, o “Banque LEU”, o “Lombard Odier”, o “Danier” o “Ruegg SG”, ou o “Helenic Bank”, entre outros.
A 28 de Novembro o mesmo jornal noticiava que na Suiça fora feita uma “acusação de crime contra Mikhail Khodorkovsky, Platon Lebedev e Alexei Golubovich”, com base em “lavagem de dinheiro e apoio a organizações criminosas”, a partir de investigações levadas a cabo pela Polícia sobre Delegações na Suiça do “Menatep SA”, “Menatep Finances SA & Valmet” e “Banco LEU”.
Platon Lebedev já se encontra preso na Rússia desde Julho do corrente ano, sob a acusação de sonegar interesses do Estado durante a privatização levada a cabo em 1994, duma Empresa de fertilizantes, o que abriu caminho para a prisão de Milhail Khodorkovsky.
Ao Estado Russo por outro lado, tornou-se evidente que o papel de Mikhail Khodorkovsky era muito mais de que o dum Director Executivo duma Empresa estratégica com as dimensões da “Yukos”, até por que ele, não procurou evitar o choque com Vladimir Putin ao comprar o jornal “Moskovskiye Novosti” que colocou sob a direcção dum jornalista investigador que é crítico do Presidente.
De facto, parece ser com uma “Yukos” respondendo à geoestratégia do Poder Hegemónico, tendo ao comando um homem como Mikhail Khodorkovsky, que os interesses estratégicos no sentido da multipolarização do poder económico “global” ficavam em causa na Rússia (até por que a “Exxon Móbil” se preparava para comprar a “Yukos”), contrariando a estratégia do Presidente Vladimir Putin e fragilizando a estratégia Russa no Cáucaso, com a única vantagem de melhor se esclarecerem em rescaldo, os papeis e o sinal da aliança de James Baker, com George Soros, tendo como dinâmica os interesses do Poder Hegemónico em relação ao petróleo no Leste da Europa e no Cáucaso.
Desde que se registou a prisão de Mikhail Khodorkovsky e, com isso, se inviabilizou a compra da “Yukos” pela “Exxon Mobil”, que as suas cotações na Bolsa desceram 20 %, de acordo com uma apreciação da BBC a 12 de Novembro de 2003 (imagine-se quanto não terá deixado de ganhar George Soros através dos seus “negócios de especulação” pela via dos seus expeditos processos de ingerência).
A comprovar o papel de Mikhail Khodorkovsky como um homem completamente alinhado com os interesses da aristocracia financeira Mundial, (que é determinante na nova Revolução Capitalista, como o é do exercício do Poder Hegemónico Norte Americano), está também o facto de ele, à imagem, semelhança e inspiração de George Soros, que concebeu a “Open Society” para camuflar as suas jogadas de mega especulador (muito provavelmente também com derivas para algum dos casos do “Menatep”), fundou em nome da “Yukos” a “Open Rússia Foundation” em 2001, “uma Organização Internacional Independente e de caridade, operando como doadora privada” e “apoiando Instituições Académicas e as Organizações não lucrativas”.
A “Open Russia Foundation” é uma Organização que está a captar a fina flor dos cérebros Russos em todas as disciplinas de actividade, aparentemente com objectivos filantrópicos, o que pode ser uma perfeita “cortina” para se alcançarem outro tipo de fins, se levarmos em consideração o facto dos Países Desenvolvidos continuarem a atrair gente com capacidade e conhecimento para engrossar o caudal investigativo das indústrias de ponta, incluindo as tecnologias militares (e a Rússia nesse aspecto é bem reconhecida).
É sintomático que, para além de Milhail Khodorkovsky, o “board of trustees” da “Open Rússia Foundation”, seja formado por personalidades como Henry Kissinger, ou Lord Jacob Rothschild, este último o decano da poderosa família que gravita acima de George Soros, entre outros.
Parece não ter havido surpresa por parte das autoridades Russas quando George Soros, precisamente em entrevista ao “Moskovskiye Novosti” em princípios de Novembro de 2003, (entrevista citada pela “BBC” a 7 de Novembro de 2003), criticou a prisão de Mikhail Khodorkovsky:
“Está-se agora a entrar numa fase de capitalismo de Estado, em que todos os detentores de capital terão de ficar dependentes do Estado”…
… E parece não ter havido surpresa por que, de acordo com a “BBC” e o “The St. Petersburg Times” de 11 de Novembro de 2003, “homens vestidos de camuflado invadiram os escritórios da Open Society do bilionário George Soros, não deixando sair os seus funcionários e levando todo o equipamento e documentos num camião fechado, de acordo com um advogado da Instituição” (Pavel Kuzman).
Os referidos homens, mais de 50, teriam agido por conta e risco da Empresa proprietária do edifício, a “Sektor – 1”, que confiscava todo o recheio por causa de alegadas falhas de compromisso da “Open Society” em relação ao regime de aluguer e de compra acordados para o nº 8 Ozerkovskaya Naberetzhnaya, em pleno centro de Moscovo.
Se George Soros estava por dentro do “afastamento” de Eduard Chevardnadze pela via da “Revolução das Rosas”, saindo-se com ganhos e em ascensão nas eleições da Geórgia, as perdas pré eleitorais na Rússia, em oposição a Vladimir Putin, com “módulos” de actuação em tudo similares, foram aparentemente muito importantes, mesmo que não sejam apresentadas a público as estimativas financeiras.