Momento de cambio en el Medio Oriente ampliado
O Médio Oriente Alargado está a sul da região do Círculo Polar Ártico onde a Federação Russa está mais activa nas explorações de petróleo, gaz e outras riquezas minerais, assim como no delineamento da Rota Marítima do Norte, (Iamália Nenets) precisamente no lado oposto ao Afeganistão e Paquistão (AfPaq) e ao expansionismo turco no Médio Oriente Alargado, na enorme massa continental Euro-Asiática.
Todos os indicadores que emanam da evolução da situação no Médio Oriente Alargado nos atiram para a interpretação de que se está a viver um “momento de viragem”, que será ainda longo mas irreversível, em função das actividades que ocorrem no miolo continental, desde a costa setentrional do Ártico, à Ásia Central e às costas quentes do Índico (e seus braços do Golfo Pérsico e Mar Vermelho), Mar de Aral, Mar Cáspio, Mar Negro e Mediterrâneo Oriental.
A geoestratégia da progressão das Novas Rotas da Seda de leste para oeste, reforçadas agora com o impulso do “Regional Comprehensive Economic Partnership, RCEP”, vão sacudir ainda com mais vigor esse passo de transição decisivo!
Oleodutos, gasodutos, rodovias, ferrovias, rotas marítimas, nós comerciais e nós industriais progridem de tal forma que fazer comércio e não guerra é um processo cuja lógica é imparável apesar dos contraditórios que aqui e ali ocorrem!…
É evidente que em resultado da actividade proactiva é espectável a emanação de contraditórios reactivos, alguns deles formulados a partir de culturas tradicionais de resistência, susceptíveis de serem exploradas pelo império da hegemonia unipolar em função do colonialismo de então e dos radicalismos hoje possíveis de disseminar…
O império da hegemonia unipolar, com suas redes de influência “stay behind” de carácter “radical” não desiste dos projectos “coloridos” e “primaveris” que desembocam na disseminação, de terrorismo, de caos, ou de desagregação!
O império está a ser confrontado com isso de forma disjuntiva: ou alinha com a emergência diluindo os seus interesses de forma “emparceirada”, ou está-se autocondenando e aos seus vassalos, coligados e directos parceiros, no pântano do terrorismo, do caos e da desagregação que tem vindo a semear desde o início da última década do século XX…
01– A retirada de tropas dos Estados Unidos da Síria, do Iraque e do Afeganistão não sendo uma questão pacífica, foi anunciada pela administração republicana de Donald Trump… (https://www.rtp.pt/noticias/mundo/iraquianos-exigem-retirada-das-tropas-dos-eua_v213096; https://www.rtp.pt/noticias/mundo/turquia-e-eua-em-braco-de-ferro-devido-a-questao-sirio-curda_n1121524; https://www.dw.com/pt-br/pent%C3%A1gono-anuncia-retirada-substancial-de-tropas-do-afeganist%C3%A3o/a-55640522; https://veja.abril.com.br/mundo/eua-anunciam-reducao-de-tropas-no-iraque-e-no-afeganistao/: https://www.voltairenet.org/article211848.html).
A administração democrata de “Obama III”, com Joe Biden, pode não só não dar continuidade ao que foi timidamente realizado, como também fazer voltar a saga dos impactos “transversais” no tão fluido tapete sociocultural do Médio Oriente Alargado, todo ele comprovadamente sensível e vulnerável a injectadas “correntes radicais” e tensões!… (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2020/12/10/biden-diz-que-buscara-acabar-com-as-guerras-eternas-dos-eua.htm).
O fluxo de armas produzidas pelo império é enorme, o que dá ideia do poder do “estado profundo”, pois alguns dos seus principais compradores, com a Arábia Saudita à cabeça, encontram-se na região e são eles, por via do wahabismo sunita, os principais impulsionadores das redes terroristas que se movem no caos e na desagregação, aliando-se agora aos velados circuitos de interesse e conveniência do sionismo. (https://www.amnistia.pt/comercio-global-armas-expansao-os-paises-fazerem-negocios-imprudentes-danosos/; https://oxfamilibrary.openrepository.com/bitstream/handle/10546/123935/bp-arms-without-borders-021006-es.pdf?sequence=10&isAllowed=y; https://www.sipri.org/).
De facto os Estados Unidos tendem a passar para terceiros o que antes chamava a si, nas mais variadas geometrias e intensidades, sem abandonar o lugar dominante onde se inscrevem seus tentáculos de inteligência e militares, com o Pentágono a envolver-se em múltiplas frentes e ramificações, de forma a tentar cobrir todo o globo! (https://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2004/12/19/pentagono-busca-expandir-seu-papel-na-inteligencia-dos-eua.jhtm; https://dod.defense.gov/; https://www.defense.gov/).
02– No Médio Oriente Alargado, “antecipando” a chegada ao poder do democrata Joe Biden, a Turquia enveredou por uma trilha neo-otomana, ao mesmo tempo pan-turca, “emergente” em paralelo às linhas de influência do wahabismo-sunita das monarquias arábicas, assumindo o mando dos Irmãos Muçulmanos num espectro cada vez mais alargado quando ele se “esvaía” em outros países árabes… (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/11/25/erdogan-adelanto-la-agenda-de-joe-biden/).
Os seus dispositivos sorveram parte das redes implicadas na Al Qaeda e no Estado Islâmico, reconfigurando-as e dando-lhes novas direcções, programas e objectivos, recebendo na Síria, por parte dos seus aliados da NATO, o rótulo prático de “rebeldes moderados”!… (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/11/24/el-colector-turco-expansion-emergencia-petroleo-y-gas/).
O expansionismo da saga turca está a coberto da NATO apesar das contradições internas dessa organização, numa linha distinta, com múltiplas e directas implicações na Síria, no Iraque e, em função dos embates entre o Azerbaijão e a Arménia em Nagorno Karabak (em aliança com o Azerbaijão). (https://fort-russ.com/2020/11/pan-turkism-and-its-impact-in-modern-geopolitics/).
A Turquia é um dos terceiros estados que conseguiram aproveitar o espaço vazio e o caos criado antes das retiradas, um recurso “de fronteira” num exercício aparentemente “in extremis” para o Pentágono e para a NATO!… (https://www.voltairenet.org/article211832.html).
O outro exemplo é Israel com outra configuração…
Tendo em conta a geoestratégia da Federação Russa e da China para o Médio Oriente Alargado e os inevitáveis pontos de contacto na Síria e imediatamente a sul do Cáucaso, a Turquia sob a égide do Irmão Muçulmano Erdogan, seu presidente, apresta-se a um “híbrido” de tal forma que se pode tornar num “experimento” face ao engodo das Novas Rotas da Seda e os mosaicos socioculturais que a integram ou se implicam, entre eles os mosaicos de espectro turco para dentro da Ásia Central. (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39976899; https://fort-russ.com/2020/11/what-can-russia-do-with-erdogan/).
Os reactores das Novas Rotas da Seda, estão agora a ser reforçados, pelo que a intensidade dos seus impactos apesar de tudo tende rapidamente a crescer!… (https://www.resistir.info/p_escobar/rcep_16nov20.html; https://www.resistir.info/p_escobar/limites_china_08out20.html; https://super.abril.com.br/sociedade/a-nova-rota-da-seda/).
Esse estado “híbrido” de “fronteira”, está também posto à prova no Mediterrâneo Oriental e no Magrebe, principalmente na Líbia, contornando a Grécia, Israel e o Egipto, mas aproximando-se da Tunísia, da Argélia, de Marrocos e da Itália! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/12/04/siglos-de-plomo/).
03- A recente confrontação em Nagorno Karabak demonstrou a efectividade e o poderio das alianças da Turquia (neste caso com o Azerbaijão), apesar dos impasses na Síria e na Líbia. (https://www.voltairenet.org/article211302.html).
O compasso da emergência só é mais acelerado ali onde as Novas Rotas da Seda enfrentam menos resistências socioculturais, o que se torna mais possível em áreas de fraca densidade populacional (caso do Cazaquistão). (https://astanatimes.com/2020/06/chinas-belt-and-road-initiative-kazakhstan-and-geopolitics/).
O Cazaquistão, além de estar sensivelmente a meio caminho entre a China e a Europa, está a meio caminho entre o Ártico e o Golfo Pérsico, imediatamente a sul da Sibéria; a sua capital, Astana (ou Nur Sultan), tornou-se num moderno expoente das Novas Rotas da Seda!… ((405) Astana in Bird’s Eye – YouTube; (405) One Day in Astana (Nur-Sultan) | Нур-Султан, Казахстан – YouTube; (405) Nur-Sultan Astana City Tour 2020 | The Capital of Kazakhstan – YouTube; (405) Kazakhstan/Almaty to Astana by Train (1291 km 14 hrs) Part 16 – YouTube; https://www.rome2rio.com/pt/s/Sirsa/Iam%C3%A1lia-Nen%C3%A9tsia).
A Turquia conforme comprova um oleoduto, está a consolidar a linha Baku (capital do Azerbaijão), Tbilissi (capital da Geórgia) Ceyhan (um dos portos turcos no Mediterrâneo Oriental). (https://www.silkroadstudies.org/resources/pdf/Monographs/2005_01_MONO_Starr-Cornell_BTC-Pipeline.pdf).
No espaço mais densamente povoado e com mais apertada malha político-administrativa (a sul do Cazaquistão), os mosaicos socioculturais perdem a definição dos limites uns dos outros e em alguns casos as contradições reactivas dificultam a progressão das linhas, as manobras do comércio e o entendimento recíproco… (https://www.countryaah.com/countries-in-central-asia/).
Os mais poderosos contudo tendem a encontrar reciprocidade de interesses, como acontece com as possibilidades do eixo entre a Turquia e o Irão… (https://port.pravda.ru/mundo/04-10-2020/51483-transcaucasia-0/).
À Federação Russa, bem a sul da costa do Ártico, interessam estados fortes, capazes de começar a atenuar o espectro do terrorismo wahabita-sunita, apêndice dos coligados arábicos dos Estados Unidos e por tabela do sionismo, capazes de potenciais alianças tirando partido de confluências geoestratégicas e a Turquia é um deles, pelo que o seu expansionismo neo-otomano e pan-turco tende a servir os desígnios das Novas Rotas da Seda. (https://fort-russ.com/2020/11/major-russia-could-soon-intervene-as-azeris-and-turks-start-settling-4000-terrorists-in-artsakh-karabakh/).
A sul do Cáucaso o alinhamento Azerbaijão – Geórgia – Turquia pode garantir a progressão de Novas Rotas da Seda mais a sul, complementando o êxito entre a China e o Paquistão (a leste do Afeganistão), o êxito na Ásia Central (onde se ramificam as influências pan turcas e neo-otomanas) e o relativo engajamento da Turquia e da Síria. (https://www.trt.net.tr/portuguese/turquia/2020/09/07/turquia-e-azerbaijao-dao-um-passo-colossal-para-colaboracao-entre-seus-meios-de-comunicacao-1486496; https://core.ac.uk/download/pdf/62708114.pdf).
Ciente que o comércio “ganha – ganha” é um relacionamento que só pode ser feito com paz, a Federação Russa, ao mesmo tempo que implementou o oleoduto e gasoduto Turco no Mar Negro, está à espera que o conflito de Nagorno Karabak se esbata, de forma a melhor acomodar a Turquia e suas alianças, assim como as capacidades energéticas no seu entorno! (https://www.trt.net.tr/portuguese/turquia/2020/12/18/erdogan-nao-ha-lugar-para-o-terrorismo-separatista-na-regiao-1547649; https://turkstream.info/project/).
04– As “revoluções coloridas” têm vindo a atingir o Cáucaso e a Ásia Central.
Primeiro foi a “revolução rosa” na Geórgia (2003/2004), depois foi a “revolução das tulipas” no Quirguistão (2005), por fim foi a “revolução de veludo” na Arménia (2018), precisamente nos estados-charneira alvos de compressões antigas que se esbatem até nossos dias. (https://paginaglobal.blogspot.com/2017/10/a-russia-padrao-duma-longa-e-penosa.html).
A “revolução colorida” na Arménia levou o país à derrota em Nagorn Karabak!… (https://www.resistir.info/europa/armenia_18nov20.html).
Pode abrir uma “caixa de pandora” ainda maior, pondo fim à própria Arménia!… (https://southfront.org/turquia-y-azerbaiyan-reclaman-erevan-y-suenan-con-capturar-todo-el-caucaso/).
Esse fenómeno intercalou-se com a eclosão de radicalismo islâmicos que afectou sobremodo o Cáucaso (Chechénia) e a própria Federação Russa, nos anos de 1994/1996), 1ª guerra e nos anos de 1999/2002, 2ª guerra. (https://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=92713¬icia=russia-acusa-rebeldes-do-caucaso-por-ataques-que-mataram-37-no-metro; https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2013/05/15/interna_mundo,366055/russia-expulsa-suposto-diplomata-norte-americano-suspeito-de-ser-espiao.shtml; https://pt.qaz.wiki/wiki/History_of_Chechnya),
A progressão proactiva das Novas Rotas da Seda a norte e centro da Euro-Ásia. vinculadas à emergência multipolar, tem pela frente esse tipo de contraditórios reactivos estimulados pelo império da hegemonia unipolar, evidentes sinais de desespero geoestratégico a sul, que não obstam a chegada dos circuitos transcontinentais à União Europeia (sobretudo à Itália e à Alemanha) e Reino Unido. (https://g1.globo.com/mundo/noticia/chega-a-china-o-primeiro-trem-direto-de-londres.ghtml; https://pt.euronews.com/2019/03/22/o-papel-de-trieste-na-nova-rota-da-seda).
O momento é de viragem e o tempo de maturação vai perfazer os próximos trinta anos, até meados do século XXI!
Luanda, 18 de Dezembro de 2020.