Nueva onda de choque por parte de la barbarie. Martinho Júnior
NOVA ONDA DE CHOQUE POR PARTE DA BARBÁRIE.
A humanidade tarda em atingir a civilização por que a barbárie feudal, embora motivada pelo exacerbamento capitalista característico da aristocracia financeira mundial parida desde as velhas casas bancárias “de família” na Europa, não esconde suas “congénitas” cargas ancestrais, até pelos processos sectários e exclusivistas de vassalagem que a hegemonia unipolar desencadeia!
01- A IIIª Guerra Mundial que de facto está em curso desde o lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, a 6 e 9 de Agosto de 1945 respectivamente, já com o Japão Imperial derrotado na IIª Guerra Mundial, nunca foi declarada por exclusivo interesse dos enredos dominantes, quer enquanto subsistiu o império no século XX, quer enquanto se propagou a hegemonia unipolar neste século XXI, a mesma substância em épocas que são sequentes…
A rendição do Japão Imperial foi a 2 de Setembro de 1945, o que não impediu que a corrida pelo domínio global já estivesse em vigor, pelo que as bombas atómicas lançadas sobre as duas cidades japonesas, foram sem dúvida “um aviso à concorrência”, especialmente dirigido, naquela altura, à União Soviética, vencedora principal em relação ao nazismo protagonizado pelo IIIª Reich alemão, na Europa, no outro extremo do imenso continente Eurasiático.
No século XX até “adocicaram” esses enredos que são constantes e persistentes práticas de conspiração, com o chavão “Guerra Fria”, como se as agressões, conflitos e guerras em livre curso por todo o Sul Global, fossem dum “outro mundo” e não uma sangrenta e continuada “cosa nostra”…
A perfídia anglo-saxónica é o essencial eixo desses enredos, moldando filosofias, doutrinas, ideologias e medias comunicacionais “de referência”: para quem deixou de ter um império colonial que era por si administrado sob sua própria bandeira, impossível de suster por causa dos gastos financeiros e dos avassaladores recursos humanos mobilizados para a sua exequibilidade, a aristocracia financeira mundial transatlântica (antes de serem casas financeiras nos Estados Unidos foram casas financeiras na Europa) detinha a solução…
O domínio podia ser exercido portanto de outra maneira, por via da economia, das finanças e dum “soft power” cultural capaz de moldar as elites de todas as nações e estados por todo esse Sul Global, tornando-as apêndices, ou mesmo vassalas, ainda que à custa do sacrifício da sua enorme massa de povos.
De facto o que interessava eram as riquezas (matérias-primas e mão-de-obra barata sobretudo) e para chegar a elas pouco importavam as cadeias tentaculares que se tinham de distender, por que elas até fariam parte das redes “stay behind” desenvolvidas desde vários pontos do próprio sistema de poder dominante, à escala global, em muitos dos casos subtilmente conectadas às mais de 800 bases militares “ultramarinas” implantadas pelo Pentágono.
Assim como a IIIª Guerra Mundial nunca foi deliberadamente declarada pelo exercício do poder dominante, foram sempre os povos do Sul Global que sentiram os efeitos desse domínio, que comportou também sempre o sinal “soft power” eminentemente anglo-saxónico a condizer!
02– Os recursos materiais à escala global, estão a minguar em função do apetite capitalista das oligarquias e elites implicadas nos processos de domínio inerentes à hegemonia unipolar motivada pela aristocracia financeira transatlântica, capaz até de moldar organizações a condizer como a Organização do Tratado do Atlântico Norte por ela modelada e instrumentalizada, rede “stay behind” atrás de rede “stay behind”.
A avidez capitalista consome já em menos de meio ano, o que a Mãe Terra pode recuperar por via da sua natureza durante um ano, o que torna insustentável o nível da procura, por que desequilibra a própria natureza do planeta.
Essa é a essência da IIIª Guerra Mundial, pois já era essência na Iª e IIª Guerras Mundiais, agora tanto pior por que as potencialidades energéticas estão cada vez mais fora da esquadria económica e financeira dominante anglo-saxónica, a esquadria das velhas casas bancárias transatlânticas!
Recursos como o petróleo, o gás e a própria água (ali onde ela é, no interior dos continentes, fonte potencial geradora de energia hidroeléctrica), tornaram-se extremamente sensíveis no âmbito das potenciais tensões e disputas, até por que os estudos têm apontado que, quando minguarem a caminho de se esgotarem, a vida humana na Mãe Terra terá amplas transformações para toda a humanidade, com variantes que só agora começam a despontar nos horizontes contemporâneos!
A IIIª Guerra Mundial não declarada do “hegemon” unipolar contra o Sul Global foi e é, tal como as anteriores, um conflito aberto pela busca de acesso e posse das riquezas naturais e recursos humanos de baixo custo, onde quer que seja onde se encontrem na escala planetária, todavia a escassez de recursos acaba por começar a sacrificar a própria Europa “amarrada curto” ao poder dominante!…
A Europa nesses termos arrisca-se, à medida que suas oligarquias se vão tornando neonazis face à escassez, a ser uma vez mais o teatro principal de operações, se não acordar para a sua própria libertação!
A via de desenvolvimento sustentável encontrado pela República Popular da China, quando começou a burilar um estado, dois sistemas, é por si um compêndio exemplar, nos 70 anos que está em progressivo vigor, de como os povos do Sul podem evoluir de suas fraquezas para o patamar da multiculturalidade e da multilateralidade, tirando partido da sua própria filigrana cultural, em alguns casos milenar!
03- Os estados ricos em multiculturalidade passaram também assim a ser disputados, em especial se estiverem longe das ultraperiferias económicas e financeira, por que nessa situação, elites de baixo custo têm bastado “para as encomendas” dominantes (conforme acontece por exemplo com a “FrançAfrique” na África do Oeste e no Sahel, do Senegal à Somália, passando por toda a bacia do Nilo, o mais extenso rio do planeta)…
Para a hegemonia unipolar, sendo uma relativa dificuldade, a solução para todos esses estados ultraperiféricos ou não, é implantar elites capazes de interpretações religiosas ou étnicas fomentadoras de exclusão e com capacidades de repressão!
Assim a expressão físico-geográfica do Sul Global chegou à própria Europa com uma tensão essencial: a unipolaridade versus multilateralidade, a exclusão versus integração, a barbárie feudal versus a civilização garante de mais diálogo, de mais democracia e de condições mínimas fomentadoras de paz!
A “defesa da Europa” por via da cultura anglo-saxónica implantada na essência da NATO previu esse clímax e por isso desde 1991, a pretexto duma Alemanha unificada, do fim do Pacto de Varsóvia e da implosão artificiosa da União Soviética, tratou-se da sua extensão na direcção leste, de forma velada ou aberta, ainda que houvesse falha de compromisso para com um mais-que-iludido Gorbatchov que marcou “a transição” no início da compulsão neoliberal!…
A natureza de exclusão, única forma de garantir também a exclusão das resistências, apossou-se da própria NATO que adoptou essa opção conforme as ementas de conveniência e exemplos sobre isso são vários: a Chéquia separou-se da Eslováquia, o Kosovo foi deliberadamente separado da Sérvia no seguimento da desagregação da Jugoslávia…
Uma vez que com a entrada de Putin no poder da Federação Russa, todo esse figurino foi sendo estudado e balanceado, desde o que se passou com o regime neoliberal de Yeltsin, até aos casos dos Balcãs e do Cáucaso, a própria Rússia começou a dirimir muitos assuntos de suas fronteiras na base do “estreitamento de vias” étnico-religiosas e culturais, embora conseguisse manter a sua ampla riqueza multicultural em toda a extensão do seu enorme território transcontinental, mantendo viva a Grande Guerra Pátria e muitos ensinamentos recolhidos a partir do comunismo levado a cabo durante a União Soviética.
O imenso espaço físico-geográfico da Federação Russa, que regurgita de recursos mas é pouco povoado, desenha-se assim como um desafio para as insaciáveis ambições da hegemonia unipolar, que dados os contenciosos históricos e antropológicos que advêm desde o tempo dos czares pretendem a desagregação, enfraquecendo-a, fraccionando-a, dividindo-a, para por fim melhor poderem reinar!
A natureza do actual processo da Europa em toda a extensão de seus sensores e actividades, com acutilância maior na Ucrânia, está a ser clímax no expediente da IIIª Guerra Mundial que é também, não pode deixar de ser, um processo multicultural!
A substituição do euro e do dólar pelo rublo nos pagamentos dos negócios com a Rússia é, já por si, um ónus “boomerang” no sentido inverso das sanções impostas pela hegemonia unipolar contra a Rússia, algo que não apanha de surpresa o modelo económico e sociopolítico do imenso país-alvo, mas apanha de surpresa uma União Europeia nutrida de alienação!
De facto o princípio um estado, dois sistemas, passou a ser também a orientação da Federação Russa, quer a nível interno quer nos relacionamentos na Eurásia e a sua capacidade possui imensos “amortecedores” para fazer frente a quaisquer factores de desestabilização oriundos do exterior, com uma vantagem: na China e na Rússia programa-se a longo e muito longos prazos, enquanto no capitalismo neoliberal da hegemonia unipolar, pensa-se e age-se para cada instante e em função de cada instante!
04- O continente africano, ultraperiférico em relação à hegemonia unipolar mas suculento nos termos de suas matérias-primas e mão-de-obra barata disponíveis, tem sido filtrado até uma quase exaustão, por via de caos, terrorismo e desagregação inerentes à doutrina Rumsfeld/Cebrowski adoptada pelos seguidores de Leo Straus no fulcro do poder nos Estados Unidos desde o início do século XXI, mas ainda não sentiu em toda a amplitude a actual nova onda de choque suscitada pelo clímax da Ucrânia enquanto tónica das abruptas clivagens contemporâneas entre hegemonia unipolar e o universo multilateral que se distende por todo o Sul Global
Angola mesmo assim foi um laboratório experimental antecessor ao actual quadro: a UNITA, rede “stay behind” da NATO actuando sob o signo de Cecil John Rhodes e instrumentalizada pela inteligência portuguesa desde a sua fundação e acomodação, naquela altura junto às nascentes do Lungué Bungo, foi utilizada pela hegemonia unipolar para o choque neoliberal e é um factor que contribui para a terapia neoliberal ainda em vigor!
Tudo o que foi feito por Savimbi na década de 1992/2002 no âmbito da “guerra dos diamantes de sangue” integrada na “Iª Guerra Mundial Africana”, foi uma experiência em laboratório que foi aproveitada para os conceitos das iniciativas dos últimos 20 anos, incluindo as subordinadas ao rótulo das “revoluções coloridas” e das “primaveras árabes”…
A última década do século XX foi vivida em Angola com tanta intensidade dolorosa que os primeiros contactos entre as oligarquias ucranianas fomentadoras dos neonazis seguidores de Stepan Bandera ao serviço dos “straussianos” que compõem o fulcro do poder da hegemonia unipolar por dentro da trilha do Partido Democrata, propiciaram a Savimbi uma parte das armas com pagamento em diamantes que se serviu para levar a cabo o choque neoliberal em Angola, inclusive por via da aquisição do “mítico” Uragan com que Savimbi pretendeu bombardear a cidade do Kuito sob cerco!
Equilibrando-se no arame da terapia neoliberal, o estado angolano continua a buscar passos na tentativa de gerir um quadro de paz com condimentos externos muito fortes, particularmente derivados da natureza da colonização quando o colonial-fascismo iniciou a “africanização da guerra” (segundo conceitos aplicados em conformidade com as redes “stay behind” da NATO, “Le Cercle” incluído e tirando partido dos “ensinamentos” do Exercício Alcora na África Austral)…
Se até às eleições a decorrer neste ano de 2022 o ambiente de relativa paz se vai manter, depois das eleições Angola pode desequilibrar-se sobre o arame, em grande parte por causa da nova onda de choque global levada a cabo pela barbárie, avessa a que algum dia se respeite desde logo a própria Carta das Nações Unidas a que, de forma não declarada e unilateral, os da hegemonia unipolar definitivamente renunciaram!
Círculo 4F, Martinho Júnior, 27 de Abril de 2022.
Imagem – Neocolonialismo na África e a Conferência de Berlim – Após a partilha da África na Conferência de Berlim, o neocolonialismo de nações europeias avançou por esse continente com o objetivo de explorar as possibilidades econômicas – https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/neocolonialismo-na-africa-e-a-conferencia-berlim.htm