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Con Obama III, del que viene el «hegemón»

COM OBAMA III, AO QUE VEM O “HEGEMON”.

O IMPÉRIO COLONIAL BRITÂNICO, QUE EM ÁFRICA TEVE EXPOENTE E GEOSTRATÉGIA EM CECIL JOHN RHODES, ANIMA AINDA A ESTEIRA DO DOMÍNIO DOS FALCÕES DO “ESTADO PROFUNDO”!

O “hegemon” mesmo com as doutrinas de Rumsfeld/Cebrowski e agora a rotulada de Joe Biden, (https://www.voltairenet.org/article212605.html) faz reaproveitamentos na esteira das culturas imperiais do colonialismo anglo-saxónico que advêm dum passado preenchido praticamente desde o início da Revolução Industrial.

Em relação a África, ultraperiférica e condenada a “eterna” fornecedora da matérias-primas e mão-de-obra barata (na verdade, em muitos lugares, “meio-escravizada”) as geoestratégias de Cecil John Rhodes constam nesse tipo de reaproveitamentos, que se evidenciam quando o Partido Democrata ganha as eleições e assume o poder, nos termos modernos sobretudo desde a administração de Bill Clinton, ele próprio um “Rhodes Scholarship” que chegou a ser Governador do único estado com diamantes no vasto território dos Estados Unidos, o Arkansas!…

Associando-se intimamente à exploração de minérios pelo miolo sul-norte do continente africano desde a formação da British South Africa Comopany, o dominante “lóbi” dos minerais tornou-se suporte do Partido Democrata, ganhando dimensionamento com as explorações minerais em função dos interesses dos Rockefeller, Rothschield e suas multinacionais, conjugadas com outras, a que o próprio Cecil John Rhodes deu origem ou inspirou desde a África do Sul: De Beers, Anglo-American, Lonrho…

Em pleno século XXI e na sua segunda década, o partido da guerre do hegemon” é o partido da guerra sem fim”! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/12/04/siglos-de-plomo/).

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La stratégie de Sécurité nationale du président Biden – par Thierry Meyssan – L’Administration Biden est pleine de bonne volonté, mais ignorante du monde tel qu’il est. Sous l’autorité d’un président sénile, elle se propose de restaurer la démocratie dans le monde, sans avoir conscience que les classes sociales qui ont fait ce régime politique sont en voie de disparition. Elle espère rétablir l’Empire américain, redouté par une majorité de peuples, avec la conviction de leur rendre service. Enfin, elle entend poursuivre la « guerre sans fin », mais sans sacrifier de vies de soldats US. Mais cela, elle ne sait pas l’expliquer – https://www.voltairenet.org/article212598.html

 

01– O “hegemon” foi duma forma ou de outra mas particularmente com a agilidade e funcionalidade das poderosas casas bancárias da aristocracia financeira mundial, ganhando em África incontornável espaço, (http://www.bilderberg.org/; https://isgp-studies.com/pim-fortuyn-assassination) não só na África do Sul, mas na enorme placa central que é a bacia vital do Congo, aproveitando o facto de ser o Rei Leopoldo II da Bélgica, o primeiro potentado a ficar com o bolo, sujeitando os autóctones à opressão e repressão numa tal escala que perfilhou um imenso e terrível genocídio de que o Congo jamais se recompôs…. (https://www.thenation.com/article/archive/americas-early-role-congo-tragedy/; https://www.hypeness.com.br/2020/06/rei-leopoldo-ii-responsavel-pela-morte-de-15-milhoes-na-africa-tambem-teve-estatua-removida-na-belgica/).

… Jamais se recompôs por que o domínio passou da opressão e repressão extremada para um caos colonial ou neocolonial contínuo, onde apenas nos poucos territórios meio-urbanizados e nos territórios onde se faziam as explorações minerais (onde as multinacionais estavam implantadas), estava garantida alguma segurança para a mão-de-obra colonizada, como se fossem malparadas ilhas num mar de miserável agitação e constante pressão, extensiva a imensos territórios rurais com comunidades de culturas sedentárias, ou em vias de o ser, instaladas cada vez mais em terras de baixa qualidade (as de boa qualidade eram ocupadas pelas entidades colonizadoras). (https://afreekasite.files.wordpress.com/2017/12/neocolonialismo-kwame-nkrumah-ilovepdf-compressed-1.pdf; https://www.congoforum.be/Upldocs/3%20Le%20Temps%20des%20H%C3%A9ritiers.compressed.pdf).

A bacia do Congo (https://www.worldwildlife.org/places/congo-basin; https://whc.unesco.org/en/conservation-congo-basin/) de há muito (antes da implantação das potências coloniais por via da Conferência de Berlim em finais do século XIX e da chegada das multinacionais mineiras) era alvo de pressão humana: em busca de segurança e espaço vital sucediam-se as migrações “compulsivas” (em busca de melhores condições de vida, de sobrevivência só possível com espaço garante de água e de vida) das regiões com culturas de nomadização, próprias dos maiores desertos quentes do globo (Sahara e Sahel), situados a norte. (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/07/memoria-cinco-dum-sempre-actual.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2018/12/mais-de-cem-anos-volvidos-ainda-o.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/08/fluxos-contemporaneos-de.html; https://isgp-studies.com/1001-club-of-the-wwf).

Com a instalação das multinacionais mineiras, o recrutamento de mão-de-obra interferiu na migração para dentro do Congo (que tinha rarefacção humana perante as novas necessidades), estendeu-se inclusive ao Ruanda, ao Burundi, à Zâmbia e a Angola, com padrões de saúde desumanos, próprios do colonialismo! (https://fr.wikipedia.org/wiki/Union_mini%C3%A8re_du_Haut_Katanga).

A Bélgica e o Luxemburgo foram plataformas para a aristocracia financeira mundial (enlaces Rothscield e Rockefeller), desde os Estados Unidos e por via de entidades como por exemplo, a Société Générale Belgique!… (https://fr.wikipedia.org/wiki/Soci%C3%A9t%C3%A9_g%C3%A9n%C3%A9rale_de_Belgique; https://plus.lesoir.be/278400/article/2020-02-07/un-empire-digne-de-rockfeller; http://www.bilderberg.org/bilder.htm#pepis).

Esse tipo de sociedades, com o cortejo de actividadesw a elas adstritas, penetraram na exploração e transporte de minérios em África (Congo, Zâmbia e África do Sul como principais alvos), em proveito de suas usinas nas metrópoles neocoloniais até aos nossos dias!… (https://www.societegenerale.lu/fr/societe-generale-luxembourg/communiques-presse-actualites/news-details/news/lance-fonds-deinvestissement-partenariat-avec-rockefeller-financial/; https://www.lesechos.fr/2008/06/la-societe-generale-entre-au-capital-de-rockefeller-511432).

Com a exploração mineira desenfreada, essa tendência para o “caos endémico” aumentou e estendeu-se de forma “informal”, anárquica, caótica, o que impôs ao Congo uma desestabilização contínua, “larvar”, que chegou aos nossos dias, quantas vezes com amplos recursos a mercenários, as modernas “private military companies” (https://etd.ohiolink.edu/apexprod/rws_etd/send_file/send?accession=miami1376054002&disposition=inline; https://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/rescaldos-dos-fantasmas-do-rei-leopoldo.html).

Essa tendência tornou-se mais gritante por todo o leste, em particular nos dois Kivus, quando com as novas revoluções tecnológicas, outras matérias-primas passaram a ser alvo de extracção mineral desenfreada e anárquica, quando a população flutuante, uma parte dela chegada de recente data, estava em vias de se instalar. (https://www.challenges.fr/entreprise/alliance-entre-la-societe-generale-et-rockefeller_372316; http://www.pole-institute.org/archive-poleInstitute/sites/default/files/regards15_eng.pdf; https://www.magd.cam.ac.uk/system/files/2020-08/the_political_economy_of_super-exploitation_in_congolese_mineral_mining_-_peter_peckard_prize_2020_-_owen_dowling.pdf).

Por essa razão, os Grandes Lagos tornaram-se num enorme vulcão humano e as porosas fronteiras, abarcando a República Democrática do Congo, a República Centro-Africana, o Sudão, o Sudão do Sul, o Uganda, o Ruanda, o Burundi e até a Tanzânia, adicionavam ainda mais instabilidade humana, com constantes fluxos de comunidades em deslocamento, quantas vezes fugindo desesperadamente às tensões, aos conflitos, às rebeliões e às guerras! (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/a-vulnerabilidade-cronica-e.html; https://reliefweb.int/report/democratic-republic-congo/coltan-and-conflict-drc; https://www.accord.org.za/conflict-trends/rebellion-conflict-minerals-north-kivu/).

 

02– O Embaixador que os Estados Unidos colocaram agora no posto em Angola, é um fruto de todo esse imenso cadinho histórico e antropológico que advém do passado colonial e neocolonial, tanto de feição e conveniência do “hegemon”. (https://frenteantiimperialista.org/blog/2021/02/05/reconversion-estrategica-del-imperio-de-la-hegemonia-unipolar/).

Em adição é necessário também não esquecer que foi a 19 de Maio de 1993 que os Estados Unidos, por via da administração democrata de Bill Clinton, acabou por reconhecer formalmente o estado angolano, formatado aliás desde os Acordos de Bicesse (31 de Maio de 1991) e assumido em novo formato a partir da inevitável Lusaka (Protocolo de Lusaka, de Novembro de 1994). (https://www.hrw.org/legacy/portuguese/reports/angopor/entirebook-02.htm).

Tulinabo Salama Mushingi é o primeiro Embaixador nascido em África, precisamente no Kivu do Sul, (https://www.sudkivu.cd/gouv/; https://en.wikipedia.org/wiki/South_Kivu) que tendo-se naturalizado estado-unidense foi colocado em postos diplomáticos representativos dos Estados Unidos no continente africano! (https://uviraonline.com/personnalite-dr-tulinabo-salama-mushingi-originaire-du-du-sud-kivu-et-ambassadeur-extraordinaire-et-plenipotentiaire-des-etats-unis-damerique-aupres-du-burkina-faso/; https://www.voaportugues.com/a/novo-embaixador-americano-em-angola-nasceu-em-%C3%A1frica-/5855556.html).

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Mushingi indicado embaixador dos Estados Unidos em Angola – O diplomata Tulinabo Salama Mushingi foi nomeado pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, embaixador em Angola e São Tomé e Príncipe, deixando o posto em Dakar e Bissau – https://jornaldeangola.ao/ao/noticias/mushingi-indicado-embaixador-dos-estados-unidos-em-angola

Migrando para os Estados Unidos, a sua trajectória indicia o seu próprio aproveitamento na direcção de África, numa altura em que tinha sido lançado, de fresca data, o Comando África do Pentágono, o AFRICOM, a quem ele está, como todos os outros Embaixadores dos Estados Unidos em África, conectado. (https://www.africom.mil/; https://isgp-studies.com/pilgrims-society-us-uk#rockefeller-cia).

Na biografia sucinta publicada pelo Jornal de Angola consta o seguinte:

“Segundo nota da Casa Branca, o sucessor de Nina Maria Fite em Angola é um veterano diplomata de carreira, com a categoria de conselheiro.

Antes do actual posto em Dakar e Bissau, Mushingi foi embaixador no Burkina Faso e chefe adjunto da Missão dos Estados Unidos em Addis Abeba, Etiópia.

Exerceu, também, funções de topo no Departamento de Estado e esteve colocado em representações diplomáticas norte-americanas em Dar-es-Salaam (Tanzânia), Casablanca (Marrocos), Moçambique e Malásia.
Doutorado pela Georgetown University, Mushingi é licenciado pela Howard University, além de graduado pelo Instituto Superior de Educação de Bukavu, República Democrática do Congo (RDC), seu país natal.

Segundo a nota da Casa Branca, além do inglês, como é óbvio, Tulinabo S. Mushingi fala fluentemente português, francês e swahili.
Depois de nomeados pelo Presidente, os diplomatas norte-americanos têm de ser confirmados no posto pelo Senado, depois de ouvidos em comissão.”
(https://jornaldeangola.ao/ao/noticias/mushingi-indicado-embaixador-dos-estados-unidos-em-angola/).

 

03– O “hegemon” (de facto o “estado profundo”) não hesita em mobilizar e recrutar meios humanos que comprovadamente sirvam seus interesses “no terreno”, não apenas “coligados” ou “parceiros” de contingência, algo de que o Partido Democrata (https://www.voltairenet.org/article210613.html) assente na representatividade do “lóbi” dos minerais é de há largas décadas exímio, não impedindo que as administrações republicanas aproveitem, dando continuidade á fluência dos implicados. (https://frenteantiimperialista.org/la-ultraperiferia-atrae-a-la-hegemonia-unipolar/; https://isgp-studies.com/isis-rise-under-obama-and-clinton).

Neste caso trata-se duma personalidade que só pode ser perita em áreas instáveis, ou sujeitas a desestabilização, algo que é cultivado até ao mais alto nível (caso da encubação de Barack Hussein Obama).

O arsenal de experiências africanas do Embaixador Tulinabo Salama Mushingi desde a sua raiz humana no Kivu do Sul, por si não é de menosprezar e o seu significado, tendo em conta as envolvências e a sua integração, deve ser alvo de atento acompanhamento e constante análise, tendo em conta a progressão dos agrupamentos rebeldes por toda a África e particularmente os impulsionados pelo jiadismo sunita/wahabita!

Tendo em conta a “experiência económica” e a implicação das elites do Partido Democrata em África, mas particularmente na RDC e nos Grandes Lagos, é evidente que a filtragem mental que ele traz para Angola está assente nessa base de compromissos, conhecimentos e comportamentos, que se interligam aos processos dominantes em curso na África Central e Austral, o que inclui fenómenos de “transversalidade” e os que indiciam divisão, desagregação e retalhe (regionalismo, tribalismo e etno-nacionalismos) numa não declarada mas cada vez mais evidentemente exposta Nova Conferência de Berlim que tem tudo a ver com as pretensões do domínio neocolonial (dividindo e dividindo, para melhor reinar)! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/02/a-persistencia-da-barbarie.html).

As implicações da exploração de minerais em Angola, particularmente a exploração anárquica senão caótica de diamantes aluviais na imensa região transfronteiriça do Cuango e do Cassai interligada à da bacia do Cuanza mais a sul (http://pagina–um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html), é determinante nas “transversalidades” sociais em curso que projectam sensibilidades sociopolíticas que tendem a marginalizar, senão a frontalmente contradizer, a actual Constituição angolana! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/06/seculos-de-solidao-i.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/seculos-de-solidao-ii.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/seculos-de-solidao-iii.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/seculos-de-solidao-iv.html).

O “fenómeno” exposto em Cafunfo demonstra-o! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2021/02/18/la-mano-de-obra-savimbiesca-se-mueve-en-el-mpplt-resucitando-los-fantasmas-de-mobutu-y-del-mismo-savimbi/).

O manancial que o Embaixador Tulinabo Salama Mushingi vem encontrar é uma tentação para ele explorar a contento das divisões propícias às oportunidades do domínio!

 

04– Subsidiariamente a esse contencioso há áreas de estudo que devem ser melhor aprofundadas, até para que em Angola se possa perceber o que “coube na rifa” e entre elas realço:

Todas as peças estão a encaixar no que interessa a uma cade vez maior decisão pela neocolonização de África, a qualquer preço e “sem fronteiras” e o facto dos dirigentes africanos estarem a procurar a paz entre todos os contentores “no terreno” africano (apesar da experiência de Angola nesse sentido), continua a ser insuficiente para tirar África do subdesenvolvimento crónico a que tem sido remetida, na ultraperiferia económica global!

COM A DOUTRINA BIDEN A ESTABELECER CONDUTAS DE «GUERRA SEM FIM», O AFRICOM DEVE SER POSTO DE PARTE NO DIÁLOGO INTER AFRICANO, ASSIM COMO NAS RESPOSTAS QUE OS AFRICANOS DEVEM ENCONTRAR PARA A PAZ, QUE INCLUEM DESENVOLVIMENTO DE OUTRAS CAPACIDADES TÁTICAS OPERATIVAS, ABERTAS Á PREVENÇÃO, À DISSUASÃO E À SEGURANÇA VITAL COLECTIVA!…

Luanda, 19 de Abril de 2021.


Nota:

Os links contêm matérias de interesse informático, analítico e de estudo, pelo que recomendo aumentar, com base nessa disponibilidade, o caudal de conhecimentos.

O CONGO É UMA PREOCUPAÇÃO CENTRAL PATA TODA A ÁFRICA!

A nomeação do Embaixador dos Estados Unidos em Angola, tendo em conta as suas origens, suscita a memória do que a 3 de Abril de 2004 (há 17 anos) escrita no Semanário Actual nº 390 sob o título

“RUANDA – UM HOLOCAUSTO PARA NÃO SE ESQUECER”.

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Actual nº 390, de 3 de Abril de 2004 – Um holocausto para não se esquecer

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Actual nº 390, de 3 de Abril de 2004 – Um holocausto para não se esquecer

Faz a 6 de Abril de 2004, dez anos que o avião Mistère Falcon da Presidência do Ruanda foi abatido por um comando do “FPR”, à sua chegada, pelas 20H25 desse dia, hora local, ao Aeroporto de Kigali, o que causou a morte de todos os seus ocupantes, entre eles os Presidentes Juvenal Habyarimana, do Ruanda e Cyprien Ntaryamira, do Burundi.

De acordo com uma investigação realizada ao longo de mais de seis anos, o Juiz Francês Jean Louis Bruguière, que respondeu à queixa apresentada pela viúva do falecido co piloto de Nacionalidade Francesa do referido avião, assumiu publicamente essa conclusão, depois de reunir provas e depoimentos sobre esse terrível episódio e no seguimento de várias denúncias que a seu tempo foram sendo feitas por pessoas detentoras de algumas informações sobre o assunto e outras que analisaram a terrível sucessão de ocorrências em 1994, no Ruanda.

De facto, a situação crítica em que se encontrava na altura o Ruanda, apesar do Acordo de Arusha firmado a 4 de Agosto de 1993 entre as partes em guerra e interessadas no poder, precisava apenas duma fagulha como essa para fazer desencadear a explosão, o que deixa entender que o derrube do avião Presidencial foi propositado e decidido, mesmo com as nuvens de tempestade que um acto dessa natureza trazia para o próximo horizonte.

Qualquer uma dessas partes, o regime do Presidente General Juvenal Habyarimana e o Comando do “FPR” (“Frente Patriótica do Ruanda”) tendo à frente o actual Presidente do Ruanda, General Paul Kagame, podiam avaliar com bastante fundamento a situação e prever com muita precisão os resultados dos incitamentos étnicos radicais que se vinham praticando, ao mesmo tempo que os contendores se armavam, equipavam e se preparavam para uma confrontação final, tudo isso fruto de antecedentes em que se havia instalado a lógica do ódio e da guerra, praticamente desde a fermentação da Independência do pequeno País.

Qualquer dos lados, quando foi assinado o Acordo de Arusha, tinham bastos motivos para se mostrar confiantes; efectivamente, quer o regime, quer o “FPR”, correspondiam à lógica e à geoestratégia de duas Potências: o regime apoiando-se na França, sua mentora e retaguarda e o “FPR” apoiando-se nos Estados Unidos, cuja actividade tão bons resultados trouxe às mudanças de regime no Uganda, com a ascensão do Presidente Yoweri Museveni ao poder.

Tinha acabado a Guerra Fria, as contradições entre o campo capitalista e o campo socialista deixaram-se de colocar à escala Global e, por reflexo, também em África, mas quer a França quer os Estados Unidos tinham razões próprias para alimentar de forma divergente, no início da época da Globalização as suas geoestratégias no Continente.

A França ainda não havia abandonado a política do “pré carré” e a ideia do espaço francófone era uma motivação ideológica – política que determinava a resistência às pressões anglófonas, particularmente estimuladas pela articulação Estados Unidos – Grã-Bretanha, evidentemente com os sentidos despertos em relação às riquezas naturais.

Os Estados Unidos, de certo modo herdeiros pela via dos comuns interesses financeiros do Império Britânico que teve o seu apogeu por alturas da Revolução Industrial nos finais do século XIX e princípios do século XX, estavam à beira de se tornar na Potência Hegemónica e a contínua expansão da sua economia, implicando numa nova Revolução Científica e Tecnológica, determinava, entre outros fundamentos da sua política externa, a prioridade no acesso às riquezas naturais, de forma a incorporar alguns materiais que só agora são utilizáveis, como recurso para as suas recicladas indústrias, mesmo que para tal tivesse que vencer resistências históricas.

O regime de Mobutu, no então Zaire, dava sinais de completo colapso, em relação ao projecto para que havia sido criado e, se a França tinha motivos para ainda o apoiar, em função da sua geoestratégia, os Estados Unidos, tinham motivos para o derrubar, pois Mobutu havia esgotado todas as suas possibilidades e os novos desafios que se colocavam, inclusive nos interesses relativamente ao acesso às riquezas naturais, impulsionavam os Estados Unidos para uma alteração substancial dos cenários políticos e económicos em toda a África Central, bastando para o efeito e entre outras opções, explorar os dinamismos emergentes nos Grandes Lagos, ou seja, o “eixo” Yoweri Museveni – Paul Kagame, até por que parte substancial do “alvo” , estava no Leste do Zaire , no “suculento” Kivu.

Partindo de geoestratégias e concepções distintas, as Potências como a França e os Estados Unidos interessadas na África Central e nas suas riquezas naturais, alinharam cada qual com os seus pares e não se cansaram de estimular as suas actividades, pelo que a refrega intensificou-se nos Países dos Grandes Lagos, com os olhos postos na parte mais apetitosa do Continente: o Leste do Congo.

Esse facto funcionou como estimulante ao discurso dos dois lados da barricada e ao tipo de mensagens que passou a ser emitido, apesar do Acordo de Arusha.

De forma grosseira a política da Administração Democrata de Bill Clinton tornou-se tão Tutsi quanto bastasse e a política da célula Africana do Eliseu, onde pontificava o filho do Presidente François Mitterrand, tão Hutu quanto o que se achasse necessário e ninguém teve o cuidado e a cabeça fria para evitar a deriva étnica e a enorme irresponsabilidade ética, cívica e moral que isso acarretou.

Desse modo, as implicações sobre os terríveis acontecimentos no Ruanda põem em causa não só os actores locais que produziram o cenário do holocausto, mas também a geoestratégia das Potências em relação ao Continente, pelo que o conjunto da situação, para nós Africanos, merece ser estudada como um caso – padrão que nos incita a encontrar consciência, saber e força, no sentido de se tornar possível, aqui e agora, soluções inteligentes e solidárias para os problemas de cada Nação, de cada País, de cada Estado e de cada Região, por maiores que eles sejam e por mais Subdesenvolvidos em que nos encontremos.

FIM.

 

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