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Giro vertiginoso en el sur global. Martinho Júnior

GIRÂNDOLA ESTONTEANTE NO SUL GLOBAL.

O SUL GLOBAL NÃO PODE MAIS FICAR-SE POR UM “NIM”, NUM MOMENTO DISJUNTIVO!

A MUDANÇA DE PARADIGMA GLOBAL SENDO PARA ONTEM, VAI DESTAPANDO VÉUS!

A EMERGÊNCIA MULTILATERAL É O SUSTENTÁCULO DA PAZ GLOBAL POSSÍVEL, RESPEITADORA DA HUMANIDADE E DA MÃE TERRA, ASSIM COMO MOTIVADORA DE PROGRESSO E DA SEGURANÇA VITAL COMUM!

No Sul Global tem sido muito difícil a percepção de quanto a via do capitalismo neoliberal tem sido estimulada para garante do domínio elitista e exclusivista da hegemonia unipolar, nas suas pistas musculadas quanto nas pistas “soft power” (o que de facto tem dado corpo à IIIª Guerra Mundial não declarada mas persistente, que se arrasta desde o rebentamento das duas bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki, em Agosto de 1945)…

O Sul Global tem sido inibido no seu papel que deveria estar intimamente identificado com os interesses legítimos dos povos, grande parte deles ainda tolhidos pelo subdesenvolvimento crónico de séculos que se arrasta até nossos dias!

Essa questão é tão mais pertinente quanto, agora que somos mais de 7 mil milhões de seres, a humanidade consome em meio ano os recursos que a Mãe Terra consegue recompor em um ano, o que é agravado pelas abissais assimetrias que caracterizam o estado de torpor próprio do subdesenvolvimento!…

A lógica com sentido de vida, capaz de mobilizar a humanidade, é um desiderato que deveria ter surgido no preciso momento em que, com os resíduos feudais se foi impondo a Revolução Industrial, precisamente quando formalmente se pôs fim à escravatura, ainda que dando-lhe expressiva continuidade com a esteira colonial que em relação a África consumou a Conferência de Berlim, entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885!…

A subversão da lógica com sentido de vida é hoje ainda mais adversativa que antes, pelo que as experiências que conseguiram contrariar as tendências para a irracionalidade do homem, acabaram por ser escassas e sujeitas ao constante “diktat” da construção da hegemonia unipolar, quase sem remissão…

… EM ANGOLA É TAMBÉM ASSIM!…

Os impactos capitalistas neoliberais foram atiçados anglo-saxonicamente a partir das administrações de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher, dando sequência à experiência sangrenta do 11 de Setembro de 1973 no Chile, por que a raiz do seu sinal precisava de “persuasivamente” (ironia suprema), fazer sentir a mão que impunha a espada do império que se auto propunha à formatação consonante com o exercício da hegemonia unipolar que então já se adivinhava!

A saga da existência da República Popular de Angola proclamada com a independência a 11 de Novembro de 1975, foi contemporânea à incrementação desse sinal neoliberal desde a sua raiz com expressão no Chile, enquanto forma e método de poder do império apontado à hegemonia unipolar, que se havia de evidenciar desde o início da década de 80 do século XX, com os exercícios inaugurais e confluentes de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher nos primeiros dez anos!

O neoliberalismo perseguia em relação ao Sul Global, a passagem dos parâmetros coloniais aos parâmetros neocoloniais e não se compadecia, inclusive na transversalidade da formatação, com o que era popular, com o que era socialismo, com o que era unidade aberta à solidariedade, ao internacionalismo e à independência responsável dos povos dando possibilidades às potencialidades da democracia participativa e ao protagonismo progressista histórico capaz de dar melhor sequência à luta armada de libertação nacional e em África!

O rótulo de “comunismo” serviu aos desígnios da hegemonia unipolar que afastam os povos da premente necessidade de segurança vital comum global!

Por isso foi efémera a República Popular de Angola, mesmo que ela tivesse saído vitoriosa dos campos de batalha, enquanto prevaleceu a “trincheira firme da revolução em África”, algo que mesmo assim permitiu com imensos sacrifícios, a heroicidade coerente do fim do colonialismo e do “apartheid” na África Central e Austral!…

A formatação neoliberal impediu e impede que as experiências populares alargadas, consubstanciadas com a base socialista que então foi possível eivando a luta de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste contra o colonialismo e o “apartheid”, passassem do espectro do esforço armado que houvera de ser, para a paz que estamos com ela, um desiderato que ultrapassa em muito a bitola das actuais sensibilidades sociopolíticas contemporâneas em Angola, elas próprias filtradas transversalmente pelas interpretações afins motivadas pelas subtis ingerências e disputas aptas ao etno-nacionalismo e ao culto de clãs!…

Há demasiada carga étnica e religiosa no espectro sociopolítico e insuficiência de patriotismo com conteúdos pedagógico-ideológicos!

Mesmo assim o Programa Maior do MPLA tem tido expressão, ainda que os líderes evitem enunciá-lo, tal como evitam enunciar que ele foi concebido em termos apontados ao socialismo: de facto a revolução cultural que resulta dos esforços de décadas nos campos da energia e águas potenciam amplas transformações antropológicas e comportam potencialidades de largo espectro na luta contra o subdesenvolvimento crónico que advém do passado, contribuindo ao mesmo tempo para a manobra de largo espetro em prol da paz!

… CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO…

Quando os impactos capitalistas neoliberais confundem os povos, tentando separá-los de suas elites e procurando além de confundir, ou iludir, dividir e dividir, (ainda para melhor fazer reinar seus interesses e conveniências transversalmente tisnados de neocolonialismo), em Angola há uma linha de pensamento, de acção e de amor imaterial colectivo que se tornou inesgotável fonte de inspiração, recurso e fluência, até por que foi essa linha com a personagem de grandeza universal que foi e é António Agostinho Neto, a que proclamou com sua coerência de vanguarda, as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, a República Popular de Angola, o Partido do Trabalho e a Segurança do Estado que deu continuidade à animação da luta com fidelidade e fiabilidade!

Foi assim a identidade nacional em gestação a partir da luta armada popular de cada vez maior espectro, com espírito e carácter de vanguarda que havia e há que patriótica e humanamente respeitar, motivada e sustentada pela lógica com sentido de vida de que mais que qualquer outro carece o continente-berço da humanidade!

Têm sido muito poucos os que se manifestam dispostos a pagar a dívida ética e moral que continua a haver para com África e para com uma grande parte dos afrodescendentes espalhados pelo mundo, como por exemplo no caso exponencial do Haiti!

A maior parte olha para Angola em função de interesses e conveniências materiais e a hegemonia unipolar procura com espírito de competição e não com motivação de cooperação o relacionamento para com Angola, dando continuidade ao paternalismo dos que tardam em fazer a descolonização mental e económica!

Logo no início, a 27 de maio de 1977, houve o primeiro sinal visível da corrosão a que estava sujeita a República Popular de Angola num ambiente visceralmente vocacionado para o capitalismo neoliberal dum império que caminhava a passos largos para a hegemonia unipolar e se ela não soçobrou desde logo, foi por que a luta de toda a África contra o “apartheid”, apoiada pelos socialistas de todo o mundo que ainda resistiam à corrosão do império, lhe deu sopro progressista até ao colapso do “apartheid”!

Em meados da década de 80 deu-se outro sinal por dentro da Segurança do Estado, um sinal que em 5 anos anteciparia sem mais madura solução, o Acordo de Bicesse!

Os oficiais da Segurança do Estado então sacrificados pelas transformações em curso, nada têm a ver com “a queda dos Ps” e por isso eles, entre outras coisas, foram votados ao ostracismo que iria surgir em relação à própria comunidade de inteligência do país até 2017!

O juramento da geração desses oficiais foi feito em tempo do lançamento do embrião socialista que constituiu a base da orientação da República Popular de Angola e é com essa referência que esse ostracismo cresceu e se manifesta em muitos aspectos, concedendo-se espaço de manobra a esforços de inteligência de potências que espreitam as brechas, conforme comprova a continuidade da campanha fraccionista sob o rótulo do 27 de Maio até hoje!

Esqueceu-se de forma deliberada quanto António Agostinho Neto preservava a RPA, as FAPLA e o Partido do Trabalho, mesmo quando havia a possibilidade de paz, conforme se conseguiu a norte nos encontros com Mobutu (e apesar dos contenciosos histórico-antropológicos)…

Nesse exemplo dissolveram-se o Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA, dissolveu-se a manobra de transição que foi o Comité Militar Revolucionário de Angola (COMIRA), integraram-se efectivos e políticos da FNLA e possibilitou-se que a Frente Nacional de Libertação do Congo evoluísse para uma sensibilidade sociopolítica com o advento de Laurent Kabila…

A República Popular de Angola, as FAPLA e o MPLA – Partido do Trabalho foram preservados e motivados para a paz, com uma Segurança do Estado empenhada também nessa motivação a ponto de ser com ela possível encontrar soluções de inteligência nos relacionamentos com o então Zaíre e se dessem início à implantação de sensores de inteligência em busca de paz com o “apartheid”, que viriam a ser interrompidas abruptamente com o golpe do 27 de Maio de 1977.

… A subversão da hegemonia unipolar e seu espectro de larga torrente apontou então “para a queda dos Ps” que se viria a consumar formalmente a 31 de Maio de 1991 em Bicesse, no momento da derrocada duma parte substancial do progressismo com motivação socialista!

A paz foi feita com “a queda dos Ps”, ao contrário da cultura inicial integradora conseguida com António Agostinho Neto, algo que reflectiu os impactos neoliberais em Angola!

Se Savimbi, “freedom fighter” da era Reagan, proclamou aos quatro ventos a “queda dos Ps” de forma a conduzir-se para a eclosão do choque neoliberal, a outra assinatura angolana de Bicesse inclinou-se para a terapia neoliberal, tudo sob a compulsão dum modelo de democracia representativa multipartidária que despontou então filtrada por transversais crises de identidade!

O fim dos “Ps” assemelhou-se, quer se queira quer não, a um golpe às mais legítimas aspirações na pureza da independência e da soberania de Angola e do estado angolano proclamado a 11 de Novembro de 1975 em identidade com o povo angolano, por que em terapia se tornou possível a transversalidade de inspiração neocolonial, tal qual medrou a corrupção que acompanhou a implantação de bancos com capitais oriundos particularmente de Portugal, integrados nos esforços alargados de inteligência “explorando o êxito” de Bicesse…

A paz implicou alterações profundas que inibiram a inspiração socialista que, saindo vitoriosa enquanto houve conflito se esvaiu na via do “socialismo democrático” até desaparecer por completo enquanto sensibilidade sociopolítica e pedagógica!

Deixou também de se fazer a leitura, em consonância com a identidade com o povo angolano, das assimetrias que cresceram exponencialmente com o choque neoliberal, contribuindo para a formatação moderna do subdesenvolvimento aproveitado pelo “soft power” da hegemonia unipolar, a bomba humana colocada em marcha por Savimbi, por que ao “apartheid” foi negada a oportunidade do uso da bomba nuclear sobre Luanda, ou sobre as frentes de combate!…

Com a evidência dos resultados eleitorais de 2022, as sensibilidades sociopolíticas só terão pernas para andar se houver, como “um só povo uma só nação”, vigor e identidade do topo à base e da base ao topo, acabando com a tendência retrógrada da formação de clãs de ocasião ao invés de mobilizar a juventude e todo o povo angolano, aproveitando a força da revolução cultural emanada desde o Programa Maior do MPLA, cujo enunciado jamais deveria ter sido escondido, honrando explicitamente o passado e a nossa história!

… As múltiplas expressões públicas evocando António Agostinho Neto estão aí, não por mero acaso, por ocasião da comemoração do 100º aniversário do seu nascimento, por que é seu pensamento e a sua obra que hoje faz ainda a grande diferença, ao se identificar com todo o povo angolano e com a identidade patriótica que não se pode pôr a vegetar, ou a reboque duma qualquer mentalidade etno-nacionalista ou clanica, ou dum processo oportunista de inteligência de tendência neocolonial que sobre Angola esteja a ser ventilado de fora!…

MUDANÇA DE PARADIGMA.

A lógica com sentido de vida que a irracionalidade humana tem desprezado ou mesmo colocado de parte ao longo de séculos, determina a mudança de paradigma na profundidade antropológica e histórica do termo dimensionando a cooperação económica saudável e progressista, algo que tem intimamente também a ver com o pensamento, a obra e o devotado amor imaterial de António Agostinho Neto, com a identidade nacional então protagonizada que urge revitalizar sem medo dos conteúdos socialistas aferidos ao mérito e às aptidões com identidade angolana, assim como com a emergência multilateral que urge, pondo fim ao que se prende à perversidade emanada pelo exercício da hegemonia unipolar, causa fundamental da insegurança comum global!

No berço da humanidade é urgente que antropologicamente se reconheça a dialética entre os grandes desertos e as regiões tropicais férteis de água, por que a lógica com sentido de vida precisa urgentemente de equacionar os parâmetros racionais de desenvolvimento sustentável que bebam de capacidades científicas por respeito para com toda a humanidade e para com a Mãe Terra, cada vez mais exaurida de sua pujança natural.

Os conteúdos dessa dialética não deverão ser mais utilizados por práticas subversivas fundamentalistas (religiosas ou étnicas, ainda que sejam residuais), que acabam por provocar ainda mais assimetrias, tensões ou mesmo conflitos, algo que se associa à contenção artificiosa da luta contra o subdesenvolvimento num quadro multilateral de grande espectro, de dinamismo e de paz!

A sociedade deve ser tratada só como uma única, o que se reflecte numa fasquia cívico-militar patriótica que se enquadra com a força duma paz mobilizadora, sobretudo da juventude, face aos desafios contemporâneos, entre eles a premente necessidade de segurança vital comum em relação à água interior do continente (e de Angola) e de educação de todos os povos, do povo angolano, reinventando a alfabetização em massa em todo o espaço nacional.

Os instrumentos do poder de estado, entre eles as forças armadas, os organismos do interior e os serviços de informação e segurança, têm um enorme papel no âmbito da paz, que urge reequacionar e dinamizar, até por que esses organismos são constituídos por uma maioria jovem com potencialidades e aspirações que carecem de melhor orientação, vocacionada para o desenvolvimento sustentável progressista!

A ruptura protagonizada pelo génio de António Agostinho Neto (em relação ao colonialismo, ao neocolonialismo e ao imperialismo), não é algo automático e em muitos aspectos carece ser melhor equacionada no espaço e no tempo, também por que urge revitalizar o pensamento e a acção de vanguarda identificada com todo o povo angolano e os povos africanos que continuam a aspirar ao equilíbrio de toda a humanidade e ao respeito para com a Mãe Terra!

É premente revitalizar uma cultura patriótica de segurança nacional que se identifique com a segurança vital comum!

Círculo 4F, Martinho Júnior, 16 de Setembro de 2022.

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Imagem: Arquivo fotográfico sobre o Mausoléu Dr. António Agostinho Neto – 18 de Maio de 2018.

Alguns textos a rever:

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